A cidade de São Paulo é carregada de superlativos (maior cidade brasileira, maior PIB do país, maior rede ensino nacional), mas esses números gigantescos não são capazes de esconder que ela também é plena de desafios e contrastes.
O município que completa neste sábado (25) 471 anos tem, por exemplo, distritos com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) parecidos com os de Austrália, Finlândia, Canadá, entre os melhores do mundo – casos de Pinheiros e Vila Mariana. Ao mesmo tempo, Parelheiros, na zona sul, tem um IDH médio, parecido ao de Iraque e El Salvador e melhor que o de alguns Estados brasileiros pelo indicador de 2010, como Bahia, Pernambuco e Amazonas.
O PIB total da cidade de São Paulo em 2021 (dado mais recente) era de R$ 829 bilhões ou 9,2% da produção brasileira naquele ano, mais que o dobro do Rio Janeiro (R$ 360 bilhões), a segunda colocada.
Esse número não é só resultado de ter a maior população do país (11,45 milhões de habitantes), já que o peso de São Paulo no PIB nacional (9,2%) é maior que a sua participação na população total (5,6%).
Esse volume, porém, não significa que, proporcionalmente, São Paulo é a cidade mais rica do país. O município tem um PIB per capita de R$ 66,9 mil, 60% maior que a média nacional, mas insuficiente para estar nem entre o top 100 do país. O ranking nacional do PIB per capital é liderado por Catas Altas, em Minas Gerais, com R$ 921 mil. São Paulo aparece no 510º lugar no país e na 72ª colocação no Estado.
Nos últimos três anos, a inflação em São Paulo ficou levemente acima da média nacional. Em 2024, por exemplo, o índice da cidade fechou dezembro em 5,01% em 12 meses, ante o IPCA brasileiro de 4,83%. Entre as capitais que o IBGE divulga dados, a inflação de São Paulo só foi menor que as de São Luís (6,51%), Belo Horizonte (5,96%), Goiânia (5,56%) e Campo Grande (5,06%). A menor inflação das capitais foi de Porto Alegre: 3,57%.
Em dezembro de 2024, São Paulo tinha a cesta básica mais cara entre 17 capitais brasileiras. Na maior cidade do país, o conjunto de alimentos básicos custava R$ 84,129, o equivalente a 64,41% do salário mínimo nacional. A alta do preço ante um ano antes foi de 10,55%, só ficando atrás das de Natal (11,02%) e João Pessoa (11,91%). A menor alta foi em Porto Alegre: 2,24%. A segunda cesta básica mais cara das capitais era em Florianópolis, onde custava R$ 800,31. A mais barata do país era a de Aracaju (R$ 554,08).
Além de conviver com preços mais caros de produtos básicos e inflação maior que a nacional, a população nacional convive com uma forte diferença de rendimento a depender da região em que se vive.
A diferença de rendimento para quem trabalha com carteira assinada entre os 96 distritos da cidade chega a quase 400%. Em São Domingos, na zona noroeste, o valor médio ficou em R$ 8.515, enquanto em Artur Alvim, na zona leste, era de R$ 2.220, segundo o Mapa da Desigualdade de São Paulo 2024, da Rede Nossa São Paulo.
A taxa de desemprego em São Paulo acompanha o cenário nacional e vem em queda nos últimos trimestres. Ela estava em 5,8% no período de julho a setembro do ano passado, ante 6,4% — foi o quinto trimestre consecutivo que a taxa paulistana ficou abaixo da brasileira
Na comparação com as outras capitais, o nível de desemprego de São Paulo era o décimo menor do país no terceiro trimestre de 2024. O menor era de Cuiabá (2,7%), seguido por Campo Grande (2,8%) e Porto Velho (2,9%). Na outra ponta estavam Salvador (11%), Recife (10,4%) e São Luís e Manaus (ambas com 10%).
Enquanto o desemprego entre homens é muito parecido em São Paulo (5,2%) e no Brasil (5,3%), entre as mulheres a diferença é expressiva: 7,7% na média nacional e 6,4% na capital paulista. Cenário parecido acontece entre pardos (7,3% no país e na cidade) e brancos (5,2% em São Paulo e 5% no Brasil), mas muda para pretos (4,4% no município e 7,6% na média nacional).
Na análise por faixa etária, o desemprego em São Paulo é maior que o brasileiro entre os jovens de 14 a 17 anos: 25,8% a 25,1%. Nas demais faixas, o desemprego é sempre menor em São Paulo. A maior diferença é no grupo de 18 a 24 anos – 12,1% em São Paulo, ante 13,4% no país.
