BV tem lucro recorde de R$ 1,8 bilhão em 2024, com avanço de 49% | Finanças

Há dois anos o BV enfrentava um momento difícil, com a elevação da inadimplência afetando o custo do crédito e derrubando o lucro. Pouco tempo depois, o bom momento do financiamento automotivo levou o banco a registrar lucro e rentabilidade recordes em 2024. Com a estratégia de diversificação e a maturação de investimentos, como no banco digital, a instituição acredita que vai consolidar neste ano um novo patamar de retorno sobre o patrimônio (ROE, uma medida da rentabilidade), mesmo em meio a um cenário macroeconômico mais difícil.

O BV teve lucro de R$ 1,772 bilhão em 2024, com expansão de 49,2%. No quarto trimestre, o resultado foi de R$ 542 milhões, com alta trimestral de 9,2% e anual de 79,2%. A margem financeira bruta aumentou 10,5% no ano, a R$ 9,301 bilhões, enquanto o custo do crédito caiu 17,3%, a R$ 3,593 bilhões. Enquanto isso, a receita de tarifas subiu 21,6%, a R$ 2,679 bilhões. O ROE atingiu o patamar inédito de 16% no último trimestre, 6,6 pontos percentuais acima do quarto trimestre de 2023.

“Ao longo do ano, fortalecemos nosso ‘core business’, o financiamento a veículos leves usados, e tivemos crescimento em todas as linhas de produtos ligadas ao setor automotivo. Nossa relevância neste segmento nos ajudou a alavancar outros negócios, como seguros e o banco relacional”, diz Gabriel Ferreira, CEO do BV.

A carteira do BV aumentou 3,0% no ano passado, a R$ 90,504 bilhões. Mas se for colocado na conta o fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) de R$ 3,5 bilhões que o banco estruturou, esse ritmo sobe para 6,7%. Foi a primeira vez que o BV usou sua carteira de financiamento automotivo para lastrear esse tipo de operação e marcou a maior captação na indústria de FIDC em três anos. A inadimplência geral do banco ficou em 4,4% em dezembro, mesmo nível de setembro e ante 5,3% em dezembro de 2023.

O BV originou um volume recorde de R$ 28 bilhões em crédito automotivo em 2024 e a carteira cresceu 8,8%, a R$ 51,5 bilhões. Segundo Ferreira, por enquanto não há sinais de desaceleração nem de deterioração na qualidade dos ativos, apesar de janeiro ter uma sazonalidade distinta que dificulta a comparação.

De qualquer forma, ele diz que a carteira geral do banco deve crescer um pouco menos este ano, em meio ao cenário de inflação pressionada e juros elevados, com desaceleração da atividade. “Isso deve provocar uma desaceleração no mercado de crédito como um todo. A gente não tem um ‘driver’ de crescimento pelo crescimento. Nas linhas em que a gente opera, queremos maximizar a escala com rentabilidade adequada.”

No atacado, que encolheu 3,0% em 2024, para R$ 12,884 bilhões, o CEO lembra que parte do crédito foi direcionada para os mercados de capitais. O BV participou da emissão de R$ 68 bilhões em dívida (DCM) no ano passado. A carteira ampliada do banco, que inclui títulos, avais e fianças, cresceu 11,3%, a R$ 28,856 bilhões. “O fim do ano passado foi muito volátil, mas desde 2017, 2018 estamos com uma inadimplência muito controlada no atacado, com uma gestão de crédito muito bem feita, um risco mais pulverizado.”

Segundo o BV, a resolução 4966 do Banco Central, que prevê mudanças na contabilização de diversas linhas, deve ter um impacto de R$ 1,8 bilhão no seu patrimônio. Assim, o índice de capital principal, que terminou dezembro em 12,8%, deve cair para cerca de 12% em janeiro. Ronaldo Helpe, vice-presidente financeiro do BV, diz que os indicadores de capital seguem confortáveis e, de qualquer forma, os resultados deste ano devem ajudar a recompô-los. “Nosso alvo é 11,5% de capital principal, então está super resguardado. Olhando para a dinâmica de resultado à frente, os efeitos [da 4.966] positivos devem compensar os negativos, de forma que o patrimônio líquido não seja mais muito afetado.”

O BV utiliza majoritariamente o modelo de provisões com base em perda incorrida, e agora, com o novo padrão contábil, vai mudar para perda esperada. Ferreira diz que o banco já usava essa metodologia em uma pequena parte da carteira e a nova regra não deve afetar o apetite por risco. “Já temos o ‘know-how’ e não acho que muda muito nossa trajetória.”

No seu banco digital, o BC terminou o ano com 6,7 milhões de clientes, fazendo a base de depósitos saltar 164% na comparação com 2023. Nesse público, a instituição originou R$ 2,7 bilhões no ano em crédito. “Há quatro anos, esse banco relacional não existia. Agora já saímos da fase de criação e entramos na fase de monetização. Temos várias alavancas que ainda não chegaram no seu ponto máximo de extração de escala e rentabilidade. Isso deve impulsionar o resultado do banco e amortecer o cenário de desaceleração do crédito, nos ajudando a consolidar o ROE perto dos níveis atuais”, afirma o CEO.

Ferreira, do BV: relevância em financiamento a veículos leves usados ajudou a fortalecer outras áreas de negócios — Foto: Divulgação
Ferreira, do BV: relevância em financiamento a veículos leves usados ajudou a fortalecer outras áreas de negócios — Foto: Divulgação

Fonte: Valor

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