Donatella Versace, a herdeira que deu continuidade ao legado de Gianni

Por

AFP

Traduzido por

Helena OSORIO

Publicado em



17 de março de 2025

A extravagante Donatella Versace, que deixará no final de março o cargo de diretora artística da maison milanesa fundada por seu irmão Gianni, manteve a marca no auge do glamour e do estilo barroco.

Donatella Versace
Donatella Versace – AFP

Para muitos, Versace é sinônimo de moda ousada e provocativa, assim como a própria Donatella, irmã mais nova de Gianni, que lançou a marca em 1978.

No entanto, especialistas do setor sabem que há mais por trás dessa história. A Versace, que permaneceu uma empresa familiar até 2018, foi construída com base em habilidade técnica e trabalho artesanal. Apesar de anos de incerteza, a visão e a resiliência de Donatella ajudaram a manter a marca relevante.

Ele herdou as rédeas criativas em circunstâncias trágicas, após o assassinato de Gianni em 1997, do lado de fora de sua luxuosa mansão em Miami. E durante anos, lutou para emergir de sua sombra.

Ao mesmo tempo familiar e distante, entusiasta e ansiosa, a estilista — reconhecida por seus olhos esfumados e cabelo platinado característico — personificava o poder enquanto lutava secretamente contra a síndrome do impostor.

“Por muito tempo, senti que estava aqui apenas por causa de uma tragédia, não porque eu merecia”, admitiu certa vez com sua voz nasalada característica. “Eu preferiria que ele estivesse vivo e que continuasse trabalhando ao lado dele”, acrescentou.

Nascida em 2 de maio de 1955, em Reggio Calabria, no extremo sul da Itália, Donatella cresceu à sombra de seus irmãos mais velhos, Santo e Gianni. Sua mãe era dona de uma pequena oficina de costura e, desde muito jovem, Donatella — que tingiu o cabelo de loiro quando adolescente — se tornou a musa de Gianni.

Ela o seguiu para Florença para estudar moda e depois para Milão, onde começou a fazer seu nome. Como sua autoproclamada “musa e conselheira”, ela desempenhou um papel decisivo na formação da estética barroca e sensual da Versace.

Vestida de couro e equilibrando-se em saltos altos, Donatella não era apenas uma força criativa, mas também mestre na criação de imagens. Uma insider de Hollywood antes que isso se tornasse a norma, ela foi uma das primeiras estilistas a recorrer a celebridades como embaixadoras de marca, contratando Madonna, Prince e Elton John para suas campanhas.

Ela também entendeu o poder dos principais fotógrafos (Avedon, Steven Meisel) e da nova geração de supermodelos, contratando Naomi Campbell, Claudia Schiffer e Carla Bruni. “Essas novas modelos mudaram a moda e se tornaram parte da família Versace”, explicou em um documentário de Loïc Prigent.

Conhecida por se cercar de homens bonitos, ela se casou com o modelo da Versace, Paul Beck, em 1983, com quem teve dois filhos, Allegra e Daniel, ambos adorados por seu tio Gianni.

A moda como arma 

O assassinato de Gianni por um louco marcou o fim da era de ouro de Versace. Em seu testamento, ele deixou 20% da empresa para Donatella, 30% para Santo e os 50% restantes para Allegra.

Impulsionada para o papel de diretora criativa, Donatella lutou para encontrar seu lugar. Embora já tivesse supervisionado campanhas publicitárias para a Versace e a linha Versus, ela nunca havia estado à frente da grife.

A indústria da moda não foi gentil. Sem autoconfiança, ela entrou em depressão, e a marca sofreu junto com ela. À medida que outras marcas de luxo se expandiam globalmente, a receita da Versace despencou: de US$ 1 bilhão em 1996 para menos da metade em 2009.

Os tabloides se deleitaram com suas dramáticas transformações por meio de cirurgias plásticas e com a batalha de sua filha Allegra contra a anorexia. A luta de Donatella contra o vício em cocaína culminou em uma intervenção organizada por seus amigos, o que a levou a uma temporada na reabilitação em 2004.

O ponto de virada veio em 2009 com a chegada do CEO Gian Giacomo Ferraris. Sob sua liderança, a Versace se diversificou, expandindo-se para os setores de hospitalidade, relojoaria e fragrâncias, e fez um retorno ousado à alta-costura com designs ousados ​​e atraentes.

Agora sóbria, Donatella aprendeu a aceitar seu passado. Ela assumiu seus erros, assumiu seu status de sobrevivente e até brincou sobre sua aparência característica, semelhante a uma armadura, dizendo que ela a fazia se sentir invencível. Sua amiga íntima Lady Gaga até dedicou uma música a ela, zombando de forma brincalhona da percepção pública.

“Versace sempre será Versace: luxo, glamoursexy, chique”, disse ela ao diário francês Libération. “Nunca considerei uma alternativa ou um plano B. Minha vida inteira girou em torno da moda e da Versace”, ela comentou.

Prestes a completar 70 anos, Donatella ainda não desistiu da Versace. A partir de 1º de abril, ela assumirá o papel de embaixadora-chefe, supervisionando as iniciativas filantrópicas da marca.

Por Raphaëlle Picard
 

Copyright © AFP. Todos os direitos reservados. A Reedição ou a retransmissão dos conteúdos desta página está expressamente proibida sem a aprovação escrita da AFP.

Fonte: Fashion Network

Compartilhar esta notícia