Tombo na popularidade coloca Lula em risco para 2026

O “derretimento” da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apontado por pesquisas de diferentes institutos nos últimos dias, acendeu um alerta no governo sobre o futuro do PT para as eleições de 2026. Faltando menos de dois anos para a próxima disputa presidencial, o Palácio do Planalto pretende agora uma reação por meio de uma série de medidas com o intuito de tentar recuperar a competitividade do petista. 

O apoio de influenciadores petistas na divulgação de programas do governo, o projeto para isentar do pagamento de imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil por mês, distribuição de gás para a população de baixa renda e alguma “solução” para baixar os preços dos alimentos estão na pauta do Palácio do Planalto, que já está de olho no pleito presidencial do próximo ano.

Segundo a série histórica do Datafolha, o menor patamar de aprovação do governo Lula havia sido registrado entre outubro e novembro de 2005, quando a pesquisa registrou 28% de “ótimo ou bom”, no auge da crise do mensalão, durante seu primeiro mandato.

Além disso, outro levantamento divulgado no sábado (15), do instituto Ipec, mostrou que 62% dos eleitores responderam que o atual presidente Lula não deveria concorrer à reeleição em 2026. 

Questionados sobre o principal motivo para Lula não disputar a reeleição, a maioria dos entrevistados (36%) diz que ele não está fazendo um bom trabalho. Outros 20% alegam que o petista é “corrupto, ladrão ou desonesto”, e 17% citam a idade avançada do presidente. 

Na semana passada, o próprio Lula abordou a questão da sua idade e disse que vai precisar analisar o seu quadro de saúde até 2026. “Se eu tiver com 100% de saúde, com a energia que tenho hoje. Se eu tiver legal e achar que devo ser candidato, posso ser candidato, mas não é a minha prioridade agora. Quero governar 2025, eu quero andar esse país”, disse em entrevista à rádio Clube do Pará. 

Apesar dessa sinalização, dentro do PT a candidatura à reeleição de Lula é dada como certa e avaliação entre os aliados é de que o presidente precisa, desde já, entrar “no modo campanha”. Além de uma série de viagens pelo país, a receita desenhada pelo Palácio do Planalto envolve ainda a implementação de medidas que tenham relação direta com o consumo e a renda. 

Influenciadores petistas vão divulgar programas do governo 

Para tentar induzir o discurso nas redes sociais, uma das estratégias do ministro das Comunicações, Sidônio Palmeira, envolve reunir influenciadores alinhados ao governo para a divulgação dos programas de Lula. A primeira ofensiva vai ter como objetivo justamente disseminar a gratuidade de aproximadamente 40 medicamentos do programa Farmácia Popular. 

A ampliação da lista dos medicamentos distribuídos de forma gratuita foi anunciada na semana passada, e a expectativa é de que Lula grave conteúdos com os influenciadores para divulgação nas redes sociais. O mesmo modelo será testado em outros programas, como o Pé de Meia e a ampliação do Gás para Todos. 

“Estamos discutindo um projeto, já está quase tudo pronto… Para a gente entregar gás de graça para 22 milhões de famílias nesse país. Porque para nós, o gás faz parte da cesta básica. O gás sai da Petrobras por R$ 36, a Petrobras entrega o gás para essas distribuidoras a R$ 36. Ele chega aqui por R$ 150. Não é possível”, afirmou Lula.  

Paralelamente, o governo ainda busca uma solução para a alta no preço dos alimentos, um dos principais fatores da queda de popularidade de Lula, segundo as últimas pesquisas. Os resultados dos levantamentos ampliaram a pressão por parte dos integrantes do Planalto por uma solução rápida para essa crise. Apesar disso, assessores do Executivo admitem que essa “fórmula” ainda não foi desenhada pelos articuladores do governo. 

Desde o começo de fevereiro, Lula tem dado diversas declarações controvérsias a respeito do preço dos alimentos. O petista chegou, inclusive, a sugerir um “processo educacional” para que as pessoas optem por “similares” e não paguem por produtos mais caros. 

“Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado aí em Salvador e você desconfia que tal produto está caro, você não compra. Ora, se todo mundo tiver essa consciência e não comprar aquilo que ele acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar [o preço] para vender, porque se não vai estragar”, afirmou Lula. 

A fala rapidamente foi alvo de reações por parte da oposição. “Lula, que, na campanha, prometia farinha com uma picanha com gordurinha, depois apareceu com uma abóbora. De repente, só sobra para o povo brasileiro o ovo de galinha. Agora até o preço do ovo de galinha aumentou 40%”, comentou o deputado André Fernandes (PL-CE). 

