Do trio à avenida, essas mulheres se tornaram referência em moda carnavalesca


Alice Correa, Bella Delfim, Clarissa Romancini e Michelly X contam como a mágica por trás das fantasias mudou suas respectivas carreiras Há um quê de encanto, mistério e até heroísmo em vestir-se de outra persona. Um superpoder pulverizado no Carnaval desde sua origem, lá no Império Romano, e presente até hoje na história de países como Itália, Portugal e Espanha, além do Brasil, é claro. Para mim, a ficha de que fantasias se tratavam de portais mágicos caía quando entrava na casa da minha avó paterna às vésperas dos desfiles da nossa escola de samba do coração, o Camisa Verde e Branco. Minhas tias e ela costuravam as roupas e adereços para esse quesito que avalia a impressão causada pelas formas, materiais e cores; o acabamento e a leveza; e a uniformidade de detalhes. A alquimia acontecia entre o arremate final na máquina de costura, passava pelo sorriso de alívio de quem garantia o seu figurino e findava na avenida, onde o ordinário alcança a realeza ali na folia.
O oposto também acontecia: na Idade Média, a nobreza se escondia por trás de máscaras e adornos para extravasar nas ruas de Veneza, livre de julgamentos alheios. Mesmo sem um trono e uma coroa para carregar, esse escapismo segue quando perucas, tutus e companhia viram álibis perfeitos para performar uma versão menos podada. E há dados que comprovam essa teoria. O Instituto Quaest identificou que, em 2024, 70% dos brasileiros desejavam curtir o Carnaval de alguma forma, um aumento de 7% em comparação a 2023. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) também projetou no ano passado R$ 5,5 bilhões em vendas online de produtos com essa temática, sendo o segmento da moda um dos mais fortes.
Da avenida ao bloco, do trio ao baile, há uma cena de designers atentos às possibilidades oferecidas pela festa, transformando o amor pelo Carnaval e pela moda em negócios lucrativos. A seguir, quem assina os looks das principais musas conta como também caiu nas graças de anônimas apaixonadas por uma montação. Abram alas para Alice Correa, Bella Delfim, Clarissa Romancini e Michelly X.

