Cid mudou versão sobre plano de golpe após ameaça de Moraes

A oitiva ocorreu após o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela Polícia Federal, em 21 de novembro de 2024. Com o relatório em mãos, Moraes determinou que o militar esclarecesse “omissões” entre seus depoimentos e os elementos encontrados pela PF na investigação.

Na ocasião, a PF apontou que o tenente-coronel descumpriu o acordo, por isso solicitou seu retorno à prisão, demanda apoiada pela PGR. “Então nós vamos começar de forma bem direta, o que caracteriza o meu estilo”, disse o ministro no início da oitiva, ressaltando aquela era a “última chance do colaborador dizer a verdade sobre tudo”.

Moraes destacou que a rescisão da delação resultaria na “continuidade das investigações e responsabilização” do pai de Cid, de sua esposa e de sua filha maior. O termo da audiência descreve que o militar “omitiu informações relevantes para o esclarecimento dos fatos investigados, em tentativa de minimizar a gravidade dos fatos”.

“Já há o pedido da Polícia Federal, já há o parecer favorável da Procuradoria-Geral da República, pela imediata decretação da prisão, do retorno à prisão do colaborador”, pontuou Moraes.

Durante o depoimento, Cid relatou uma reunião realizada na casa do ex-ministro e general da reserva Walter Braga Netto no dia 12 de novembro de 2022. Segundo ele, na reunião “se discutiu novamente a necessidade de ações que mobilizassem as massas populares e gerassem caos social, permitindo, assim, que o Presidente [Bolsonaro] assinasse o estado de defesa, estado de sítio ou algo semelhante”.

Na primeira versão, Cid disse que o encontro foi realizado apenas para que militares tirassem fotos com Bolsonaro e Braga Netto. Os militares que teriam pedido fotos eram os tenentes-coronéis Rafael de Oliveira e Hélio Ferreira Lima, ligados aos chamados “kids pretos”, presos durante a Operação Contragolpe, em 19 de novembro de 2024.

Segundo a PF, Oliveira e Lima teriam atuado no monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, inclusive com trocas de mensagens no momento das ações com Mauro Cid. Os dois foram denunciados pela PGR no inquérito do golpe.

Cid também mudou o relato sobre sua saída antecipada da reunião. Inicialmente, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro disse que deixou o encontro mais cedo porque precisa cumprir agenda no Palácio do Planalto.

Na nova versão, o tenente-coronel disse a Moraes que Braga Netto solicitou que ele se retirasse, pois o general, Oliveira e Lima “iriam começar a discutir planos operacionais para ações que pudessem gerar o caos social e a instabilidade política”.

“Quando entrou no nível das ideias, o general Braga Netto interrompeu e falou assim: ‘Não, o Cid não pode participar, tira o Cid porque ele está muito próximo ao Bolsonaro'”, afirmou Cid. Na oitiva de novembro, o ex-ajudante de ordens afirmou não saber no que seria usado os R$ 100 mil solicitados por militares em 2022. Antes, Cid afirmou que achava que o dinheiro seria usado para “encorpar” as manifestações pró-Bolsonaro.

“Falei: ‘General, eu não sei o que foi conversado aí, mas eles estão precisando de dinheiro’… Eu achava que eles queriam encorpar as manifestações com grupos de motoqueiros, para poder encorpar e ter um pessoal conhecido, digamos assim, na mão. Aí, ele me manda o primeiro documento, que foi aquele ‘Copa 2022’”, disse o militar.

“Naquele documento [Copa22], tava descrito que eles precisavam de hotel, carro, passagem aérea, alguns dados. O valor de cem mil, inicialmente, fui eu que falei, assim, até de maneira brincando. né? Não tinha nem ideia de gasto”, acrescentou.

Cid disse que tentou conseguir os R$ 100 mil com a direção do PL, mas o “dirigente” da legenda teria dito a ele “que não poderia utilizar dinheiro do partido para esse tipo de operação”. De acordo com o militar, Braga Netto teria arrecadado o montante com “o pessoal do agro” e teria pedido a Cid para entregar o valor a Oliveira.

Denúncia da PGR contra Bolsonaro

As penas máximas de todos os crimes imputados a Bolsonaro somam 43 anos de prisão. Mas a dosimetria da pena, caso ele seja condenado, só será definida no final do julgamento da ação penal, que ainda não foi aberta. A defesa disse ter recebido a denúncia “com estarrecimento e indignação” e reforçou que Bolsonaro “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”.

Fonte: Gazeta do Povo

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