O nível de instrução de São Paulo é muito maior que a média nacional, mas isso não significa que a cidade mais rica do país esteja nos primeiros lugares nos rankings que medem a qualidade de educação no país.
Em São Paulo, 26,4% da população paulistana tem ensino superior completo, ante 15,1% no Brasil. Na outra ponta, 27,4% dos que moram em São Paulo não têm instrução ou contam com ensino fundamental incompleto, parcela que sobe para 38,5% na média nacional
No Ideb (indicador que mede a qualidade da educação básica), as escolas públicas de São Paulo ficaram na 563ª colocação entre 643 municípios paulistas analisados para os anos iniciais no ensino fundamental. O cenário é muito parecido nos finais do ensino fundamental (561º lugar entre 627 localidades do Estado)
A taxa de alfabetização em São Paulo é de 97,42%, mais de quatro percentuais maior que a nacional (93%).
São Paulo tem a maior população vivendo em favelas no Brasil: 1,7 milhão de pessoas. Ou seja 15,1% da cidade mora em comunidades, ante 8,1% da média nacional. A segunda cidade com mais pessoas em favelas é o Rio de Janeiro, com 1,3 milhão (21,7% da população da cidade).
Em números proporcionais, porém, São Paulo está muito longe de ser a cidade brasileira com mais pessoas morando em favelas. Pelo Censo do IBGE, 656 municípios do país possuem comunidades. A maior fatia está na região Norte. A líder é Vitória do Jari, no Amapá, onde 69,3% da população vive em favelas. Ela é seguida por três cidades do Pará: Ananindeua (60,2%), Marituba (58,7%) e Belém (57,2%). Em quinto lugar está Manaus (55,8%). A primeira cidade fora da região Norte é Paranaguá, no Paraná, que tem 47,2% dos habitantes em favelas.
Em São Paulo, um terço da população vive em apartamento, mais que o dobro da média nacional (14,7%). A fatia de pessoas morando em casa é, consequentemente, menor que a brasileira: 64,4% em São Paulo e 82,5% no país.
O aluguel também é mais importante para quem mora em São Paulo: 28,4% vivem nessa modalidade no município, ante 22,2% no Brasil. No ranking nacional, São Paulo está em 311º lugar entre as cidades em que a população mais depende do aluguel. A maior parcela é de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso: 5,16%.
Já viver na casa própria é realidade para 65,8% dos moradores de São Paulo (4.894º lugar no ranking nacional). O menor índice também está em Mato Grosso, mas em Campo Novo do Parecis (42,2%). Em algumas cidades de Maranhão e Piauí, essa fatia se aproxima de 100%, casos de Guariba (PI) e Icatu (MA), por exemplo, com parcela na casa de 96%.
A infraestrutura das residências em São Paulo é melhor que a média nacional. Por exemplo, 99,2% das residências do município têm ligação com a rede de água e 95,2% estão conectados à rede de esgoto. Essa parcela no Brasil cai, respectivamente, para 83,9% e 64,7%.
Com o reajuste de 13,6% que entrou em vigor neste mês, a passagem de ônibus em São Paulo subiu para R$ 5 e é a sétima mais cara entre as capitais brasileiras. O maior valor é o de Curitiba (R$ 6) e a mais barata é a de Maceió (R$ 3,49).
Além de pagar mais caro do que a maioria das outras cidades, os paulistanos passavam mais tempo no deslocamento ao trabalho: 7,8 horas por semana (contando ida e volta, independentemente do meio de transporte), três horas mais que a média nacional.
O tempo gasto no transporte público para chegar ao trabalho é outro indicador das desigualdades paulistanas. Moradores de zonas centrais e mais ricas gastam menos da metade do tempo no deslocamento no horário de pico pela manhã.
Enquanto em Pinheiros se gasta 25 minutos e na Sé, na Barra Funda e na República são 26 minutos, em Marsilac é preciso gastar 71 minutos em ônibus, trem e metrô. Em Cidade Tiradentes (66 minutos) e Parelheiros (62) são outros distritos em que se gasta mais de uma hora no deslocamento, segundo o Mapa da Desigualdade de São Paulo.
Outro dado que indica as diferenças profundas na sociedade paulista é o que mede a idade média ao morrer.
Na média dos distritos, as pessoas vivem até os 70 anos. Esse número, porém, é bem maior em locais como Alto de Pinheiros (82 anos) e Pinheiros e Jardim Paulista (81 anos em ambos), segundo o Mapa da Desigualdade. Em Anhanguera, no noroeste do município, a média é 58 anos, enquanto em Iguatemi, Sé e Cidade Tiradentes ele fica em 60 anos, de acordo com o levantamento baseado em dados do governo federal e da Secretaria municipal de Saúde de São Paulo.
Fonte: Valor