Gostar de um esporte historicamente dominado por homens nunca foi tão girly girl — ou seja, nunca esteve tão integrado ao universo feminino quanto agora. Se alguém dissesse isso há dez anos, soaria quase impossível, certo? Mas os números comprovam a virada: desde 2021, a Fórmula 1 atingiu uma audiência estratosférica de 750 milhões de fãs, um crescimento de 5,7%. E, segundo a Forbes (janeiro de 2025), a principal área de expansão vem justamente do público feminino, que hoje já representa 41% da base total de fãs. O recorte mais expressivo está entre jovens de 16 a 24 anos, a faixa etária que mais cresce dentro do esporte.
Esse movimento tem explicações claras: o acesso sem precedentes que a Netflix proporcionou à vida dos pilotos com Drive to Survive (e agora também com a F1: The Academy, voltada para as mulheres do esporte), a forte presença da moda no universo da Fórmula 1 — seja em parcerias, patrocínios ou eventos grandiosos — e até mesmo a popularidade das WAGs (esposas e namoradas) dentro e fora dos paddocks. Fatores que, juntos, reposicionaram o esporte e ampliaram sua conexão com novas audiências.

Foto: Noorie Ana (Reprodução/Instagram)
Quando o grupo LVMH anunciou uma parceria bilionária de dez anos com a Fórmula 1, dá para dizer em termos técnicos que essa foi a pole position da moda dentro do esporte. Desde outubro do ano passado, quando o acordo foi oficializado, a Louis Vuitton passou a assinar as malas dos troféus de cada Grande Prêmio, enquanto a TAG Heuer substituiu a Rolex como cronometrista oficial da categoria.
A Fórmula 1, além de ser um espetáculo global e um verdadeiro marketing de luxo a céu aberto, ocupa hoje o posto de segundo esporte que mais cresce no mundo, impulsionando de forma significativa o Earned Media Value (EMV) das marcas de moda. Em outras palavras: cada investimento feito ali dentro se mostra rentável, com retorno quase garantido.
Mas, olhando para além das zebras das pistas, é o público feminino — que está em alta histórica — quem tem sido grande responsável por acelerar essa migração da moda para o universo da F1.

Foto: Sofia Coelho (Reprodução/Instagram)
Para o público feminino, que historicamente já consome moda como um código de pertencimento e identidade, isso abriu uma porta legítima para se engajar no esporte. Afinal, se antes a Fórmula 1 era uma conversa restrita apenas a homens que dominavam jargões técnicos de motor e pneus, hoje ela se apresenta como um território plural, onde lifestyle e cultura pop caminham lado a lado com a adrenalina da pista.
As collabs — Louis Vuitton, Dior, PUMA, Tommy Hilfiger, entre tantas outras — transformaram os bastidores da Fórmula 1 em uma extensão natural das semanas de moda. O paddock virou passarela global (há quem goste e há quem prefira não comentar), refletindo o mesmo frisson que antes só se via em front rows e no street style.
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Celebridades e influenciadoras potencializaram esse processo. Seus looks registrados diretamente dos GPs circulam nas redes sociais todos os finais de semana, ampliando a percepção de que assistir a uma corrida não é apenas sobre esporte, mas também sobre estética, performance e desejo. Essa conexão cria o wishful thinking: ir a um Grande Prêmio equivale a frequentar um festival de música ou até uma fashion week — experiências sociais aspiracionais que atraem especialmente mulheres jovens, faixa etária que mais cresce entre os fãs.

Foto: Alexandra Saint Mleux (Reprodução/Instagram)
Nesse contexto, as WAGs (esposas e namoradas de pilotos) também desempenham grande influencia. Muitas delas já são modelos, empresárias ou criadoras de conteúdo e, ao ocuparem o paddock com naturalidade, consolidam a estética conhecida como paddock style — um equilíbrio entre moda de luxo e casual esportivo. Elas se tornam referências diretas de estilo, aproximando ainda mais o olhar feminino desse universo.

Foto: Naomi Schiff-D (Reprodução/Instagram)
A influência vai além da imagem: hoje existem podcasts, newsletters e comunidades digitais feitas por mulheres, para mulheres, que falam de Fórmula 1 sob diferentes perspectivas que vão de moda a comentários pós corridas. Esse movimento de base cria narrativas mais inclusivas e participativas, conectando o esporte a diferentes linguagens culturais.
Essa transformação também se reflete dentro da própria estrutura da F1. Naomi Schiff, por exemplo, conquistou o público com seu carisma e se tornou uma das principais vozes femininas nas coberturas oficiais. Nos bastidores, nomes como Hannah Schmitz — chefe de estratégia da Red Bull — e a engenheira de pista de Esteban Ocon na Haas, Laura Mueller, a primeira mulher a assumir esse posto na história, reforçam a presença feminina em cargos de alta responsabilidade. Susie Wolff, por sua vez, luta ativamente para dar visibilidade à F1 Academy, que já conta com o apoio de muitas marcas relevantes, como a Charlotte Tilbury, por exemplo, que também integrou o universo da beleza no esporte.

Foto: Carro Charlotte Tilbury (Reprodução/Matt Easton)
O resultado é que o estigma de que a Fórmula 1 seria “um território só de homens que entendem de motor” perde força. O esporte se reposiciona como fenômeno cultural, onde moda, entretenimento e alta velocidade se encontram, criando uma nova forma de pertencimento para o público feminino.
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Fonte: Steal the Look