Inflação reduz até promoções nas lojas e alimentos e bebidas são mais impactados | Empresas

Há um recuo no total de ofertas de preços nas cestas de mercadorias, e isto pode refletir um cenário mais complexo e difícil de mapear, pelas indústrias e varejistas, com a escalada da inflação nas lojas desde o ano passado.

Pode se traduzir ainda em uma busca de maior margem pelas empresas, num momento de pressão em custos e aumento de juros.

Houve uma queda na cesta de produtos básicos com preços temporariamente reduzidos exatamente em alimentos e bebidas, segmentos mais afetados pela escalada recente dos preços, segundo dados coletados pela empresa de pesquisa NielsenIQ (NIQ) em 2024, versus 2023.

A empresa mediu o chamado TPR, que indica as mercadorias com redução nos preços acima de 5%.

Em alimentos e bebidas, os produtos que aumentaram de tamanho nas lojas (mercadorias com tamanho família, por exemplo), e os que normalmente têm preços mais estáveis tiveram recuo, em termos de importância, na cesta de ofertas no ano passado frente a 2023.

Em alimentos, especificamente, os itens normalmente estáveis e com preços em promoção tiveram recuo de 3,5% na cesta. Em bebidas, a queda foi de 1,1%.

“A queda dos preços temporariamente reduzidos nos alimentos sugere possível dificuldade com margem para promoções”, diz o material da empresa.

“Com aumento dos preços ao produtor e maior complexidade nos posicionamentos de preço, a execução promocional não se torna tão viável para essas categorias”, informa o material, ao destacar os dados negativos como aqueles com recuo no indicador. Os dados fazem parte do levantamento “Prato cheio de desafios”, da NIQ.

Para ser considerado um TPR, o preço promovido deve ser mais de 5% inferior ao preço regular histórico. Se o preço reduzido permanecer em vigor por um determinado número de semanas, a NIQ considera o preço reduzido como um novo preço regular, e ele não será mais considerado uma promoção. Na Nielsen, isso ocorre após sete semanas.

O estudo ainda mostra melhora no “mix” de produtos vendidos pela indústria, algo que sempre ajuda a ampliar receita e margem das empresas, não tem tido mais efeito em sete das 12 categorias de alimentos e bebidas analisadas pela NielsenIQ.

Isso por conta da perda do poder de compra do brasileiro desde o ano passado.

O “efeito mix” mede o impacto dos diferentes tipos de produtos vendidos pelo comércio. Se a composição das vendas mudar, com a comercialização maior de certos itens e menor de outros nas lojas, isso afetará a receita total.

Quando a loja comercializa mais itens de baixo preço, a variação do chamado “efeito mix” será negativa, e foi isso o verificado na maioria das categorias em 2024, segundo a pesquisa “Prato cheio de desafios”, da NielsenIQ.

Os dados mostram que o portfólio de mercadorias teve efeito negativo nos preços em segmentos como bebidas limpeza, mercearia e produtos frescos.

Pelos números apresentados, a inflação no varejo alimentar sobe no ano, mas o efeito mix cai, o que pode refletir a mudança de cesta de compra pelos clientes para tentar economizar.

No ano passado, a inflação de itens de mercearia (arroz, café etc) foi de 4,3% mas como houve mudanças no “mix” da cesta, ocorreu recuo de 1,8% nos gastos, logo, o crescimento final da categoria foi de 2,7% em 2024 ante 2023.

Com as altas, o atacarejo ganhou mercado entre os canais de vendas, elevando a participação em 1,3 ponto percentual, atingindo 70,3% dos lares na compra de alimentos em 2024 versus 69% em 2023.

A inflação nos supermercados começou a subir no terceiro bimestre de 2024, quando avançou 3,1% acima dos 2,3% do bimestre anterior, e desde então a variação percentual só cresce, alcançando 9,8% no fim de 2024, segundo a NIQ.

O volume vem em queda desde julho de 2024, com recuo de 0,5%, e terminou 2024 com diminuição de 0,8%. Essa perda se manteve em 2025, segundo dados de outras consultorias de pesquisa, já divulgadas pelo Valor.

 — Foto: Leo Martins/Agência O Globo
— Foto: Leo Martins/Agência O Globo

Fonte: Valor

Compartilhar esta notícia