No Brasil, mesmo que 83% das unidades de Educação Infantil possuam livros de histórias, apenas 10% oferecem acesso livre às crianças. E, entre as 3.467 turmas analisadas pela pesquisa “Avaliação da Qualidade da Educação Infantil: um retrato pós-BNCC”, 39% não incluem atividades literárias na rotina e apenas 27% promovem momentos de leitura compartilhada.
A primeira infância, que vai do nascimento aos cinco anos de idade, é um período de intenso desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Nessa fase, experiências significativas — como o contato com a linguagem escrita e com a literatura — têm impacto direto na formação das habilidades essenciais para o aprendizado ao longo da vida. Ter acesso aos livros desde cedo amplia o vocabulário, estimula a imaginação, fortalece vínculos afetivos e promove a construção da identidade.
Apesar disso, para muitas crianças brasileiras, essa vivência ainda é distante da realidade. A leitura na infância, que deveria ser um direito assegurado a todas, segue sendo privilégio de poucos, aprofundando desigualdades desde os primeiros anos de vida.
“Ler na infância vai muito além de decifrar palavras — é garantir que todas as crianças tenham o direito de se relacionar com a linguagem escrita e a literatura de maneira significativa, prazerosa e contextualizada”, afirma Cláudia Sintoni, gerente de Implementação do Itaú Social.
Livros como pilar da qualidade na Educação Infantil
No início de 2024, o Ministério da Educação abriu uma consulta pública para atualizar os Parâmetros Nacionais de Qualidade da Educação Infantil. O novo documento, elaborado com mais de 30 mil contribuições da sociedade civil, destaca a leitura como um direito que se concretiza em duas frentes: pedagógica e estrutural.
Na dimensão pedagógica, o incentivo à leitura desde os primeiros anos deve promover o letramento, a criatividade e o pensamento crítico. A presença de educadores bem formados, capazes de mediar esse contato de forma intencional, é decisiva. Já no aspecto estrutural, é imprescindível que as instituições de Educação Infantil ofereçam acervos diversificados, acessíveis e disponíveis para o uso autônomo das crianças.
Contudo, os dados ainda revelam uma realidade preocupante. Apenas 45% das turmas realizam mediações de leitura, e muitas vezes sem intencionalidade pedagógica.
Iniciativas que fazem a diferença
Para transformar esse cenário, o Itaú Social tem atuado em diversas frentes. Por meio do programa “Leia com uma criança”, que completa 15 anos em 2025, mais de 1,1 milhão de livros estão sendo distribuídos para creches e pré-escolas da rede pública no Nordeste, beneficiando diretamente 1.793 municípios. Ao todo, o programa já distribuiu mais de 63 milhões de exemplares em todo o país, sendo pioneiro no fomento à leitura infantil.
A iniciativa integra o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, do governo federal, e se destaca não apenas pelo envio de livros, mas também pela formação de mediadores. No site do programa, educadores, bibliotecários e cuidadores têm acesso a cursos, podcasts, vídeos acessíveis e outros materiais formativos que fortalecem as práticas pedagógicas.
“A leitura na primeira infância é um processo rico. Cada palavra, imagem e gesto contribuem para o desenvolvimento integral da criança. Um educador bem preparado transforma o ato de ler em uma experiência marcante, que conecta, ensina e encanta”, reforça Cláudia Sintoni.
Desafios persistem
A pesquisa também apontou que:
- 42% das turmas não oferecem brincadeiras livres em espaços organizados pelos professores;
- Em 45%, as crianças participam das atividades de forma autônoma e ativa;
- Entre 39% e 49% das turmas, há ausência de práticas relacionadas à leitura, escrita e participação das crianças na organização das atividades;
- 39% das turmas ainda apresentam grande potencial de melhoria em estratégias que promovam o protagonismo infantil por meio do brincar.
A leitura precisa deixar de ser tratada como um complemento e passar a ocupar o centro das políticas de educação infantil. Só assim será possível garantir que todas as crianças tenham acesso, desde cedo, à riqueza da linguagem escrita e ao poder transformador dos livros.
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Fonte:Bem Paraná