do outro lado do espelho

Traduzido por

Helena OSORIO

Publicado em



28 de janeiro de 2025

Maria Grazia evoca fantasias de infância e ressuscita memórias de inocência em sua nova coleção para a Dior, uma visão otimista para o dia de abertura da temporada de alta-costura de Paris.

Christian Dior – Primavera-Verão 2025 – Alta-Costura – França – Paris – ©Launchmetrics/spotlight

Uma inocência desinibida, inspirada em “Alice através do espelho”, deu origem a uma coleção cheia de charme e leveza, com um terço das modelos em crinolina – sem qualquer tecido para as cobrir, como gaiolas de pássaros. Uma dezena de outras vestiam calções.

Este sonho de moda foi apresentado num cenário de grande beleza, uma tapeçaria gigante criada pela artista Rithika Merchant, pontuada por vacas sagradas, leões dourados, lobos uivantes e homens-pássaro fantásticos.

O desfile aconteceu sob uma tenda montada nos jardins do Musée Rodin, que fervilhava como uma colmeia antes do desfile, com as atrizes Anya Taylor Joy e Alexandra Daddario; as estrelas de K-pop Jisoo e Karry Wang; e as supermodelos históricas Karlie Kloss e Carla Bruni, entre outras. E Deva Cassel, a filha de Vincent Cassel e Monica Bellucci, causou um tumulto entre os paparazzi.

Quando as coisas se acalmaram, apareceram as tops, conduzidas por uma colegial astuta para um primeiro look fantástico: uma minissaia de tule bordada com penas pretas, usada sob uma soberba bata adornada com flores e silvas feitas de penas de ganso.

Raramente vimos uma coleção de alta costura tão onírica e tão transparente –  corpetes de tule, tops de rede incrustados de renda; minissaias em renda prateada, mas usadas com fraques de jacquard branco para cavalheiros.

“Partimos do espelho da Alice e entrámos num novo mundo. Um pouco como o atelier, onde se pode criar e experimentar tudo. Por isso, esta coleção foi uma viagem maravilhosa, numa altura em que gosto de mergulhar na história da moda”, explicou Maria Grazia Chirui na prévia do desfile.

Leve como um sussurro, mas não sem uma certa nobreza nos cortes, nomeadamente em elegantes casacos – que se inspiram na linha “Trapèze” concebida para a Dior em 1958 pelo jovem Yves Saint Laurent. O conceito é retomado numa série de casacos em faille bege, incrustados de rendas trompe l’oeil ou de pêlo, invariavelmente combinados com calções bouffants ou com tule embelezado com rendas.

Christian Dior – Primavera-Verão 2025 – Alta-Costura – França – Paris – ©Launchmetrics/spotlight

A silhueta “Cigale” – concebida por Monsieur Dior para a linha de alta-costura para o outono-inverno 1952/53 – é proposta nos tecidos moiré originais, mas a saia reduzida a proporções minúsculas é combinada com um casaco de cauda ajustado, acentuando o contraste de proporções.

Personagens como o Tempo, Lady Ascot e rainha Elsemere são evocadas por fantásticas crinolinas abertas, condensadas em saias bouffantes com folhos e usadas com tops com folhas ou casacos de seda marfim.

“Uma peça de vestuário é como uma casa que criamos para nós mesmos. Nesta temporada, utilizamos materiais muito, muito leves, por vezes baratos, que ganham valor e sofisticação pelo fato de terem sido feitos à mão”, sublinhou Maria Grazia.

Para esta coleção de alta-costura de primavera-verão 2025, a couturière italiana joga com a ideia de memória da indumentária, evocando a criatividade dos séculos passados e das décadas pelas quais a Maison Dior passou. As jovens de Lewis Caroll são reinventadas para o século 21, mas numa paleta muito mais escura do que a do filme de 2016 de James Bobin: cru, branco, bege, amarelo manteiga e rosa nude.

“As pessoas que usam cores querem ser vistas, e é por isso que não gosto mais do que isso. São as mesmas razões que levam os animais a uma cor ou outra”, comentou Maria Grazia.

A coleção foi apresentada por um elenco que usava brasões de poetisas punk rock adornados com pequenas pétalas, um look que a designer italiana afirma ter usado quando era uma jovem a caminho do seu primeiro atelier de moda em Roma.

Resumindo os seus pensamentos, Maria Grazia Chiuri conclui: “Adoro o lado inconsciente das crianças. A realidade não as detém. Pessoalmente, fico feliz quando uma mulher encontra o estilista que lhe convém. Mas o que me dá mais alegria é a pesquisa e a criação de moda”.

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Fonte: Fashion Network

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