O caso Wisdom Kaye e a crise de credibilidade no mercado de luxo » STEAL THE LOOK

O mercado de luxo tem tentado se equilibrar em um fio de credibilidade nos últimos anos. Entre a necessidade de conquistar a geração Z, as pressões ambientais e uma constante crise de relevância, o setor já não tem mais o mesmo terreno firme que tinha décadas atrás. 

E foi exatamente nesse momento delicado que o influenciador Wisdom Kaye acendeu a faísca de uma nova polêmica.  Em um TikTok para seus quase 14 milhões de seguidores, Kaye compartilhou sua decepção com uma compra de US$ 18 mil na Miu Miu.

Assim que tirou as peças da caixa, o zíper de um moletom quebrou na hora. Como se não bastasse, os botões de um colete jeans simplesmente caíram na primeira tentativa de vesti-lo. Aconteceu o que não se aceita nem da fast fashion: as peças se desfazendo antes do primeiro uso. 

A Miu Miu, claro, tentou resolver a situação. Enviou novas peças ao influenciador, que apagou o vídeo anterior e gravou outro. O problema? No novo conteúdo, os botões do mesmo colete voltaram a cair. A situação, que já tinha viralizado, passou a ser visto como algo muito maior: Se o luxo não está entregando qualidade, o que ele entrega? 

Etiqueta de tecido italiano de um terno cinza da Cori, com padrão listrado fino interno e código de barras visível de Wisdom Kaye.

Foto: Selo (Reprodução/D’idées Magazine)

Esse episódio não acontece isolado. O setor do luxo atravessa uma fase turbulenta, tentando se manter de pé em meio a um cenário global conturbado. O timing é quase cruel: logo após o exposed das fábricas chinesas, que alegaram que muitas peças vendidas sob o selo do “made in Italy” são, na prática, produzidas em massa em fábricas da China. 

Um vídeo conseguiu corroer um dos pilares mais importantes do luxo: a ideia de autenticidade e exclusividade. O consumidor que paga milhares de dólares por uma peça espera mais do que etiqueta, espera história, artesania, excelência. 

O caso Wisdom Kaye traz mais dúvidas do que respostas. O TikTok traz à tona um declínio da qualidade do luxo ou apenas deslizes que na década passada passariam batido? 

Ainda assim, o setor não está pronto para jogar a toalha. Algumas marcas têm investido pesado em experiências exclusivas, tentando deslocar o valor da peça para o valor da vivência, seja um desfile imersivo, um jantar secreto ou colaborações inesperadas. Outras apostam na linguagem da nova geração, criando estratégias para o TikTok sem perder o verniz aspiracional.

Leia também: Bolsas de luxo da China? Entenda a polêmica sobre a origem das peças

Wisdom Kaye vestindo um blazer azul, jeans largos, carregando uma grande bolsa preta.

Foto: Wisdom Kaye (Reprodução/Instagram)

Existe também um esforço em resgatar a promessa de qualidade. Uma maior transparência na cadeia e narrativas que destacam a herança artesanal vem sendo usados como respostas à crise. A própria Itália busca estabelecer uma nova legislação para reforçar e proteger o selo made in Italy. A ideia é criar parâmetros mais rígidos para que apenas produtos realmente fabricados no país possam carregar essa assinatura. Uma tentativa de devolver ao consumidor a confiança de que o luxo europeu ainda preserva autenticidade e artesania.

O caso Wisdom Kaye não matou o luxo, mas certamente mostrou o quanto ele anda frágil. Um vídeo de poucos segundos foi suficiente para abalar a imagem de uma das marcas mais desejadas do momento.

Se antes bastava um logo bordado para justificar milhares de dólares, agora o público exige transparência, qualidade e narrativa cultural. E, paradoxalmente, é justamente essa cobrança que pode trazer a indústria pra sua melhor fase — fase essa que não se define apenas pelo preço, mas pela capacidade de se manter relevante em um mundo que não para de mudar.  

Hoje, luxo é logo, é qualidade ou é narrativa? O que pesa mais pra você?

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Fonte: Steal the Look

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