Na próxima sexta-feira (11 de abril), o Bar e Restaurante Irie CWB, localizado no Centro de Curitiba (Alameda Prudente de Moraes, 1282) vai receber um show muito especial. Na ocasião, a partir das 19 horas, se apresentam no local o cantor Antônio Carlos Tatit Holtz e o pianista Andre Collini, que trarão ao público uma seleção de clássicos do jazz americano e da música brasileira, francesa, mexicana e cubana, com direito a alguns boleros. Um roteiro musical internacional, que vai passear por momentos da incrível vida do cantor, hoje com 88 anos de idade e uma trajetória musical que se iniciou em 2018, quando ele já estava com 81 anos.
“O pessoal acha interessante pela maneira que eu apresento as músicas. Porque eu não só canto a música, mas eu conto a história da música. Eu faço uma sequência cronológica, ligando a minha vida, onde eu estava e o que estava acontecendo no mundo, com as músicas que apresento”, conta o cantor, que começou cantando praticamente só música francesa e jazz, mas hoje já enriqueceu ainda mais o repertório. “Atualmente estou com uma mistura boa, inclusive com sons cubanos e mexicanos, um bolero metido no meio… A minha ideia é fazer um roteiro de músicas internacionais”, comenta também ele, que tem ensaiado muito para deixar seu novo repertório “redondinho”, perfeito.
“A música virou minha nova profissão”, sentencia Antônio Tatit, nome artístico que adotou. “Meu nome completo é Antônio Carlos Tatit Holtz. Eu tô usando só Antônio Tatit, porque o Holtz é o meu nome profissional de engenheiro, vamos dizer”, explica ainda o engenheiro civil aposentado.
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Dr. Holtz, engenheiro e cidadão do mundo
Formado engenheiro em dezembro de 1960, Antônio logo começou sua carreira na área. Trabalhou no Departamento de Água e Energia Elétrica de São Paulo e chegou a abrir sua própria construtora, construindo um prédio de 15 andares na capital paulista. Em 1962 se casou com Graciema Pimentel, sua esposa até hoje, e no ano seguinte teve seu primeiro filho. “Mas o primeiro filho não se dava bem com a água de São Paulo, então nós resolvemos que íamos nos mudar. Foi quando vendi meu negócio para o meu sócio e vim para Curitiba.”
Na capital paranaense, trabalhou na Copel e começou a dar aulas na Universidade Federal do Paraná (UFPR), na área de hidráulica e hidrologia, ao lado de Parigot de Souza. Isso até 1966, quando foi convidado para um estágio de seis meses na França, período no qual viveu nas cidades de Paris e Grenoble. Foi quando começou a se tornar um cidadão do mundo. Retornou ao Brasil e em 1968 veio o convite para trabalhar na OEA (Organização dos Estados Americanos), em Washington, D.C. A experiência americana durou até dezembro de 1969, quando foi convencido a retornar ao Brasil para trabalhar na Eletrobras.
“A Eletrobras ia fazer o inventário hidrelétrico da Amazônia e da Bacia do São Francisco. Me convenceram e me mudei para o Brasil novamente, vindo para o Rio de Janeiro. Saí em janeiro de 1970 de Washington, com 42 graus Fahrenheit [menos de 6ºC], e desci no Rio de Janeiro com 42 graus centígrados. Daí que eu senti o drama. Aquele calorão… E não é o Rio de Janeiro de hoje, cheio de ar-condicionado. Naquele tempo você tinha de ir num restaurante de casaco, todo mundo usava terno e gravata, pô… Mas eu sobrevivi a isso, não se preocupe”, brinca o engenheiro aposentado e cantor ativo.
Ministro interino de Minas e Energia e a volta a Washington, D.C.
No Rio de Janeiro, a família Holtz estabeleceu raízes e permaneceu até 1989, com Antônio galgando espaço dentro da Eletrobras até ser escolhido como diretor de Planejamento e Engenharia da empresa, cargo que ocupou por sete anos. Só saiu de lá para assumir como secretário-geral do Ministério de Minas e Energia, em Brasília, chegando a assumir algumas vezes a função de ministro interino, já que o titular da pasta viajava muito. “Na época tive até que mudar minha assinatura, que ficou curtinha como é hoje em dia, porque não dava para assinar tanto papel. Mas eu aprendi muito”, celebra ele.
Nos anos seguintes, chegou a trabalhar na Organização Latinoamericana de Energia (OLAD), em Quito (no Equador), até ser convocado em 1992 pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), onde trabalhou até 1998, quando se aposentou. E depois da aposentadoria, era hora de voltar ao Brasil.
A escolha por Curitiba e a redescoberta do canto
No retorno ao país natal, a opção de Antônio e Graciema foi por se mudar para Curitiba. O motivo? A veia cultural pulsante da cidade. “Em 1995 o Jaime Lerner e o Rafael Greca levaram a Camerata, a orquestra, para se apresentar em Washington. Eles se apresentaram no Banco Mundial e no BID, e quando vimos aquilo, percebemos que a cidade tinha cultura para a gente viver. Vendi meu apartamento em Brasília e comprei aqui um apartamento e mais um carro, porque os preços aqui não era tão altos. E aí comecei minha vida aqui. Minha irmã também já morava na cidade e depois meus filhos começaram a se mudar para cá.”
Uma das noras de Antônio, no entanto, é uma venezuelana que também se dedica ao canto lírico. E há alguns anos ela colocou uma das netas do engenheiro civil aposentado para cantar, e depois as duas irmãs dela também quiseram começar as aulas. Foi quando o vovô Antônio virou motorista das netinhas para as aulas musicais.
‘Por que estou nessa de motorista, se também posso participar?!’
“Eu levava elas na escola de música Paideia, e um dia pensei: ‘por que eu estou nessa de motorista, se eu também posso participar?’. Daí falei com o pessoal da escola e comecei a cantar em 2018, quando já estava com 81 anos. Comecei a estudar, cantar, e no final daquele mesmo ano fiz minha primeira apresentação, na Capela Santa Maria. Depois recebi um convite para cantar na Aliança Francesa, já que sabia francês, já tinha morado no país. Comecei a me preparar para cantar com o Andre Collini, pianista e meu parceiro até hoje. Mas aí veio a pandemia e tivemos que adiar a apresentação, que depois acabou sendo feita de forma remota, online.”
Hoje, o cantor Antônio Tatit já se apresentou em diversas casas de Curitiba, como o Comedy Club e o Dizzy Café Concerto. Além disso, também divulga suas performances no YouTube, no canal Antônio Tatit (@@antoniotatit8693), com 43 vídeos publicados nos últimos três anos. “A música virou minha nova profissão”, assegura ele. “Meu propósito é mostrar que mesmo depois de aposentado de suas atividades profissionais, qualquer um pode começar a se educar e desfrutar de outro tipo de atividade além da que exerceu durante sua vida profissional”, explica ainda o cantor.


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Fonte:Bem Paraná