Por
EFE
Publicado em
19 de setembro de 2025
A modelo espanhola Miriam Sánchez foi a responsável por abrir, na quinta-feira, 18 de setembro, o desfile da coleção de primavera 2026 da Carolina Herrera na Plaza Mayor de Madri, com o qual Wes Gordon, o seu diretor-criativo, quis escrever uma carta de amor à capital espanhola, que descreveu como uma cidade cheia de contrastes, de caráter e de grande beleza.

É a primeira vez que a marca apresenta uma coleção principal fora de Nova Iorque e a terceira apresentação internacional — depois do Rio de Janeiro e do México — em 44 anos de história.
Os laços da fundadora da marca, Carolina Herrera, e da sua família com Espanha — em especial os da filha Carolina Adriana, que aí vive com os filhos — foram determinantes para a decisão de realizar este desfile (sem esquecer que a marca integra o grupo espanhol Puig), em pleno Madri de los Austrias (ou dos Áustria).
Diga-se: a zona histórica mais antiga de Madri, que floresceu sob o domínio da dinastia dos Habsburg da Casa de Áustria, entre os séculos XVI e XVII, com a transferência da capital em 1561 por Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal e dos Algarves, também rei de Nápoles, Sicília e Sardenha e jure uxoris rei de Inglaterra e Irlanda, inclusive duque de Milão e soberano dos Países Baixos).
A histórica praça com entrada através dos nove pórticos, que dispõe de 129 metros de comprimento e 94 de largura, foi inaugurada em 1619 após dois anos de obras. Acolheu de tudo, desde festejos populares a coroações, corridas de touros e beatificações, mas nunca, até então, foi palco de um desfile, o que despertou o interesse de curiosos e turistas, que se sentaram nas esplanadas para contemplar, em primeira fila, uma passerelle de luxo.
Outros surgiam nas varandas, sótãos e até nos telhados dos edifícios, e também não faltou quem se encostasse às vedações que circundavam a zona delimitada.
Um lugar pelo qual Gordon se apaixonou e que transformou com pérgulas em rosa-pálido, onde acolheu os convidados, que não hesitaram em cantar as canções — todas em castelhano — que ecoaram durante o desfile.
Modelos espanholas de projeção internacional, como Esther Cañadas, Blanca Padilla e Maika Merino, desfilaram numa passerelle com mais de um quilômetro, com propostas que refletiam o Madri mais característico e o savoir-faire dos seus artesãos, pensadas para uma mulher global.

“Madri foi sempre uma das minhas cidades favoritas no mundo, rica em História, arte e cultura”, confessou o criador Wes Gordon, inspirado pelo ritmo da cidade, pelo seu apetite pela vida e por uma energia que “se liga profundamente à mulher Herrera”.
A coleção presta homenagem a mulheres como Paloma Picasso e Cayetana Fitz-James Stuart — duquesa de Alba, descendente de Álvaro de Bragança (tal como a imperatriz da França, Eugenia de Montijo), o quarto de nove filhos de Fernando I (2.º Duque de Bragança, regente do reino de Portugal e dos Algarves em 1471), e de Joana de Castro, 2.ª Senhora de Cadaval e Peral — figuras que, para o criador da Carolina Herrera, encarnam dramatismo e modernidade.
As modelos percorreram a zona central da praça com propostas que incorporavam três motivos florais distintivos de Madri: o cravo, bordado a fio e em jacquards; a violeta, alusiva aos rebuçados típicos, com bordados tridimensionais; e a rosa do El Retiro — declarado Patrimônio Mundial na categoria de Paisagem Cultural, incluindo o Paseo del Prado — cultivada na histórica La Rosaleda do parque, uma zona ajardinada que cobre aproximadamente 32.000 metros quadrados.
Wes Gordon quis transpor para os têxteis a paleta dos céus de Goya e a intensidade cromática dos filmes de Almodóvar, em um jogo em que os tons iam do açafrão ao vermelho Herrera até chegar ao borgonha; não faltaram o rosa elétrico do intenso pôr do sol de Madri, o lilás-violeta, o branco puro e o preto, como o vaporoso vestido que abriu o desfile.
Não podiam falhar as referências taurinas, em propostas com ancas que evocavam a montera dos toureiros e calças justas que lembravam o pantalão goyesco.
Gordon também não se esqueceu do Madri tradicional, com mangas inspiradas nos vestidos de chulapa — ombros marcados, cinturas cingidas e saias com folhos —, reinterpretadas em chave Herrera.
A coleção revelou-se uma autêntica ode à cidade também nas suas texturas: a lã integrou padrões que remetiam para o empedrado da Plaza Mayor; as rendas leves lembravam as mantilhas das lojas da própria praça; e os bordados em rede de Lúrex evocavam as gelosias das suas janelas.
A marca não abdicou da sua paixão pelas bolinhas — um código muito pessoal em cada coleção —, vista em vestidos com folhos de linhas escultóricas.
Como noutras ocasiões, quando Carolina Herrera desfila fora da Big Apple, enriquece a sua proposta com colaborações especiais de artesãos locais que, neste caso, valorizaram o artesanato espanhol.
Foi o caso de Sybilla, que trouxe a sua sensibilidade vanguardista em três vestidos que se entrelaçavam com o DNA da Carolina Herrera, a partir do seu pessoal “fio invisível” e da sua particular maneira de criar padrões.
Palomo reinterpretou a clássica camisa branca da marca, um ícone, à qual acrescentou golas com folhos e alusões à alfaiataria vintage, misturando o seu romantismo com as linhas depuradas da casa.
Capas Seseña, um clássico da história de Madri, fundada em 1901, prestou homenagem ao dandismo e ao estilo de Reinaldo Herrera, marido de Carolina, falecido em março deste ano, numa peça que o casal Herrera sempre apreciou usar.
Andrés Gallardo, mestre de joalheria em porcelana, criou alfinetes, brincos e pendentes inspirados no cravo, a flor dos castiços de San Isidro, em que predominaram as pérolas; já a marca Levens, especializada em joias de vidro de formas orgânicas, adornou vários looks com pétalas e gotas de água.
O dia terminou com uma festa em que a marca apresentou o seu novo perfume, La Bomba — já disponível em Portugal nas lojas El Corte Inglés e Perfumes & Companhia, para citar algumas —, do qual a modelo Vittoria Ceretti é imagem.
© EFE 2025. Está expressamente proibida a redistribuição e a retransmissão do todo ou parte dos conteúdos dos serviços Efe, sem prévio e expresso consentimento da Agência EFE S.A.
Fonte: Fashion Network