Fundadora e produtora-executiva da Ginga Pictures, a brasileira foi uma das selecionadas da Forbes Under 30 pelo trabalho em 2024. Atualmente, com o sonho profissional realizado, segue com o objetivo de dar visibilidade aos artistas brasileiros e incentivar outras mulheres do ramo Foi com o objetivo de trazer mais visibilidade para o Brasil no mercado audiovisual que Mel Chapaval se mudou para os Estados Unidos aos 17 anos. Por lá, apesar do desafio de ser imigrante e começar a criar sua história sozinha e do zero, se estabeleceu na profissão e, hoje, é fundadora e produtora-executiva da Ginga Pictures – que, com sedes em Miami e São Paulo, começou os trabalhos em 2021.
Nome por trás do mais recente documentário de Anitta na Netflix, “Larissa, o Outro Lado de Anitta”, a empresa que fundou ao lado do produtor Felipe Britto conversa com o objetivo que Mel tem desde o começo de tudo: dar visibilidade aos artistas brasileiros criando uma ponte com outros continentes. Tem dado certo, como provam os projetos já realizados. “Já fizemos isso com a colaboração do Matuê com o Rich The Kid, que filmamos em LA, e trazendo artistas como os franceses Niska e Ninho para filmar no Brasil a música Coco, que foi o hit do verão europeu de 2024, e quero continuar ampliando essas conexões”, explica.
Com 16 projetos já em desenvolvimento para este ano, ainda há muito por vir. O sucesso da parceria com Anitta, que foi ainda maior do que esperava, reflete o interesse da produtora em focar em produções que passem verdade e criem conexão com o público. São eles sua preferência, como refletiu em papo exclusivo com a Glamour. “Adoro projetos que contam histórias reais e que têm um impacto forte, seja cultural, social ou emocional – como foi o documentário da Anitta. Eles permitem um aprofundamento muito maior e um relacionamento mais intenso com a equipe”.
Potência em um meio que ainda tem muita desigualdade de gênero, além de um nome no mercado global do entretenimento, Mel também incentiva que outras mulheres sigam seus sonhos e não tenham medo de conquistarem seu espaço na profissão, como ela fez. “A síndrome da impostora faz parte da jornada – em algum momento, você vai sentir que não pertence ou que não é boa o suficiente, mas o importante é não deixar isso te parar. Confie no seu talento, ocupe seu espaço e não tenha medo de assumir posições de liderança”, aconselha. A seguir, confira a entrevista completa:
Mel Chapaval
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1. O que você diria que te atraiu para o mundo do audiovisual?
Eu acho incrível como o audiovisual tem o poder de conectar as pessoas, emocionar, inspirar e até provocar mudanças. Mas, além disso, o que mais me encanta é como essa profissão nunca é monótona. Cada projeto nos joga em um universo completamente novo – um dia estou filmando no meio da Times Square, em Nova York, no outro, no Monte Everest, no Nepal. A gente visita lugares que talvez nunca fosse por conta própria, aprende sobre assuntos que nunca imaginaria estudar e se adapta a realidades completamente diferentes. Essa constante reinvenção, esse desafio de transformar qualquer cenário em uma história visual poderosa é o que me faz amar tanto o que faço.
2. Você se mudou para os Estados Unidos aos 17 anos para seguir essa carreira. Por que o país foi sua escolha? E qual o maior desafio nesse começo?
Sempre enxerguei os EUA como o maior polo da indústria do entretenimento. Sabia que, se quisesse crescer na área, precisava estar onde as oportunidades aconteciam. Mas, além disso, sempre tive um objetivo maior: trazer mais visibilidade para o Brasil e para o profissional brasileiro no mercado internacional. Eu queria não só aprender com os melhores, mas também criar pontes entre os dois países, mostrar que temos talento, estrutura e criatividade para estar lado a lado com as grandes produções globais.
Mel Chapaval
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O maior desafio foi começar do zero, sem conhecer ninguém e sem ter estrutura. Além disso, sendo imigrante, precisei lidar com um processo imigratório extremamente burocrático e exaustivo. O sistema nos EUA não facilita em nada a vida de quem vem de fora – são anos de incerteza, regras que mudam o tempo todo e uma constante sensação de que tudo pode desmoronar se algo sair do controle. Isso, somado ao fato de ter que me adaptar a uma nova cultura e provar meu valor sem uma rede de contatos, fez com que o caminho fosse ainda mais difícil. Mas, no fim, tudo isso me deu muita resiliência e me preparou para os desafios que viriam depois. E hoje, olhando para trás, vejo que essa vontade de abrir caminhos para outros brasileiros sempre esteve presente no que faço.
3. Como começou a parceria de vocês com a Anitta? E como tem sido trabalhar com uma das maiores estrelas do Brasil?
A Anitta já era cliente do Felipe Britto há muitos anos quando nos tornamos sócios, e isso coincidiu com a época da mudança dela para Miami. Então, comecei a trabalhar com ela nos Estados Unidos. Só depois de um tempo tive a oportunidade de trabalhar com ela no Brasil, quando viemos fazer um photoshoot para a capa do single Boys Don’t Cry – que já tínhamos filmado o clipe em LA. Desde então, fizemos dezenas de outros projetos em diversos países, incluindo o documentário Larissa: O Outro Lado de Anitta. Trabalhar com ela é intenso, mas muito gratificante. Ela tem uma visão muito clara do que quer, é extremamente estratégica e está sempre um passo a frente. Isso faz com que cada projeto tenha um nível de exigência altíssimo, o que nos desafia a sempre entregar o melhor.