De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o preço dos ovos de galinha apresentou alta de até 40% desde a segunda quinzena de janeiro.

Para tentar contornar a crise, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse estar muito confiante de que a safra desse ano será muito forte, por todos os relatos que têm ouvido do “pessoal do agro”. “E isso também vai ajudar”, declarou durante agenda no Planalto. 

Isenção do imposto de renda vira “bala de prata” para Lula 

Lançada ainda durante a campanha presidencial de 2022, a promessa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil virou a grande aposta do governo para tentar dar fôlego à reeleição de Lula. A avaliação entre os deputados e senadores petistas mais otimistas é de que essa proposta e o peso da máquina na campanha serão suficientes para garantir um novo mandato para o petista em 2026. 

“Se eles não gostam que o povo tenha dinheiro na mão, vão ficar com mais raiva de mim […] Nós vamos fazer agora entrar com um projeto de lei, e eu tenho certeza que vai ser aprovado, que quem ganha até cinco mil reais por mês não pagará mais Imposto de Renda nesse país”, disse Lula na semana passada durante visita ao Amapá. Como mostrou a Gazeta do Povo, o petista tem rodado o país para tentar ampliar a popularidade

Neste momento, o projeto está sendo desenhado pelo ministro Fernando Haddad, que precisa apresentar ao Congresso Nacional as formas de compensação para a ampliação da isenção. A avaliação dentro do governo é de que a proposta empareda a oposição, pois esses parlamentares teriam dificuldade de votar contra a medida.  

“Os programas sociais voltaram e é isso que incomoda a Oposição. Eles vão se incomodar. E, enquanto eles se incomodam, enquanto eles reclamam, vamos discutir isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil”, defendeu o deputado Rubens Pereira Jr. (PT-MA). 

Outra aposta dentro do governo para recuperar a popularidade de Lula tem como pano de fundo a isenção de impostos das carnes, ovos e pães. Esse benefício fiscal foi incluído na reforma tributária e passa a valer a partir de 2026.  

“Agora temos que virar esta página, cuidando dos problemas reais do nosso povo, especialmente do preço dos alimentos, como determinou o presidente Lula. Implantar o programa da distribuição de gás, a isenção do IR até R$ 5 mil e as novas linhas de crédito acessível para a população, que Lula já anunciou. Vamos virar o jogo, fazendo a disputa política com uma oposição que torce contra o Brasil, mostrando o que foi, o que está sendo e o que ainda vai ser feito”, defendeu a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), que é presidente do PT e está cotada para assumir a Secretaria-Geral da Presidência na reforma ministerial discutida por Lula.  

Queda na popularidade de Lula mobiliza oposição para o 16/3

A queda na popularidade do petista também mobiliza a oposição para os atos de 16 de março, que vão pedir o “Fora Lula” e a anista aos presos do 8 de janeiro de 2023.

O ex-presidente Jair Bolsonaro divulgou nesta segunda-feira (17) um vídeo convidando a população para o ato, que vai ocorrer em várias cidades do país. “Eu, Silas Malafaia e outras lideranças estaremos em Copacabana, Rio de Janeiro”, disse.

Além do ex-presidente, outros parlamentares também estão mobilizados para os atos de 16 de março. “Aprovação de Lula recua 15 pontos entre os mais pobres. 16/03 é o começo do fim desse governo”, escreveu o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) nas redes sociais.

O senador Flávio Bolsonaro também comentou sobre a queda de popularidade de Lula, criticou a alta dos preços dos alimentos e avaliou que o petista não deverá ser reeleito em 2026.

“Lula derreteu! Diante de inúmeras declarações desastrosas, política de governo irresponsável da disparada no preço dos alimentos, é impossível que esse cara ganhe até para síndico!”, postou o parlamentar no X.

Já o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) ironizou o resultado da pesquisa que apontou o tombo na avaliação do petista. “Lula com 24% de aprovação, segundo DataFolha. Achei muito alta”, comentou na mesma rede social.

Metodologia das pesquisas citadas 

A pesquisa Datafolha ouviu presencialmente 2.007 pessoas, de 16 anos ou mais, entre 10 e 11 de fevereiro. A margem de erro geral do levantamento é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. 

O Ipec entrevistou 2 mil pessoas em 131 municípios entre os dias 6 e 10 de fevereiro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança utilizado é de 95%. 

Fonte: Gazeta do Povo

Compartilhar esta notícia