Os ministros das Finanças de Itália e Espanha alertaram contra uma resposta muito agressiva da União Europeia (UE) às tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, destacando a divisão dentro do bloco europeu sobre o tema.
O ministro das Finanças da Itália, Giancarlo Giorgetti, pediu cautela, enquanto o ministro das Finanças da Espanha, Carlos Cuerpo, que também atua como chefe do comércio da Espanha, advertiu contra uma escalada do tipo “perde-perde” em declarações que contrastam com a postura mais firme defendida por França e Alemanha.
“Não devemos apertar o botão do pânico”, disse Giorgetti em uma conferência em Cernobbio. “Precisamos manter a calma, avaliar o impacto e evitar uma política de tarifas retaliatórias que só causaria danos para todos, especialmente para nós.”
As declarações estão em linha com os comentários da primeira-ministra Giorgia Meloni no início da semana, quando afirmou que a decisão de Trump de impor tarifas à UE foi “errada”, mas advertiu contra uma resposta semelhante, dizendo que isso poderia ter consequências significativas para as economias europeias.
Cuerpo afirmou no mesmo evento, ocorrido neste sábado (5), que a UE está certa em buscar um acordo para preservar o que descreveu como a “relação econômica e comercial mais forte do mundo”, e apontou para a queda das bolsas de valores após o anúncio da Casa Branca.
“Ainda estamos pedindo uma solução negociada”, disse o espanhol. “Aumentar tarifas e o protecionismo é uma corrida onde todos perdem. Basta olhar para a reação dos mercados nos últimos dois dias, que acho que prova esse argumento.”
Ambos falaram antes de uma semana em que o comércio internacional provavelmente será a principal preocupação dos ministros do Comércio e das Finanças da UE em encontros separados.
Altos funcionários das duas maiores economias da zona do euro, Alemanha e França, adotaram posições mais agressivas nos últimos dias. O presidente francês Emmanuel Macron deseja uma solução negociada, mas está pronto para responder com medidas que visam atingir os setores de tecnologia e serviços dos EUA, segundo pessoas próximas a ele.
O vice-chanceler alemão em fim de mandato, Robert Habeck, afirmou que as tarifas de Trump são comparáveis à guerra de agressão contra a Ucrânia e, por isso, “a magnitude e a determinação da resposta devem ser proporcionais”.
Fabrizio Pagani, ex-assessor do primeiro-ministro e do tesouro da Itália, que estava na plateia durante os discursos de Giorgetti e Cuerpo, observou que qualquer negociação comercial deve ser feita com a compreensão de que retaliações não podem ser descartadas.
“Precisamos abrir negociações com os EUA de boa-fé, mas com um arsenal crível de contramedidas visíveis que possam ser aplicadas, por exemplo, nos setores financeiro e digital, onde os EUA têm um amplo superávit comercial”, disse Pagani, que hoje é sócio da consultoria Vitale & Co. “Em essência, precisamos de uma grande bazuca para garantir um bom resultado.”
Giorgetti alertou o público de que as ações de Trump no comércio são apenas o primeiro ataque de uma ofensiva prolongada contra as regras do comércio internacional.
“O governo dos EUA quer rediscutir, sob novas bases, a questão da tributação de empresas americanas em outros países”, disse ele. “Isso não é banal. Estará sobre nossa mesa em poucas semanas.”
Fonte: Valor