Às vésperas do anúncio de tarifas recíprocas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta quarta-feira, também chamado de “Dia da Libertação” pelo republicano, o mercado precifica que o Federal Reserve (Fed) deve fazer ao menos três cortes de 0,25 ponto percentual nos juros ainda neste ano, levando a taxa dos Fed funds para a faixa de 3,50% a 3,75%, em contraponto com o gráfico de pontos (“dot plot”) do próprio banco central americano, que aponta para apenas duas reduções.
Apesar do recrudescimento da guerra comercial e do cenário geopolítico global, as expectativas do mercado em relação à magnitude e à quantidade de cortes permaneceram praticamente iguais desde o começo do ano, mostra a ferramenta “FedWatch Tool”, do CME Group.
No fim de fevereiro, 31,8% dos agentes financeiros apostavam em três cortes nos juros. Hoje esse valor é de 33,8%. O mercado espera que o primeiro deles aconteça na reunião de junho, e o último, em dezembro.
Na coletiva de imprensa após a última decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que boa parte da inflação neste ano deve vir das tarifas comerciais impostas por Trump. Ele também apontou que houve uma piora nas expectativas da inflação de longo prazo, mas ressaltou que elas permanecem, em geral, bem ancoradas, permitindo que o banco central americano fique em uma posição confortável para esperar por mais clareza no cenário econômico.
Desde o início da guerra tarifária, os EUA também têm mostrado uma série de dados indicando desaceleração da economia e deterioração do sentimento dos consumidores, o que levantou a preocupação de agentes financeiros sobre uma possível recessão no país.
Uma das razões para o mercado ainda precificar três cortes de juros neste ano é a visão de que o Fed deixará de olhar para os indicadores de inflação e passará a se preocupar com estimular a economia através do afrouxamento monetário, dizem os economistas Steven Ricchiuto e Alex Pelle, da Mizuho Securities.
“Claro que os investidores no mercado de títulos estão apostando que a iniciativa tarifária de Trump e os esforços de eficiência do DOGE levarão a economia a um ponto de virada, empurrando-a para uma recessão, justificando um aumento na inclinação da curva no curto prazo”, apontam os economistas, ao observarem que os juros de longo prazo têm caído de forma mais contida que os de curto prazo, o que confere um desenho mais inclinado à curva americana.
Os economistas acrescentam que a estimativa negativa para o Produto Interno Bruto (PIB) para o primeiro trimestre sugerida pelo “GDPNow”, do Federal Reserve de Atlanta, está motivando o raciocínio de desaceleração da economia americana, embora a queda esperada seja justificada por uma deterioração no déficit comercial projetado. Ontem, o modelo passou a indicar uma contração de 3,7% do PIB americano, em base anualizada, no primeiro trimestre deste ano.
“Diversos dados frustrantes de séries econômicas mais suaves, que refletem o sentimento e as expectativas futuras, também estão contribuindo para essa especulação sobre o afrouxamento da taxa do Fed”, acrescentam Ricchiuto e Pelle.
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Fonte: Valor