Entenda o significado do vermelho no enterro do papa Francisco | Mundo

Em um caixão de madeira com forro carmesim, o corpo do papa Francisco repousa vestido com uma veste litúrgica chamada casula também vermelha. Ao olharmos a cena, nos chama atenção a cor, que não é o preto, convencionado nas cerimônias fúnebres.

De acordo com o padre Paulo Cesar Vita Júnior, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, o vermelho, presente nos ritos fúnebres pontifícios, não é casual, pois a coloração é tradicionalmente ligada ao santo padre, influência do Império Romano, que foi, em suas palavras, “cristianizada” pela Igreja.

“Por ser difícil de se extrair, a púrpura era específica do imperador romano. O papa, com o passar dos anos, também teve o direito de se vestir com essa coloração”, conta Vita Júnior. “O vermelho e o branco se tornaram, portanto, as cores papais. Quando o pontífice celebrava uma missa de exéquias, por exemplo, usava vermelho. Já no enterro de um papa, só ele usava vermelho e os demais vestiam preto.”

De acordo com o padre Rafael Siqueira, doutorando em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG), o uso da cor vermelha tem raízes na tradição bizantina, do antigo Império Romano do Oriente. “Alguns dos primeiros cristãos foram martirizados, e por isso o vermelho passou a ser associado aos ritos fúnebres”, explica.

Além disso, Siqueira afirma que o vermelho é a cor dos Apóstolos e o papa é o sucessor direto dos Príncipe dos Apóstolos, São Pedro.

Em meados do século XX, com o Concílio Vaticano II e a consequente Reforma Litúrgica, o vermelho se tornou a cor oficial do luto papal e todos os concelebrantes passam a usar paramentos dessa cor, explica o pároco de Nossa Senhora da Luz, no bairro do Rocha, zona norte da capital fluminense.

Além disso, o sacerdote explica que o luto e a celebração de nove dias de missa em honra do pontífice, chamado de Novendiali, também é uma prática antiga do Império Romano.

Segundo ele, “a origem é parecida com a missa de sétimo dia, prática religiosa muito popular no Brasil”, diz Siqueira. “Vemos, então, que para o cristianismo nunca foi é estranho a incorporação e ‘cristianização’ de elementos de outras culturas.”

Fonte: Valor

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