Cabeça feita
Clarissa Romancini é a fundadora e mente criativa por trás da Ohlograma
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Toda vez que alguém escolhe ir para o bloco sem um pingo de caracterização, Clarissa Romancini, mesmo de longe, sente muito por isso. Afinal, a diretora criativa, nascida em Brasília e radicada no Rio de Janeiro, é entusiasta do movimento revolucionário do fantasiar-se. “A oportunidade do humor é uma das grandes riquezas”, alerta a fundadora da Ohlograma, marca que teve os acessórios de cabeça como carro-chefe e hoje tem portfólio para um guarda-roupa inteiro.
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“Nos anos 2000, o Carnaval de rua no Rio vivia um momento incrível. Vestia todos os meus amigos”, lembra Clarissa, que juntou essa paixão pela folia com os 15 anos de experiência em grandes marcas. “Conforto é mandatório, então a minha coleção de chapéus e óculos é muito maior hoje em dia. É estar adornado e protegido.” Com essas premissas, a Ohlograma ganha as ruas de blocos Brasil adentro e do mundo. “Temos um projeto de levar uma pop-up da etiqueta para festivais internacionais”, revela Clarissa sobre os eventos musicais que fortalecem as vendas ao longo do ano.
Sob medida
Bellinha Delfim leva a vivência como passista a looks impactantes e confortáveis
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As fantasias são mais do que brilho. Lidamos com sonhos e história.
Dificilmente um vídeo de Bellinha Delfim riscando o chão da Sapucaí no ensaio da Viradouro passa batido na timeline. A musa da escola de samba de Niterói (RJ) vira e mexe viraliza nas redes por conta da maestria de cada movimento. A precisão vem de um histórico de atleta: “Sou bailarina, mas também fiz atletismo”, conta a passista responsável por um dos principais ateliês de fantasias do Rio de Janeiro. “Em 2020, resolvi abrir esse espaço para suprir a falta de figurinos mais leves e confortáveis para performar. Além disso, ter um resultado bonito e entregas no prazo”, elenca a empresária à frente de um time de sete funcionários.
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Com uma posição estratégica na produção, ora desenhando, ora checando se o peso do costeiro não tira a mobilidade, Bellinha conquistou a confiança de estrelas de comunidades às artistas, como a sul-africana Tyla, Anitta e Alcione. O fato de estar nos dois lugares: musa e estilista, sem dúvida, é um diferencial. “Todos os meus figurinos são feitos pelo meu ateliê, então implemento neles coisas para mostrar às clientes, por exemplo, que dá para dançar sem a armação de ferro machucando. As fantasias são mais do que brilho, lidamos com sonhos e história”, entende a designer, que trocou o endereço do ateliê na Ilha do Governador por um espaço ao lado do Aeroporto Santos Dumont e sonha em vestir lendas como Sabrina Sato, Ivete Sangalo e IZA.
Old school
Alice Correa e Debora Cruz estão à frente da Dercy, marca com a irreverência da humorista no DNA
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O não se levar a sério é uma premissa que caminha lado a lado da energia carnavalesca e também do ícone brasileiro Dercy Gonçalves. A sintonia entre a humorista desbocada e a festividade foi captada pelas amigas Alice Correa e Debora Cruz, da Dercy, que, em 2017, criaram e batizaram a marca de fantasias e acessórios com o nome da artista. “É um evento que desperta paixão em todo o Brasil. Nosso desafio foi traduzir a essência dela em uma experiência digital envolvente e direta. Além de vender, usamos o site e as redes sociais para inspirar, interagir e trocar experiências com nosso público”, conta a empresária mineira.
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Para este ano, a marca deixa um convite aos foliões para uma viagem no tempo, mais especificamente entre os anos 1930 e 1960. “A coleção Carnachanchada é uma ode ao humor e ao glamour das chanchadas brasileiras, trazendo irreverência e aquele charme nostálgico com a cara da Dercy. Nosso objetivo é que cada peça faça as pessoas se sentirem protagonistas”, explica Alice sobre o novo drop, trabalhado em estampas geométricas, poá e efeito holográfico. Ela acredita que a “irreverência transforma a fantasia em uma memória inesquecível”, por isso encoraja os clientes a usarem as peças com autonomia e criatividade para viver intensamente cada momento da festa.
Rainha delas
Michelly X assina figurinos de musas como Ivete Sangalo e Thelminha
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Se tem alguém onipresente nos Carnavais pelo Brasil, esse alguém é Michelly X. A presença da estilista pode não ser física, mas as suas criações fazem as vezes com imponência. Do trio elétrico de Ivete Sangalo, dando um pulo nos Ensaios da Anitta ou acompanhando Erika Januza à frente da bateria na Sapucaí, há figurinos feitos por Michelly por todo lugar. Por sinal, vestir looks da estilista se tornou uma chancela na carreira das musas. Depois do primeiro convite para criar um corset para Monique Evans no desfile da Grande Rio, em 2010, um compromisso foi selado com o Carnaval.
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Desde então, a designer criou para nomes como Xuxa Meneghel, sua ídola, Suzana Vieira e Claudia Raia. “Comecei fazendo roupa para drag queen, então já estava acostumada com esse exagero de brilho, cristal, cabeças e costeiros”, explica a criativa, que comanda um ateliê com mais de dez funcionários. A estratégia para se adaptar ao ambiente carnavalesco é multifatorial. “A Ivete, por exemplo, não usa costeiro, por isso exploramos headpiece, capas, volumes. É uma roupa de show, só que mais over e conectada ao tema daquele ano.” Já nos desfiles das escolas de samba, os elementos só ficam mais incrementados. “No ano passado, fizemos aquela cabeça de onça da Paolla Oliveira que cai no rosto e transforma a roupa. Tem gente que quer uma asa automatizada ou uma luz especial. Sempre tem uma novidade do tipo”, diverte-se.
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Fonte: Glamour

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