Por
AFP
Publicado em
29 de setembro de 2025
Os VIPs e os especialistas em moda disputam convites para um dos desfiles mais cobiçados da Paris Fashion Week: a estreia de Matthieu Blazy na Chanel. Mas quem é este estilista de 41 anos?

O estilista franco-belga é relativamente discreto — não figurava entre os nomes de celebridades equacionados para o cargo — e foi escolhido para a Chanel após um triênio de grande sucesso na casa de luxo italiana Bottega Veneta.
O novo cargo representa uma grande promoção, catapultando-o de uma maison italiana de média dimensão para a Chanel — a segunda maior casa de moda de luxo do mundo, com vendas anuais na ordem dos 20 bilhões de dólares.
Matthieu Blazy terá impressionado durante o processo de recrutamento com apresentações criativas aprofundadas. Encarna “uma nova geração com humildade sincera”, declarou Bruno Pavlovsky, presidente da área de Moda da Chanel, ao anunciar a sua nomeação.
Para além da sua visão criativa, essa observação sublinhou outra das características amplamente reconhecidas de Blazy: a ausência de ego numa indústria conhecida pelas suas personalidades exuberantes.
Isto faz dele uma escolha acertada para os discretos proprietários da Chanel, Alain e Gérard Wertheimer, que, segundo consta, procuravam uma figura leal e discreta para se tornar apenas o quarto diretor-criativo na história da marca.
“A Chanel é uma casa familiar privada”, afirmou à AFP, Serge Carreira, especialista em moda na Sciences Po, em Paris, após a nomeação de Blazy. “A marca pode adotar uma abordagem a longo prazo e dar tempo às coisas”.
O maior desafio de Blazy será conduzir a Chanel a uma nova era, após os 40 anos de reinado do seu lendário estilista, Karl Lagerfeld.
Até ao ano passado, a Chanel era liderada por Virginie Viard, a sucessora escolhida a dedo por Lagerfeld. A equipa interna concebeu as coleções deste ano.
Blazy granjeou aclamação generalizada na Bottega Veneta, onde modernizou a identidade da icônica casa italiana de artigos de couro. Introduziu um registo mais ousado e lúdico, ao mesmo tempo que alargou a oferta de produtos.
Esteve à frente do lançamento das primeiras fragrâncias e da joalheria de alt0 luxo da marca e reinventou o característico entrançado ‘intrecciato’ com malas de sucesso como as Kalimero, Andiamo e Sardine.
Uma das suas criações mais comentadas foi um par de calças em pele de 7.000 dólares, estampadas para parecerem indistinguíveis da jeans tradicional.
Os seus desfiles na Milano Fashion Week — que contaram com a presença de estrelas como Julianne Moore e Jennifer Lawrence — tornaram-se rapidamente eventos de referência. “Um dos principais destaques, consistentemente entre os convites mais concorridos”, opinou Robert Williams, editor para o segmento de luxo da The Business of Fashion, em declarações à AFP.
Mas a Chanel traz um nível de pressão diferente. “A pressão para sustentar essa audácia criativa com peças usáveis é, certamente, muito maior”, acrescentou Williams.
Blazy deu um vislumbre da sua estética no Festival de Cinema de Veneza no início deste mês, onde a atriz britânica Tilda Swinton surgiu com calças brancas de corte largo e uma blusa de manga curta — uma antevisão discreta do que está para vir.
A coleção completa será revelada em Paris a 6 de outubro, o penúltimo dia da Paris Fashion Week, que arrancou na segunda-feira, 29 de setembro.
Fumador inveterado que costuma vestir calças de jeans e T-shirt, Blazy é conhecido pelo amor à arte contemporânea e pela estreita amizade com o estilista belga Raf Simons — um mentor que o contratou duas vezes.
Criado em Paris pelo pai, especialista em arte, e pela mãe, historiadora, Blazy cresceu ao lado de uma irmã gêmea e de um irmão.
“Tom Sawyer foi o meu herói de infância”, disse ao The New York Times no ano passado, se referindo ao protagonista de espírito livre do romance de Mark Twain.
A sua rebeldia na adolescência levou-o a ser enviado para internatos em França e em Inglaterra.
Depois de terminar o liceu, estudou Moda na La Cambre, em Bruxelas. Após concluir o curso, foi contratado por Simons — dando início a uma carreira que o levou por algumas das mais prestigiadas casas de moda europeias e americanas.
Deu nas vistas pela primeira vez em 2014, como parte de um coletivo anônimo que desenhou uma coleção para a marca francesa Maison Margiela.
A jornalista de moda britânica Suzy Menkes ficou tão impressionada com o seu trabalho com tecidos que revelou publicamente o seu nome na Vogue, escrevendo: “Não se pode manter um talento destes em segredo”.
Essa exposição catapultou-o para novas funções, incluindo na Celine e, mais tarde, na Calvin Klein, onde voltou a se juntar a Simons, em Nova Iorque.
O seu período de dois anos nos Estados Unidos terminou abruptamente em 2018, quando ambos foram despedidos. Blazy descreveu o momento ao The New York Times, dizendo que se viu na rua com uma caixa de cartão com os seus pertences do escritório.
“Parecia um filme”, concluiu ao histórico jornal diário americano, fundado em Nova Iorque em 1851.
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Fonte: Fashion Network