Para muitos, o título desta coluna pode parecer algo contraditório. Ou seja, desaprender algo do passado para aprender algo novo relativo ao presente e futuro. Mas o que temos vivido ao longo destas primeiras décadas do século XXI mostra que a velocidade e quantidade de mudanças que estão ocorrendo nos surpreendem a cada novo dia. E não apenas na área de tecnologia, mas na amplitude de todos os aspectos que envolvem o ser humano: economia, social, cultural, espiritual, etc.
Lembrei de uma lenda que costumo contar nas minhas palestras sobre o tema longevidade, quando trato das três dimensões do tempo que usamos no mundo ocidental, ou seja: passado, presente e futuro.
Diz a lenda que dois monges vinham caminhando por uma área descampada. Ao chegarem na beira de um riacho, viram uma jovem que tentava cruzar o mesmo, mas tinha dificuldades. Um deles a tomou nos braços e a transportou até o outro lado do riacho.
Passado algum tempo, aquele que não a havia carregado, disse ao seu companheiro: “Hoje você fez algo errado. Teve contato físico com uma mulher. E nós, monges, não devemos ter contato com qualquer figura feminina”.
O que havia transportado a moça respondeu: “Você tem razão. Eu a carreguei, mas a deixei do outro lado do riacho”. Apontando para o seu cérebro, acrescentou: “Mas você a continua carregando”.
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Esta simples lenda nos mostra o quanto as experiências do passado marcam nossa vida, ideias e comportamentos.
Interessante registrar que o processo da aprendizagem do adulto se intitula andragogia, diferentemente da aprendizagem de adolescentes e jovens, que é a pedagogia. Vale lembrar que vivemos uma época em que ambos os métodos estão sofrendo revisões constantes.
Considerando ainda que estão aumentando, significativamente, os níveis de longevidade, pode-se considerar que as pessoas, na medida em que envelhecem, podem tentar preservar seu conhecimento, conceitos e valores, embora possam apresentar alguma dificuldade para dialogar com os mais jovens, além de repensar sua própria vida.
Desejo registrar aqui outro depoimento interessante do prêmio Nobel de química, Karl Ziegler, quando perguntado por que teria se destacado tanto em sua área de estudos. Ele atribuiu esse feito à sua mãe e contou que, quando ela o buscava na escola, não fazia a pergunta mais comum que os pais fazem aos filhos: “O que você aprendeu hoje na nas aulas?”.
Em vez disso, ela perguntava: “O que você perguntou hoje no colégio?”. Isso demonstra que o interesse pela inquietude e pela dúvida faz a diferença, porque prepara o indivíduo para aprender com todo ser humano e oportunidades da vida.
Um registro digno de nota consta do livro “Fronteiras da inteligência” do rabino Nilton Bonder:
“E que tipo de pessoa se faz empregável nesse novo modelo? Com certeza a menos empregável é a que detém apenas conhecimento. O técnico, quase uma extensão do trabalhador braçal, está sendo substituído pela máquina. Os computadores ou as redes de informação são técnicos absolutos, disponíveis 24 horas por dia. O técnico é substituível. Mas não só ele. Aqueles que exerciam o papel de ‘compreender’ os processos, os gerentes, também estão se tornando peças do passado. A empregabilidade humana se fará em áreas nas quais temos excelência e competimos em desigualdade com as máquinas: as áreas de dúvida e de incerteza.”
Enfim, estas são apenas algumas provocações.
Fonte: Valor