Gravação de “Larissa, o Outro Lado de Anitta”
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4. Larissa, o Outro Lado de Anitta foi um grande sucesso – inclusive conquistando um lugar no top 10 de produções não faladas em inglês. Quando começou a produzir esse projeto, esperava a repercussão que está tendo (tanto positiva quanto negativa)? Como alguém experiente na área, o que apontaria como o grande trunfo do documentário?
A gente sabia que o documentário ia dar o que falar, porque a Anitta nunca passa despercebida. Mas a repercussão foi ainda maior do que imaginávamos, tanto no Brasil quanto fora. O grande trunfo do documentário foi o quanto ela se permitiu ser vulnerável. Para que o projeto acontecesse de verdade, era essencial que conseguíssemos mostrar a Larissa por trás da Anitta, e isso só foi possível porque ela abriu esse espaço e confiou no processo. Acho que é isso que prende o público – ver um lado dela que nem sempre está à vista, entender suas inseguranças, desafios e tudo o que acontece nos bastidores da carreira e da sua vida pessoal.
Mas, além disso, a mensagem que ela quis passar é muito universal. Durante muito tempo, ela viveu tentando atender às expectativas dos outros, fazendo o que esperavam dela, sempre buscando mais e nunca se permitindo parar para simplesmente ser quem queria ser. O documentário mostra justamente esse processo de libertação – o momento em que ela decide que não precisa mais provar nada para ninguém e começa a agir a partir do que realmente faz sentido para ela. E essa jornada acaba tocando muita gente, porque no fundo todo mundo já passou por isso de alguma forma. Ao ver a Anitta se libertando dessas amarras, o público também se sente convidado a fazer o mesmo.
Gravação de “Larissa, o Outro Lado de Anitta”
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5. Entre tantos projetos que vocês realizam, tem algum tipo que mais chama sua atenção?
Adoro projetos que contam histórias reais e que têm um impacto forte, seja cultural, social ou emocional – como foi o caso do documentário da Anitta. Os projetos de conteúdo, como filmes e documentários, permitem um aprofundamento muito maior na história e um relacionamento mais intenso com a equipe, já que passamos meses – às vezes anos – trabalhando juntos. Isso cria uma imersão única, que os projetos mais curtos não permitem. Por outro lado, os clipes e campanhas publicitárias trazem desafios criativos diferentes, a adrenalina de resolver tudo em pouco tempo e a satisfação de ver um projeto ser concluído rapidamente, do começo ao fim. Cada formato tem seu charme e seus desafios, e acho que essa alternância entre os dois é o que mantém meu trabalho sempre interessante.
6. Hoje, além de Anitta, vocês também já assinam com outras grandes estrelas – como Karol G, Maluma e mais. Tem algum nome em específico que você gostaria de fazer parceria?
Mais do que querer trabalhar com um nome específico, o movimento de conectar o rap brasileiro com a cena global me interessa muito. Já fizemos isso com a colaboração do Matuê com o Rich The Kid, que filmamos em LA, e trazendo artistas como os franceses Niska e Ninho para filmar no Brasil a música Coco, que foi o hit do verão europeu de 2024, e quero continuar ampliando essas conexões. O rap brasileiro tem uma identidade única e, quando se mistura com outras culturas, o resultado é algo novo e autêntico. Amaria seguir nesse caminho, conectando nomes como Matuê, Orochi e Haikaiss, com artistas como Post Malone, Drake e Kendrick Lamar. Essas colaborações não só expandem a cultura brasileira para um público maior, mas também criam narrativas visuais e sonoras que transcendem barreiras culturais e fazem o rap seguir como a linguagem universal que sempre foi.
7. Que outros projetos da Ginga você pode adiantar?
Atualmente, temos 16 projetos em desenvolvimento, entre documentários, realities e filmes de ficção, que começam a ser gravados em 2025. No mundo de short form, estamos produzindo algumas campanhas voltadas para Cannes e seguimos com um volume alto de produções publicitárias e videoclipes. Só este ano, já filmamos 18 diárias de publicidade e clipes em três continentes, acompanhando a crescente demanda global. Para consolidar ainda mais os dois braços da empresa – um focado em conteúdo original (long form) e outro em publicidade e videoclipes (short form) – no último ano contratamos um Head of Original Content e um Head of Branded Content. Além disso, estamos expandindo nossa equipe nos Estados Unidos para continuar crescendo e fortalecendo nossa atuação no mercado internacional.
Mel Chapaval
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8. Que dicas você daria para outras mulheres que querem trabalhar nessa área?
O audiovisual ainda tem desigualdade, mas as coisas estão mudando, e a gente faz parte dessa mudança. A síndrome da impostora faz parte da jornada – em algum momento, você vai sentir que não pertence ou que não é boa o suficiente, mas o importante é não deixar isso te parar. Confie no seu talento, ocupe seu espaço e não tenha medo de assumir posições de liderança. E, claro, ninguém faz nada sozinha – se cerque de pessoas que te apoiam, que acreditam no seu trabalho e que vão te impulsionar nos momentos de dúvida, porque uma boa rede de contatos faz toda a diferença. A energia feminina transforma um ambiente de produção. Nossa forma de liderar, de resolver problemas com sensibilidade e de enxergar o todo traz uma dinâmica muito diferente para o set. Isso é um asset enorme, e ter mais mulheres no comando muda completamente a experiência e o resultado final de um projeto.
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Fonte: Glamour