Se esse texto tivesse uma trilha sonora, com certeza seria Suddenly I See, que você provavelmente já ouviu em O Diabo Veste Prada. Inclusive, estou sentada agora mesmo escrevendo isso ao som da minha playlist Feels like NYC, cuja curadoria é intensa e criteriosa — só entram músicas que, como um passe de mágica, me teletransportam para a cidade que nunca dorme. (Isso é mentira, tá? Ela dorme sim. E cedo!)
Eu sei, é tudo muito clichê. Mas o clichê também pode ser bonito e divertido — e, na maioria das vezes, é. Sempre olhei para as minhas influências da infância e adolescência e percebi que, assim como milhões de outras meninas, fui fisgada pelo enredo da garota que é jornalista numa cidade grande e sonha em trabalhar com moda. Ou, pelo menos, é apaixonada por ela.
And so I wondered… será que a minha carreira como Jornalista é pautada por influências externas (que nem são ruins, sinceramente), ou por sonhos maiores — e por paixão?

Foto: Andy em ‘O Diabo Veste Prada’ (Reprodução/Pinterest)
a menina que falava gesticulando
Às vezes acho que sim, mas também acho que não. Doida, né? Desde criança, sempre fui extremamente comunicativa, cara-de-pau, extrovertida. Falava gesticulando, inventava histórias que viravam verdadeiras sagas, me apresentava nas reuniões de família… a verdadeira inimiga da timidez — e sigo assim até hoje.
Os parentes, desde pequena, perguntavam: “e aí, quando vamos te ver apresentando o jornal da Globo?” Eu torcia o nariz, mas respondia sorrindo: “ah, não sei, quem sabe um dia, né?” Mal sabiam eles que, apesar da natureza comunicativa, eu sempre fui mais dos textos. Sempre preferi essa liberdade poética e atrevida de escrever o que me desse na telha e inspirar pessoas com palavras.
Na adolescência, enquanto meus colegas queriam fazer direito, medicina, engenharia ou psicologia, eu me via entrando num beco meio confuso. Nunca me vi trabalhando com absolutamente nada que não envolvesse jornalismo. Bom… é mentira. Teve um surto pré-colegial em que eu disse que faria arquitetura porque era muito boa construindo casas no The Sims. Mas aí descobri que teria que lidar com números por anos e desisti com a mesma agilidade que pensei em cursar.
Revoltada com as equações malucas, bati o pé e declarei guerra às exatas: “quero fazer qualquer coisa que eu nunca mais nessa vida tenha que usar matemática!” Acho que toda pessoa “de humanas” já teve essa crise numa prova de geometria ou química orgânica, né?
a busca pela profissão dos meus filmes, ops, sonhos
Nunca gostei de direito. Nem de publicidade. Não me via na pedagogia e muito menos na filosofia, apesar de amar a área. Aí comecei a juntar a fome com a vontade de comer e pensei: “qual faculdade me permitiria mudar para Nova York, trabalhar em prédios de vidro, falar sobre desfiles e roupas?”
Já sei! Vou fazer moda!
Certo? Errado. Fui proibida de cursar moda — e olha que meus pais nunca foram do tipo que proibiam nada. Nem eu fui o tipo que pedia permissão pra tudo. Sempre fui muito responsável. Mas, mesmo assim, saco! Se eu não podia fazer moda, então eu não queria fazer mais nada.

Foto: Carrie Bradshaw em ‘Sex and the City’ (Reprodução/Pinterest)
Mas aí comecei a pensar mais a fundo: “o que eu preciso estudar pra fazer o que a Carrie faz? E a Jenna Rink? Ela trabalha numa revista, né? Meu Deus, e a Andy? A Kate Hudson em Como Perder um Homem em 10 Dias? Teve um filme com a Drew Barrymore também, não teve?! Ah, e a Becky Bloom também!”
Pois é. Jornalismo.
Morar em Nova York. Trabalhar num escritório. Sentar com o computador no colo e ter liberdade para escrever colunas sobre roupas bonitas e comportamento. Esse era o objetivo — era não, é.
influência ou lifestyle? As romcoms moldaram o meu eu
Veja bem: esses filmes que, assim como minha playlist, passam por uma curadoria super criteriosa — com frames que alternam entre arranha-céus, saltos altos e casacos fashionistas — não estão ali por acaso. A imagem gera desejo, inspira, e planta na cabeça de meninas como eu a ideia de uma vida fantasiosa, linda, perfeita. Com roteiros que tornaram as comédias românticas dos anos 2000 em verdadeiros emblemas de uma geração.
Às vezes, sinto que o impacto foi menos pela profissão e mais pelo lifestyle que esses filmes mostravam.
Era tudo muito bonito — menos para Andy, que comeu o pão que a Miranda amassou. A Carrie tinha uma liberdade criativa que, pra mim, é essencial. A Andie (a Kate Hudson, não confundir com a Andy Sachs), era segura, divertida, cool, sabe? Cada personagem foi construída de forma tão marcante que continua atraindo mais meninas, ano após ano, para esse mesmo sonho que eu carrego.

Foto: Jenna Rink e ‘Tonton’ em ‘De Repente 30’ (Reprodução/Pinterest)
Depois de anos, sigo firme na escolha. No fim das contas, era ela. Então, obrigada aos familiares e parentes que diziam que eu daria uma boa apresentadora (mas espero estar provando que também sei escrever à altura). Agora, deixa eu te adiantar uma coisa, amiga que está me lendo e acha que a vida de jornalista é um morango: não é.
dream on, but don’t imagine they’ll all come true – billy joel
A frase acima é de mim mesma, para mim, ok? Mas se sentir que cabe a você, ótimo. Afinal, não dá pra gente se basear na ficção o tempo todo e achar que tudo vai se realizar em um piscar de olhos, se não for chuva, as coisas não caem do céu. E não, você não pode dizer que tem experiência na área só porque viu o que suas personagens favoritas fizeram num filme. Jornalismo exige resiliência, agilidade e, ao mesmo tempo, paciência. Você precisa entender que ninguém começa sendo um super jornalista — você vai errar, e vai errar feio! Vai passar horas tentando achar o título perfeito, vai descobrir a pressão de um deadline, ainda mais quando tudo é urgente e todo mundo quer soltar a matéria primeiro. Vai cobrir eventos que não gosta, escrever sobre o que não quer e perceber que, até sentar nas primeiras fileiras de um desfile numa Semana de Moda, pode levar anos. Até lá, contente-se com os bastidores e a água quente do bebedouro — mas eu prometo: eles podem ser tão legais quanto.
Além disso, é preciso mergulhar em referências, entender história, sociologia, política e, às vezes, até economia — sim, mesmo que você queira trabalhar com moda. Afinal, olha aí a guerra tarifária e seus impactos diretos no setor. É preciso encontrar sua própria voz, construir sua rede de contatos, ser esperta e estar sempre de olho em tudo. Tudo mesmo. É preciso estar disposta a levar muitos nãos e entender que, em alguns dias, você vai querer desistir, porque é cansativo.
E, acima de tudo, exige paixão. É por isso que, no fundo, eu sei: não foi só pelas personagens, mesmo que elas tenham sua parcela de influência na decisão. Se fosse, com tudo o que a profissão tem de invisível e desvalorizada, eu já teria jogado a toalha faz tempo. Mas sigo aqui, teimosa, escrevendo com brilho nos olhos e dor nas costas. Porque, no fim das contas, eu não escolhi o jornalismo só por influência — ele também me escolheu. E olha… ainda bem.
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Fonte: Steal the Look