Incertezas continuam após imposição de tarifas de Trump, acredita Guillen | Finanças

O diretor de política econômica do Banco Central (BC), Diogo Guillen, afirmou na noite desta segunda-feira (31) que as incertezas não devem se dissipar na quarta-feira (2), quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve anunciar tarifas comerciais recíprocas que atingirão todos os países. O dia tem sido chamado de “Dia da Libertação” pelo presidente americano.

“Essa discussão do ‘Liberation Day’ eu não acho que a incerteza se resolve com esse dia. A gente vai ficar com mais incerteza, porque talvez, no dia seguinte, vai ter alguma discussão sobre tarifas que não foram implementadas, mas que podem vir a ser implementadas, qual vai ser a resposta dos países às tarifas que foram implementadas, [se haverá] algum escalonamento de tarifas”, disse Guillen após proferir palestra na Faculdade ESEG, em São Paulo.

“Claro que é uma data relevante, mas a gente está passando por várias datas em que a incerteza não se resolve, se mantém sempre um prêmio por conta da incerteza”, completou o diretor.

Ele disse que a conjuntura econômica global já é incerta e a política comercial de Trump traz ainda mais incerteza para o cenário.

“Esse é um ambiente particularmente incerto. É um choque de incerteza clássico, de paralisação de investimento, de não entendimento de como serão as tarifas [comerciais], porque subir tarifa de 2% para 2,5% é uma coisa. Mas subir tarifa de 2% para 25%, por exemplo, isso muda bastante o plano de negócio, então, acho que estamos um pouco nesse ponto”, comentou Guillen.

Diante ainda do cenário de incertezas, principalmente global, Guillen comentou que o ciclo de alta da taxa Selic deve continuar, mas que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu deixar a magnitude dessa alta em aberto.

“Eu acho que o ciclo deve continuar, porque você tem um cenário adverso de inflação, expectativa desancorada, resiliência de crescimento, projeções mercado de trabalho [aquecido], tudo isso levando a um cenário adverso exigindo o ciclo [de alta de juros]”, disse Guillen, após proferir palestra na Faculdade ESEG, em São Paulo.

Na última reunião, o Copom elevou a taxa básica de juros, a Selic, de 13,25% para 14,25% ao ano. O colegiado ainda sinalizou uma continuidade do ciclo de elevações com uma nova alta de menor magnitude para o próximo encontro.

No evento em São Paulo, Guillen explicou que o Copom se comprometeu com uma alta de menor magnitude da Selic devido à defasagem dos efeitos da política monetária e devido ao cenário global de incerteza, em especial o relacionado à política comercial de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.

“São dois componentes levando a essa indicação de menor magnitude, a primeira já é a própria defasagem [dos efeitos da política monetária]. Além disso, você tem outro componente que é a incerteza. Quanto vai ser essa menor magnitude? A gente deixa em aberto justamente por causa da incerteza, não querendo dar um sinal preciso sobre a próxima reunião”, explicou.

"Eu acho que o ciclo [de aumento da Selic] deve continuar, porque você tem um cenário adverso de inflação, expectativa desancorada, resiliência de crescimento, projeções do mercado de trabalho [aquecido], tudo isso levando a um cenário adverso exigindo o ciclo [de alta de juros]", disse Diogo Guillen, diretor de política econômica do BC, em palestra em São Paulo — Foto: Raphael Ribeiro/BCB
“Eu acho que o ciclo [de aumento da Selic] deve continuar, porque você tem um cenário adverso de inflação, expectativa desancorada, resiliência de crescimento, projeções do mercado de trabalho [aquecido], tudo isso levando a um cenário adverso exigindo o ciclo [de alta de juros]”, disse Diogo Guillen, diretor de política econômica do BC, em palestra em São Paulo — Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Fonte: Valor

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