O mercado de criptoativos não tem escapado da alta volatilidade que vem caracterizando todos os demais mercados de risco, como ações, desde a posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos.
Nesse contexto, sete casas especializadas, consultadas pelo Valor Investe, apontaram 14 diferentes criptoativos que podem ter destaque positivo em março.
Bitcoin e solana lideraram a seleção, com cinco menções, seguidos por ethereum, retomando seu posto, após alguns meses no ostracismo. Entre as que empataram na quarta posição, destaque para a tradicional XRP, que também vive uma revitalização no governo Trump.
Entre os impactos negativos das sobretaxas aplicadas pelos EUA aos produtos importados do México, Canadá e China, a ameaça de taxação também da União Europeia, o adiamento dessas cobranças e ainda a interferência na guerra da Ucrânia – ufa! -, houve um leve suspiro no domingo (2).
Cumprindo uma de suas principais promessas de campanha, Trump anunciou a criação de uma reserva estratégica de criptoativos, composta não apenas por bitcoin (BTC) – amplamente esperado -, mas também por outras quatro criptos (totalmente inesperado): ethereum, solana, XRP e cardano (ADA).
Nesse cenário, acompanhe como ficaram os destaques para março.
Primeira e maior criptomoeda em valor de mercado, o bitcoin sofreu um belo tombo em fevereiro, com o “efeito-Trump inverso”, perdendo 20%. Já o anúncio, no domingo (2), da reserva estratégica dos EUA, fez a cripto disparar 10%, em algumas horas. Já na terça-feira (4), teve o tapete puxado pela realidade macro, quando começaram a vigorar as sobretaxas a produtos importados pelos americanos do México, Canadá e China. No entanto, os especialistas permanecem otimistas.
“Apesar de fevereiro não ter sido generoso com o Bitcoin, o potencial em torno da criptomoeda permanece”, pondera Beto Fernandes, analista da Foxbit, apesar do momento atual refletir todos os ruídos políticos e macroeconômicos gerados por Trump. “Ainda é difícil medir os impactos dessas ações no médio prazo, por isso, o mercado segue cauteloso. Entretanto, a poeira tende a baixar”, afirma.
Israel Buzaym, especialista cripto do Bitybank, ressalta que a inclusão do bitcoin na proposta de reserva estratégica dos EUA reforça o reconhecimento institucional da criptomoeda. “Historicamente resiliente, o BTC continua sendo a principal reserva de valor digital e tem potencial para uma recuperação robusta conforme o mercado se estabiliza”, afirma.
Outros analistas destacam que, justamente por conta das quedas recentes, o bitcoin está “barato” e pode ser um momento de entrada estratégico.
“No curto prazo, a volatilidade ainda reflete incertezas macroeconômicas, mantendo seu preço relativamente barato”, aponta Valter Rebelo, analista da Empiricus. “O momento parece estratégico para quem busca exposição ao ativo com uma visão de longo prazo.”
“A queda de 20% no final de fevereiro tornou o ativo mais atraente para novas compras do que já estava poucas semanas atrás”, reforça Theodoro Fleury, gestor e diretor de investimentos da QR Asset.
Solana já se consolidou como um dos criptoativos de maior potencial, figurando entre os três maiores destaques do segmento desde o início do ano passado, quando um boom de criação de memecoins fez a utilização de sua rede blockchain disparar.
No entanto, Solana vem de uma forte desvalorização de mais de 40%, em fevereiro, impactada, entre outros fatores, pelo escândalo com a memecoin Libra, que envolveu o presidente da Argentina Javier Milei, conforme destaca Fleury. “Após essa forte queda, acreditamos que solana pode ter uma recuperação significativa nas próximas semanas, impulsionada inclusive pela estreia dos contratos futuros na bolsa de Chicago, em meados de março”, pontua.
A chegada dos contratos futuros de solana no mercado americano também é destacada por Raul Leal de Sousa, gerente sênior de produto na Bitso. Ele reforça ainda que a rede Solana vem atraindo cada vez mais investidores institucionais, especialmente após a integração da cripto de dólar USDC pela gigante financeira Visa, fortalecendo sua posição como um dos principais centros para transações de alta velocidade com stablecoins (as criptos atreladas a ativos reais, como moedas e commodities).
Vinícius Bazan, fundador e presidente da casa de análise Underblock, aponta que, apesar dos episódios negativos, solana começa a se recuperar “e tem alguns dos melhores fundamentos para 2025”.
A entrada de solana na composição da reserva estratégica dos EUA, que gerou um salto de 24% e queda de 20%, do dia seguinte, pode servir como um catalisador para a recuperação do preço, acrescenta Buzaym. “A robustez da rede e o crescente ecossistema de projetos DeFi (finanças descentralizadas) e NFTs (ativo digital que representa um bem que não pode ser substituído por outro, como a escritura de um imóvel e obras de arte) que tornam solana um ativo promissor para março”, pontua.
