O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, está disposto a oferecer a exploração de seus recursos minerais aos EUA, para manter o apoio da Casa Branca em sua campanha contra a invasão pela Rússia. O colega americano, Donald Trump, disse a ele, por telefone, estar interessado em um acordo que permita aos EUA explorar esses minérios — incluindo estratégicas reservas de terras raras, usadas, principalmente, em baterias e componentes eletrônicos.
A ajuda dos EUA à Ucrânia deve se reduzir com o corte da ajuda estrangeira promovida pelo governo Trump, desde que o republicano chegou ao poder, em 20 de janeiro. Mas as reservas ucranianas de terras raras — que estima-se serem as maiores da Europa — despertam não só o interesse de Washington, como também são cobiçadas pela Rússia, de Vladimir Putin. E a maior parte das jazidas desses materiais estratégicos — 70%, segundo o governo ucraniano — está localizada nas áreas onde os combates são mais intensos, como as regiões de Lugansk, Donetsk e Dnipro.
“Estamos querendo fazer um acordo com a Ucrânia em que eles nos deem garantia [com acesso] a terras raras e outras coisas para aquilo que estamos dando para eles”, afirmou Trump, no começo da semana passada, depois de ter dito que os americanos estão colocando mais dinheiro do que os europeus na proteção da Ucrânia.
Em uma publicação no Telegram, citada pela agência americana Bloomberg, Zelensky disse que valorizava a cooperação com Trump e que as equipes ucraniana e americana estão trabalhando nos detalhes de um acordo.
Na sexta-feira (7), separadamente, Zelensky disse, em entrevista, que estava disposto a fazer um acordo para garantir mais apoio dos EUA em troca de algumas terras raras e outros minerais da Ucrânia, como carvão e gás natural liquefeito.
“Se estamos falando de um acordo, então vamos fazer um acordo, somos somente a favor”, disse Zelensky à agência Reuters, acrescentando que estava interessado em cultivar uma parceria “verdadeira” com os EUA. “Os americanos ajudaram mais e, portanto, os americanos deveriam ganhar mais”, acrescentou Zelensky.
Jazidas ainda inexploradas no subsolo ucraniano
Fontes americanas e europeias estimam que há mais de uma centena de tipos de minerais estratégicos em jazidas ainda inexploradas no subsolo ucraniano. Trata-se, portanto, de cerca de uma centena de tipos de materiais, segundo estimativas geológicas ucranianas. Esses recursos são cobiçados por grandes grupos industriais, especialmente para fabricar componentes elétricos, como os usados em smartphones.
Segundo informações do Fórum Econômico Mundial, as diversas zonas geológicas da Ucrânia fazem dela um dos dez principais fornecedores globais de recursos minerais, com o país detendo cerca de 5% do total mundial.
“A Ucrânia é um importante fornecedor potencial de metais de terras raras, incluindo titânio, lítio, berílio, manganês, gálio, urânio, zircônio, grafite, apatita, fluorita e níquel”, disse a entidade, em texto divulgado em julho passado. “É um dos poucos países que extraem minérios de titânio, cruciais para as indústrias aeroespacial, médica, automotiva e marítima.”
“Plano de vitória” de Zelensky
Kiev já havia indicado que estaria disposta a negociar acesso a esses valiosos recursos naturais em troca do apoio ocidental. Na verdade, esse foi um dos pontos que Zelensky havia delineado em seu “plano de vitória” que apresentou no fim do ano passado, quando ainda não estava claro quem ocuparia a Casa Branca em 2025, ressaltou ontem a emissora alemã Deutsche Welle.
Na época, Zelensky conversou com o então candidato Trump e havia prometido a qualquer país disposto a apoiar a Ucrânia que haveria “retornos sobre os investimentos” feitos em seu país. Ao apresentar seu plano, ele também mencionou os ricos recursos naturais da Ucrânia, que somavam “trilhões de dólares em metais de vital importância”.
Fonte: Valor