A história do filme contada através dos looks


De quesito subestimado a categoria no Oscar, os costumes contam narrativas que acompanham os
arcos das principais personagens do cinema O começo do ano é sempre agitado para as fashionistas de plantão. Semanas de moda internacionais, a folia do Carnaval e dois meses seguidos com as melhores premiações do audiovisual estão na agenda dos atentos ao mundo da moda. Já é tradição nos tapetes vermelho acompanhar as celebridades com looks icônicos — quem aí não se lembra da armadura vintage composta por painéis prateados, assinada por Mugler em 1995, e usada por Zendaya para promover a segunda parte de Duna? Para além disso, as obras indicadas aos prêmios contam com uma categoria exclusivamente dedicada à moda: a de Melhor Figurino, criada pela Academia em 1948.
“A moda tem uma relevância social e comportamental imensa, mas, durante muito tempo, foi vista como futilidade ou superficialidade, assim como os figurinos dos filmes. Antes do investimento em Hollywood, por volta das décadas de 1920 e 1930, a indústria não pensava que as roupas também contavam histórias. O pensamento era de que os atores precisavam estar vestidos e pronto”, analisa Paula Jacob, crítica, pesquisadora e professora de cinema. “No primeiro momento, o cinema estava mais interessado em aprender as técnicas e aparelhagens, buscando equilíbrio após os investimentos com uma preocupação maior no visual. Os filmes passaram a ter cores, fazendo com que a audiência notasse paletas, texturas das peças, detalhes, etc.”
Os sapatos vermelhos de Dorothy, interpretada por Judy Garland (1922-1969), em O Mágico de Oz (1939), são a primeira referência da simbiose entre moda e cinema. Em dezembro, o acessório foi leiloado pelo valor de R$ 170 milhões — isso mesmo, você não leu errado. Atravessando o século pelas telonas, momentos inesquecíveis não faltaram: o vestido branco plissado de Marilyn Monroe (1926-1962) levantado pela ventilação do metrô no filme O Pecado Mora ao Lado (1955), e Audrey Hepburn (1929-1993) usando um pretinho básico de Hubert de Givenchy (1927-2018), enquanto comia um croissant em frente à joalheria Tiffany & Co. na 5ª Avenida, em Bonequinha de Luxo (1961). “Fiquei sem palavras ao assistir Cleópatra. A produção é extremamente estonteante. Muitos cenários, muito dinheiro envolvido. Lembro de olhar deslumbrada positivamente para o figurino: muito ouro, a maquiagem, diversas texturas nas peças. É lindíssimo”, recorda Paula.

Em um passado não tão distante, Maria Antonieta (2006), de Sofia Coppola, deu o que falar ao colocar um tênis Converse entre as opções fashion da última rainha da França. No Brasil, dois filmes se destacaram por conta do figurino: A Rainha Diaba (1974) e O Beijo da Mulher Aranha (1985).
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O figurino de Pobres Criaturas, que ganhou o Oscar, é um dos exemplos mais recentes de como as roupas são uma narrativa à parte. O filme tem muitas informações visuais e auditivas que conversam, destacando a personagem principal com belos looks fluidos e volumosos. Ela cresce por meio das escolhas de tecidos, combinações e styling”, detalha a especialista.
Códigos das grifes nas telonas
Podemos dizer que a junção entre moda e cinema é um sonho. Tanto que a Chanel, maison que celebrou 110 anos na alta-costura durante a última semana de moda, é uma das precursoras. Foi Gabrielle Chanel (1883-1971), que sugeriu que Michèle Morgan usasse capa de chuva e boina no clássico Cais das Sombras (1938). Um ano depois, assinou o figurino das atrizes em A Regra do Jogo (1939). Já nos sucessos mais recentes da sétima arte, a marca emprestou looks de acervo assinados por Karl Lagerfeld (1933-2019) para as gravações de Margot Robbie em Barbie (2023). Assim como recriou o vestido de noiva de Priscilla ao dizer “sim” a Elvis Presley (1935-1977), no último filme de Sofia Coppola. “Na obra, existe a virada de chave quando ela entende que precisa sair do relacionamento com o cantor, que ela não é mais a bonequinha dele. Isso é mostrado de forma casada no longa com a moda e a maquiagem”, explica Paula.
A Saint Laurent Productions é a responsável por Emilia Pérez, que concorre a 13 categorias no próximo Oscar, em março. Figurinos do atual diretor criativo Anthony Vaccarello remetem ao universo visual das personagens do filme, que tem no elenco Selena Gomez, Zoe Saldaña e Karla Sofía Gascón. Já o próprio Yves Saint Laurent (1936-2008) transformou Catherine Deneuve em musa da maison ao vesti-la em A Bela da Tarde (1967). Paco Rabanne, agora só Rabanne, imortalizou Jane Fonda no clássico cult Barbarella (1968).
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Miuccia Prada ajudou O Grande Gatsby (2013) ao emprestar 40 vestidos do acervo da Prada e Miu Miu para que a figurinista Catherine Martin pudesse recriar os looks glamorosos da efervescência cultural dos anos 1920. Grace Jones como May Day em 007: Na Mira dos Assassinos (1985), vestindo figurino de Alaïa.
Apontada como um dos maiores talentos da nova geração de Hollywood, Zendaya e o casting de Rivais (2024) usaram criações da marca espanhola Loewe, assinados por JW Anderson, nas gravações do longa-metragem. “Para mim, os figurinistas são artistas versáteis, arrojados e que abrem espaço para experimentações. Não importa se eles se especializam em um gênero apenas ou se movimentam entre eles, caminhando entre drama, ação, comédia… Independentemente do filme, eles trabalham sério. A arte sempre permanece.”
* Matéria originalmente publicada na edição de fevereiro de Glamour Brasil
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Fonte: Glamour

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