O ethereum vinha há algum tempo sendo ofuscado por sua concorrente direta Solana, no segmento de criação e execução de contratos inteligentes, em função de ter custos mais altos e transações mais lentas. Mas ainda é a maior rede blockchain utilizada no mundo.
Rebelo destaca que essa tecnologia viabiliza o desenvolvimento de aplicações descentralizadas (dApps), que oferecem produtos e serviços de forma semelhante às empresas tradicionais, mas com mais eficiência, transparência e descentralização, além de oportunidades para geração de rendimentos.
“Embora existam outras redes voltadas para smart contracts, Ethereum se destaca como o maior e mais consolidado ecossistema de finanças descentralizadas, reconhecido por sua segurança e alto nível de descentralização”, aponta Rebelo, acrescentando que é o único criptoativo, além do bitcoin, com um ETF negociado nos EUA.
Em fevereiro, ethereum também sofreu um baque, se desvalorizando 30%, com a invasão na plataforma Bybit e o roubo de tokens equivalente a US$ 1,5 bilhão.
Fernandes ressalta que, apesar do episódio – que acendeu vários alertas sobre a segurança das plataformas de negociação e de suas carteiras digitais -, o ethereum continua uma moeda forte. Segundo ele, a crise das memecoins abalou sua maior concorrente, Solana, fazendo o Ethereum retomar seu status de “premium” no desenvolvimento de aplicativos e contratos inteligentes.
Rony Szuster, analista do MB, por sua vez, avalia que ethereum “possui catalisadores muito positivos para os próximos meses, com destaque para uma atualização tecnológica em sua rede, que irá proporcionar diversas melhorias na infraestrutura de seu ecossistema”.
“É importante ressaltar que o projeto tende a ser um dos principais beneficiados com a melhora do aspecto regulatório do meio cripto nos Estados Unidos, acelerando o processo de tokenização institucional em redes seguras e diversificação de investimentos no setor via ETFs”, afirma Szuster.
Ethereum também entrou na composição da reserva estratégica dos Estados Unidos, chegando a se valorizar 13%, no domingo (2), mas devolveu o ganho na sequência.
Meio “esquecida” pelos especialistas do mercado, a XRP voltou à cena em meio às expectativas favoráveis do novo governo Trump, registrando uma das maiores valorizações entre campanha e a eleição do candidato republicano.
XRP é uma criptomoeda criada pela empresa Ripple, que tem como objetivo principal facilitar transferências de dinheiro entre países de forma rápida, barata e eficiente.
Fernandes afirma que a cripto começou a mostrar recentemente um potencial de valorização interessante, por três motivos. O primeiro é o lançamento da cripto de dólar (stablecoin) RLUSD, pela Ripple. Outros pontos são a aproximação da empresa com o governo americano e um cenário regulatório mais favorável.
XRP também entrou na lista de criptos que vão compor a reserva estratégica americana, saltando 34% no dia do anúncio. E, ao contrário de suas pares na reserva, se mantém em terreno positivo, acumulando alta de 18%, nos últimos sete dias.
“Apesar da volatilidade recente, sua adoção crescente no setor de pagamentos, baseados em blockchain e a resolução de pendências regulatórias reforçam seu potencial de valorização”, reforça Buzaym.
Já Fernandes avalia que, “apesar da tecnologia muito boa, o token não conseguiu ganhar tração como moeda de pagamentos internacionais, seja por apresentar uma centralização muito forte em seu sistema ou pela facilidade que as stablecoins oferecem nessas transações.”
Confira a íntegra dos destaques para março de cada casa
Bitso
Ativo | Ticker |
Virtuals Protocol | VIRTUAL |
Solana | SOL |
Hedera | HBAR |
Bitybank
Ativo | Ticker |
Bitcoin | BTC |
Ethereum | ETH |
Solana | SOL |
XRP | XRP |
Cardano | ADA |
Empiricus
Ativo | Ticker |
Bitcoin | BTC |
Ethereum | ETH |
Solana | SOL |
Foxbit
Ativo | Ticker |
Bitcoin | BTC |
Ondo | ONDO |
Toncoin | TON |
Ethereum | ETH |
XRP | XRP |
MB
Ativo | Ticker |
Ethereum | ETH |
Virtuals Protocol | VIRTUAL |
Bittensor | TAO |
Ondo | ONDO |
Pendle | PENDLE |
QR Asset
Ativo | Ticker |
Solana | SOL |
Bitcoin | BTC |
Sonic | S (ex-FTM) |
Underblock
Ativo | Ticker |
Bitcoin | BTC |
Solana | SOL |
Sonic | S |
Grass | GRASS |
Kamino | KMNO |
Fonte: Valor