As vendas da Hermès no início do ano foram prejudicadas pela desaceleração da demanda chinesa, mostrando que mesmo o fornecedor mais resiliente não foi poupado da queda na indústria de luxo no país. As vendas do primeiro trimestre na região Ásia-Pacífico, excluindo o Japão, subiram 1,2% a taxas de câmbio constantes, informou a Hermès International SCA, em comunicado nesta quinta-feira (17), abaixo do ganho de 4% esperado pelos analistas.
As vendas totais no período atingiram 4,1 bilhões de euros (US$ 4,7 bilhões), com o crescimento de 7,2% ligeiramente abaixo das estimativas dos analistas. As ações, que chegaram a cair 4,2%, reduziram a maior parte das perdas e foram negociadas em baixa de 0,9% às 11h34, em Paris.
A rara decepção da Hermès — fabricante da cobiçada bolsa Birkin — ocorre no momento em que o mercado de luxo luta para emergir de um período de crescimento lento, causado em grande parte pela contenção de compras caras por parte dos consumidores chineses. As perspectivas para o setor se tornaram ainda mais sombrias desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs tarifas de 10% sobre as importações da União Europeia neste mês, enquanto suspendia os planos de uma taxa de 20% por 90 dias.
A Hermès aumentará os preços nos EUA a partir de 1º de maio, afirmou o diretor financeiro, Eric du Halgouet, em teleconferência com repórteres. “Compensaremos integralmente o impacto dessas novas tarifas” em todas as categorias de produtos, disse ele, acrescentando que as decisões finais sobre os preços ainda estão sendo acertadas. A empresa não notou nenhuma mudança perceptível nas tendências de demanda nos EUA em abril, disse du Halgouet.
O desempenho na China foi prejudicado pelo menor movimento nas lojas em meio à retração do mercado imobiliário e também pela base de comparação mais alta em relação ao ano anterior, disse ele. A Hermès não foi a única a sofrer com a fraca demanda na China. As fracas compras no país também afetaram as vendas da fabricante de conhaque Pernod Richard SA.
Perto do “fundo do poço”
“Acredito que podemos estar perto do fundo do poço para essas empresas de luxo”, disse Enguerrand Artaz, gestor de fundos da La Financière de l’Echiquier, observando que os investidores esperavam um primeiro trimestre difícil para o setor. “Há sinais de que o consumo pode estar voltando na China. Talvez haja um ou dois outros trimestres difíceis, mas as avaliações agora estão razoáveis, então estão se tornando atraentes novamente.”
A Hermès continua a superar as concorrentes, em parte porque atende aos clientes mais ricos do mundo, cujos hábitos de consumo tendem a ser menos afetados por crises econômicas. A empresa também desfruta de forte poder de precificação e listas de espera para suas bolsas de primeira linha, graças a um modelo de produção baseado na escassez gerenciada que aumenta sua exclusividade. Suas vendas no primeiro trimestre cresceram em todas as regiões, com as Américas relatando um aumento de 11%.
No início desta semana, a LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton SE registrou vendas trimestrais abaixo do esperado em sua principal unidade de moda e artigos de couro. A proprietária da Christian Dior sofreu, em particular, com a fraca demanda na região que inclui a China, com a receita caindo 11%. Essa região representa 30% das vendas totais da LVMH, em comparação com 48% da Hermès.
“2025 começou com um pouco de turbulência”, disse Bernard Arnault, CEO da LVMH, na assembleia geral anual da empresa nesta quinta-feira (17). “Tudo estava indo muito bem até o final de fevereiro, quando a situação geopolítica global foi perturbada pelas taxas alfandegárias.”
Empresa de luxo mais valiosa do mundo
A capacidade da Hermès de superar a queda na demanda por artigos de luxo melhor do que as concorrentes impulsionou suas ações. As vendas decepcionantes da LVMH nesta semana derrubaram suas ações, ajudando a Hermès a destronar sua rival e se tornar a empresa de luxo mais valiosa do mundo.
“Durante períodos de turbulência financeira, essa capitalização de mercado confirma a confiança dos investidores e o posicionamento do nosso grupo como um porto seguro”, disse o CFO da Hermès, du Halgouet.
O modelo de negócios da Hermès, com oferta limitada, garantiu que a demanda por bolsas como a Birkin — batizada em homenagem à falecida cantora e atriz britânica Jane Birkin — e a Kelly — inspirada na Princesa Grace Kelly — supere a oferta. Essas bolsas podem ser vendidas por cerca de 10.000 euros em Paris e alcançar preços muito mais altos no mercado de revenda.
Em fevereiro, a avaliação da Hermès ultrapassou brevemente a marca simbólica de 300 bilhões de euros, mas preocupações sobre uma crescente guerra comercial global prejudicaram o setor de luxo em geral.
Fonte: Valor