Em 2025, demanda doméstica deve desacelerar e setor externo voltará a ajudar o PIB, apontam economistas | Brasil

O setor externo deu contribuição negativa para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, mas em 2025 o desempenho da atividade agrícola, somado ao da área extrativa, principalmente de petróleo, deve fazer com que o efeito líquido entre exportações e importações volte ao campo positivo, apontam economistas. Ao mesmo tempo, avaliam, a demanda doméstica deve desacelerar bastante em relação ao forte desempenho em 2024.

O PIB de 2024 cresceu 3,4% em relação a 2023, segundo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para esse resultado, a demanda interna contribuiu com alta de 5,2 pontos percentuais (p.p) e o setor externo, com redução de 1,8 p.p.

O movimento foi diverso do de 2022 e 2023, períodos em que o setor externo ajudou o PIB a crescer, contribuindo com alta de 0,9 p.p. e 2,0 p.p. para expansão agregada do PIB de 3% e de 3,2%, sempre na mesma ordem. Em 2021 o setor externo teve contribuição negativa, de 1,5 p.p, para um PIB agregado que cresceu 4,8%.

Para Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o setor externo deve voltar a dar contribuição positiva para o PIB em 2025, com ajuda de 0,3 p.p., mas sem devolver tudo o que tirou de 2024.

“A contribuição positiva do setor externo em 2025 não irá compensar o efeito negativo de 2024, mas será uma contribuição importante.” Haverá contribuição positiva em volume, observa, mas talvez isso não se transforme em grande incremento de saldo na balança comercial, porque pode haver impacto de preços com a política do presidente americano, Donald Trump, e seus desdobramentos. “Do lado das importações deve haver queda, mas pequena, porque ela deu uma pancada no ano passado. Então, manter o crescimento em 2025, com essa base de comparação alta, naturalmente, é difícil.”

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que 2024 foi um ano fortemente carregado pela demanda doméstica. “Isso muda em 2025. Teremos uma demanda doméstica desacelerando bastante e o setor externo entrando em terreno positivo. Haverá uma reversão do que a gente viu acontecer ano passado.” O agro, diz ele, irá se contrapor à desaceleração da demanda interna e ajudar na expectativa de crescimento e também no setor externo.

Para Vale, o petróleo, na atividade extrativa, também pode ajudar o setor externo. Ele pondera, porém, que é preciso acompanhar tanto o efeito de preços da commodity quanto de câmbio. “É preciso acompanhar o cenário de desaceleração dos Estados Unidos e toda a solução que está caminhando para os conflitos envolvendo Rússia, Ucrânia e Oriente Médio. Há um cenário de preço mais comportado e eventualmente isso pode trazer um efeito na produção e exportação. Mas, de qualquer maneira, é um setor que continua crescendo bem.”

A produção de petróleo, lembra, frustrou as expectativas em 2024, com produção menor que a esperada, por várias questões operacionais, como paralisação de produção de plataformas colocadas para manutenção. “O petróleo parecia que ia ser um destaque dentro do PIB de 2024 e acabou não sendo. Aparentemente, se não houver nenhuma surpresa, o petróleo tende, junto com o agro, a ter destaque em 2025.”

Para o PIB agregado, Ribeiro, da BRCG, estima alta de 1,8% em 2025. Esse crescimento, porém, destaca, será puxado por componentes exógenos, não cíclicos. A agropecuária, diz ele, deve ter recuperação e alta de 5,5% em 2025, estima. “Os componentes mais ligados à política monetária e à percepção de bem-estar diminuirão bastante em 2025. O que teremos de entender no decorrer do ano é como a política de maneira geral irá reagir frente a uma desaceleração tão profunda no componente ligado ao bem-estar. Teremos que entender quais serão as ações que serão tomadas e seus impactos, tendo em vista o ciclo eleitoral de 2026, que começa no meio de 2025.”

Vale também espera que o agro puxe o PIB em 2025, com alta de 7%. “Deve ser a maior taxa de crescimento que teremos este ano. O resto, especialmente o consumo e investimento, devem desacelerar”, diz. Esses dois componentes, observa, apresentaram um princípio de desaceleração ao fim de 2024, num movimento que provavelmente vai continuar ao longo deste ano, diz.

“O que não tivemos no ano passado e que deve ter um efeito positivo, que já virá no dado do primeiro trimestre de 2025, será, provavelmente, o agro, que será o grande puxador do PIB neste ano. O consumo vai continuar entregando menos, desacelerando. A taxa de juros está subindo, temos a política fiscal que está com o processo inicial de desaceleração de crescimento, temos o cenário internacional complicado. A política de Trump, todo o impacto das idas e vindas tarifárias dele, traz muita repercussão em termos de incerteza. Esse conjunto não é muito favorável para crescimento.”

O PIB trimestral no decorrer de 2025, diz Vale, vai ser praticamente “uma escadinha, caindo trimestre a trimestre”. Deve começar com alta de 2,5% no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2024. No mesmo critério, deve chegar a 1% ao fim do ano, no quarto trimestre. O resultado, diz, será um crescimento de 1,8% para o PIB de 2025. “Ao fim deste ano estaremos com esse processo mais agressivo de impacto de juros, já terá passado o primeiro ano bastante tumultuado do governo Trump e estaremos mais próximos das eleições, que por si só serão um elemento de bastante tensão e preocupação.”

 — Foto: Pexels/Pixabay
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Fonte: Valor

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