Termo ganhou mais destaque após a série “Adolescência”, da Netflix, que joga luz sobre um universo perturbador que muitos ainda desconhecem – o dos incels Você já ouviu falar em incel? O termo é uma abreviação para os “celibatários involuntários” (involuntary celibates, em inglês) e não é novo. Geralmente, é utilizado de forma pejorativa para descrever um homem considerado sexualmente frustrado e que nutre ódio pelas mulheres.
O tema, embora pareça extremo ou distante, está mais presente no nosso cotidiano do que se imagina — inclusive no Brasil. Por aqui e no mundo, discursos incels se espalham por fóruns online, grupos de Telegram, Discord e perfis nas redes sociais, em comentários disfarçados de autoajuda e até mesmo com emojis que possuem significados radicais por trás deles.
Veja também
No texto que escreveu sobre a série da Netflix, o roteirista Jack Thorne menciona uma das ideias mais repetidas entre os incels: “80% das mulheres são atraídas por apenas 20% dos homens”. Por trás de certezas tidas como absolutas como essa, o que existe é uma distorção emocional baseada em ressentimento — uma porta de entrada para ideologias extremistas que transformam frustrações pessoais em ódio coletivo.
O que é a cultura incel?
“Incels” são, originalmente, pessoas que se sentem frustradas por não conseguirem se relacionar afetiva ou sexualmente. O termo começou com uma mulher canadense que, em 1997, criou um fórum para discutir o assunto com empatia. Mas, nos anos 2000, o termo foi apropriado por comunidades masculinas que transformaram esse sentimento em raiva — especialmente raiva contra as mulheres.
Hoje, em ambientes online como fóruns, subreddits e grupos fechados, a cultura incel se retroalimenta com ideias distorcidas sobre masculinidade, sexualidade e poder. Homens jovens compartilham experiências de rejeição e acumulam ressentimentos, até que esses espaços se tornam verdadeiros incubadores de ódio e misoginia.
Veja também
O vocabulário dessas comunidades inclui termos como:
Chad: o homem bonito e bem-sucedido que atrai todas as mulheres.
Stacy: a mulher atraente que só se relaciona com Chads e despreza os “bons rapazes”.
Blackpill: crença fatalista de que, se você não nasceu bonito ou rico, está condenado a uma vida de solidão e humilhação.
Esses termos, aparentemente inofensivos ou até cômicos, escondem uma lógica perversa que justifica a violência — e, em casos extremos, a incentiva.
Cena de “Adolescência”, da Netflix
Divulgação
Da frustração à radicalização
A maior parte dos jovens que entra em contato com conteúdos incels está buscando conselhos sobre autoestima, relacionamentos ou identidade. Mas, aos poucos, eles se veem em um ciclo de validação mútua, onde a culpa por suas frustrações recai sempre sobre o outro — e nunca sobre si mesmos. O “inimigo” costuma ser a mulher, o feminismo, ou qualquer movimento que proponha igualdade de gênero.
O algoritmo das redes sociais também colabora: ao identificar o interesse por vídeos sobre masculinidade, por exemplo, ele pode começar a sugerir conteúdos cada vez mais radicais, em um efeito cascata. Assim, um adolescente inseguro pode, em pouco tempo, estar consumindo vídeos que pregam o ódio às mulheres, à comunidade LGBTQIA+ ou a qualquer grupo que fuja da norma.
Revistas Newsletter
E o que fazer?
Combater a cultura incel não é sobre censura, mas sobre compreensão e prevenção. É preciso entender por que tantos jovens estão se sentindo sozinhos, rejeitados e inseguros — e por que eles encontram acolhimento justamente em comunidades que os envenenam ainda mais.
Conversas abertas sobre afetividade, consentimento, autoestima e masculinidades precisam começar cedo, tanto na escola quanto dentro de casa. É fundamental oferecer alternativas positivas, acolhedoras e construtivas para quem está sofrendo — antes que o sofrimento vire ressentimento e o ressentimento vire ódio.
Canal da Glamour
Quer saber tudo o que rola de mais quente na beleza, na moda, no entretenimento e na cultura sem precisar se mexer? Conheça e siga o novo canal da Glamour no WhatsApp.
Fonte: Glamour