A decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de tornar réu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) repercutiu no plenário e nos corredores do Congresso, com celebrações de deputados da base governistas e protestos de parlamentares bolsonaristas. Uma entrevista coletiva convocada por apoiadores do ex-mandatário foi cancelada para que ninguém dividisse os holofotes com ele, que falou com a imprensa em duas oportunidades nesta quarta-feira (26).
Entre os bolsonaristas, fervilhavam críticas aos ministros da Corte e à decisão e comentários de que a democracia estava fragilizada.
“Tem gente que está comemorando a questão do presidente Bolsonaro, no julgamento que está acontecendo hoje, a possibilidade de torná-lo réu, mas a capivara dessa turma é grande, presidente. Tem gente aí que está aqui, que foi condenado com o dinheiro da cueca; tem gente que está aqui, que passou pelo petrolão; tem gente aqui que passou pelo mensalão; tem gente que, dentro dos seus apartamentos, foram encontrados 100 milhões, 200 milhões; tem gente aqui mais suja do que poleiro de galinha”, disse Messias Donato (Republicanos-ES).
“Quero dizer para vocês que a democracia do Brasil, apesar de alguns colegas do outro lado dizerem que é uma democracia fortalecida, para mim é uma democracia envergonhada, totalmente desmoralizada por essa falta de critério em relação à obediência às normas do direito. O direito precisa ser respeitado, principalmente pela Justiça, que hoje está o desrespeitando”, acrescentou deputado General Girão (PL-RN).
O deputado Bibo Nunes (PL-RS) questionou a acusação de que Bolsonaro teria articulado uma tentativa de golpe contra o Estado. “Eu quero aqui falar da vergonha mundial que a Justiça brasileira está passando perante o mundo, por suas atitudes. Eu, que acredito na Justiça, digo que este tem que ser o Poder mais equânime, mais justo. O que fizeram hoje naquela Turma? Os cinco, por unanimidade, colocaram Bolsonaro como réu, por ser um terrorista, um golpista de Estado, quando o mundo sabe o que é um golpe de Estado. Não há um canivete. Não há uma metralhadora. Não há um tanque na rua. Não tem o Exército. Não tem nada. Que golpe é esse? Isso é um absurdo”.
Parlamentares da base do governo Lula, por sua vez, celebravam o resultado e alertaram sobre a necessidade de resistir à ofensiva dos bolsonaristas de aprovar o projeto de lei que visa anistiar manifestantes que participaram dos atos golpistas de 8 de janeiro.
“Já há unanimidade na Primeira Turma do STF para condenar os primeiros envolvidos nesses atos golpistas. E isso é um marco histórico. Quem ataca a democracia não pode ficar impune. Democracia é para todas e todos nós. Por isso, cabe a todos nós fazer a defesa dela, e esses queriam acabar com ela. Ditadura nunca mais. Golpistas nunca mais. E, acima de tudo: sem anistia. Bolsonaro na prisão”, disse Carol Dartora (PT-PR).
“Hoje é um dia histórico, e a gente precisa pensar um plano de lutas para seguir enfrentando o bolsonarismo, para garantir que a Câmara não paute o projeto da anistia, para garantir que o Bolsonaro vá para a cadeia e para dizer que nós ainda estamos aqui e vamos lutar ainda por justiça para os do passado”, destacou Fernanda Melchionna (Psol-RS).
Logo após a Primeira Turma concluir o julgamento, deputados da oposição convocaram uma coletiva de imprensa, quer seria utilizada para um anúncio importante.
Segundo apurou o Valor, parlamentares reforçariam as ameaças de que passariam a obstruir totalmente os trabalhos da Casa caso o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) não colocasse em votação o requerimento de urgência e o mérito do PL da Anistia.
Horas depois, após Bolsonaro fazer um pronunciamento com ataques à Corte, ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e à Justiça Eleitoral, opositores de Lula cancelaram a entrevista que dariam no salão verde da Câmara.
Parlamentares ouvidos pelo Valor afirmaram que ficou decidido que a melhor estratégia seria evitar dividir atenções e que as declarações dadas por Bolsonaro deveriam “brilhar sozinhas”. Ficou decidido, então, que eles, fariam pronunciamentos na tribuna do plenário da Casa.
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Fonte: Valor