Os Estados Unidos estão expulsando o embaixador da África do Sul, disse o Secretário de Estado Marco Rubio, chamando o diplomata de um “político que instiga tensões raciais” e que odeia o presidente Donald Trump. As relações entre os dois países deterioraram-se desde que Trump cortou a ajuda financeira dos EUA à África do Sul, citando sua desaprovação em relação à política fundiária do país e ao processo com acusação de genocídio movido contra Israel, aliado de Washington, no Tribunal Internacional de Justiça.
“O embaixador da África do Sul nos Estados Unidos não é mais bem-vindo em nosso grande país”, declarou Rubio na sexta-feira em um post na plataforma X, referindo-se à rara decisão de barrar o principal diplomata de uma nação. “Ebrahim Rasool é um político que instiga tensões raciais, que odeia os Estados Unidos e odeia @Potus (Trump).”
Em comunicados da presidência e do departamento de relações internacionais, a África do Sul classificou a decisão como lamentável, mas afirmou que continua comprometida com a construção de relações mutuamente benéficas e que abordará a questão por meio de canais diplomáticos.
Rubio repostou um artigo do site de direita Breitbart que citava Rasool afirmando que Trump estava liderando um movimento supremacista branco. O diplomata deve deixar o país até 21 de março, informou um porta-voz do Departamento de Estado no sábado. A agência de notícias “Reuters” não conseguiu entrar em contato com Rasool nem confirmar seu paradeiro.
O site de notícias Semafor informou nesta semana que Rasool não conseguiu realizar reuniões rotineiras com funcionários do Departamento de Estado e figuras-chave do Partido Republicano desde que Trump, um republicano, assumiu o cargo em janeiro. O Departamento de Estado acrescentou que os EUA estão revisando sua política para a África do Sul, citando a política fundiária do país, seus laços cada vez mais estreitos com países como Rússia e Irã e suas “posições agressivas” em relação aos EUA e seus aliados.
Relações no ‘pior momento’
“As relações entre os EUA e a África do Sul atingiram agora seu ponto mais baixo”, disse Patrick Gaspard, ex-embaixador dos EUA na África do Sul. “Há muito em jogo para não trabalharmos na reconstrução dessa parceria.”
Rasool apresentou suas credenciais ao então presidente Joe Biden em 13 de janeiro, uma semana antes de Trump assumir o cargo para seu segundo mandato, segundo o site da embaixada sul-africana.
Trump afirmou, sem apresentar provas, que “a África do Sul está confiscando terras” e que “certas classes de pessoas” estão sendo tratadas “muito mal”. O bilionário sul-africano Elon Musk, aliado de Trump, afirmou que os sul-africanos brancos têm sido vítimas de “leis racistas de propriedade”.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, sancionou em janeiro uma lei destinada a facilitar a expropriação de terras pelo Estado no interesse público, em alguns casos sem compensação ao proprietário. Ramaphosa defendeu a política como uma forma de equilibrar disparidades raciais na posse de terras no país, de maioria negra, e afirmou que o governo não confiscou nenhuma propriedade.
Trump se ofereceu para reassentar agricultores brancos sul-africanos e suas famílias como refugiados. O Departamento de Estado está coordenando essa ação com o Departamento de Segurança Interna e já começou a implementar o plano, disse o porta-voz do Departamento de Estado, acrescentando que as entrevistas iniciais já estão em andamento.
Fonte: Valor