O segmento imobiliário de multifamily — empreendimentos residenciais voltados exclusivamente para locação — vem crescendo em São Paulo, sobretudo pela adesão do público de alta renda. Mas, para ganhar escala, as empresas que atuam no negócio precisarão furar a bolha e convencer a classe média de que compensa mais alugar serviços do que comprar tijolo. Esse é o desafio de Vitor Costa, country manager da Greystar Brasil, subsidiária da gestora de ativos para renda norte-americana com mais de US$ 320 bilhões em imóveis sob gestão, em cerca de 250 mercados globais. Economista formado pela Unicamp, Costa chegou na companhia há dois anos com a missão de acelerar o “market share” no Brasil.
Qual o atual momento da Greystar no país?
Vitor Costa — A empresa desembarcou no Brasil em 2020, em uma joint venture estratégica com a Cyrela, a SKR e o fundo de pensão canadense CPPIB, para desenvolver um portfólio de sete empreendimentos. O Ayra Pinheiros, entregue em 2023, está com mais de 90% de ocupação. No fim de 2024, inauguramos a segunda torre, em Higienópolis. Neste ano, serão mais dois lançamentos, em Moema e Vila Madalena, e um terceiro, assinado pelo estúdio Pininfarina, será entregue em março.
Você está confiante no crescimento do modelo em São Paulo?
Eu costumo usar o Chile como exemplo. O segmento chegou lá em 2015 e, hoje, Santiago tem cerca de 170 prédios multifamily em operação. A capital paulista tem 30 projetos no segmento, mesmo tendo o dobro do número de habitantes e uma economia muito mais forte. Isso dá um pouco da noção das oportunidades desse mercado. É um segmento ainda recente, e estamos convictos do seu sucesso por aqui.
O que alimenta a demanda do multifamily pelo mundo?
São três forças de longo prazo: aceleração na taxa de urbanização dos países, gerando mais demanda por moradia nas cidades; crescimento demográfico mais lento, com mais pessoas solteiras ou casais sem filhos, que preferem apartamentos menores e com a oferta de mais serviços; e mudança no perfil de consumo, com a valorização da experiência em detrimento da posse e forte desejo pela flexibilidade de morar, que atenda à dinâmica da vida moderna.
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Os projetos desse formato no país atendem mais o público de alta renda. Há planos de furar essa bolha?
Nosso grande plano para 2025 é conquistar a classe média, que tem um potencial imenso para dar escala ao nosso negócio.
Estamos desenvolvendo o conceito do produto, conversando com investidores e parceiros locais e discutindo pacotes de serviços mais competitivos e tickets de locação menores, de R$ 3 mil. Para esse público, o preço tem uma importância maior. A ideia é começar explorando São Paulo e Rio. A oportunidade é enorme.
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Os prédios serão similares?
Não, é um outro tipo de produto, um novo padrão construtivo. Não vamos conseguir replicar as 30 opções de lazer dos empreendimentos de ticket mais alto. Basicamente, teremos menos áreas comuns, equipes operacionais menores e o uso de mais tecnologia para tarefas como controle de acesso e delivery. E, com certeza, vamos buscar terrenos fora dos bairros mais caros da cidade.
É uma categoria em que não há margem para erro: se o desenvolvimento do projeto ultrapassar o custo previsto, não será possível transferir essa diferença para o valor de locação, porque as pessoas não terão renda para pagar.
A tendência de alta das taxas de juros da economia brasileira deve empurrar cada vez mais a classe média para o aluguel. Como a Greystar avalia esse cenário?
Para o segmento multifamily, existe a análise de copo “meio cheio”, porque tudo isso vai gerar uma demanda extra de locação no país. Espera-se um ano positivo para a categoria de residenciais para renda.
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Como os americanos têm enxergado o ambiente de investimentos no país?
Os estrangeiros estão “on hold” com o Brasil: quanto maior a taxa de juros aqui, mais retorno eles exigem para entrar no negócio. Mas esse comportamento de entrar e sair do mercado brasileiro é cíclico. Explicamos para os investidores nos Estados Unidos, por exemplo, que haverá um déficit de moradia de qualidade daqui dois ou três anos. Então, a hora de entrar é agora.
O que impressiona é a volatilidade do cenário: há dois anos, esperávamos uma Selic de 8,5% a 9%. Agora, estamos com 13,25% e expectativa média é de chegar a 15% no final do ano. Mas nosso compromisso no Brasil é manter uma visão de longuíssimo prazo, assim como a dos nossos investidores. Claro que juro alto atrapalha, mas estamos olhando para daqui cinco anos, e as perspectivas são muito positivas.
Fonte: Valor