Atleta que abriu espaço para mulheres no skate agora acelera para inspirar também no automobilismo Letícia Bufoni não apenas conquistou títulos, quebrou recordes e virou referência mundial no skate — ela também mudou o jogo para as mulheres dentro (e fora) das pistas. Numa cena historicamente dominada por homens, a atleta brasileira se impôs com estilo, atitude e uma determinação que inspira meninas do mundo inteiro a acreditarem nos próprios sonhos.
Pioneira no skate, ela também acelera rumo a novos desafios: há um ano, entrou de cabeça no automobilismo. A paulistana estreou na Porsche Cup Brasil em 2024, competindo na categoria Trophy. “Desde muito nova, sempre fui movida por desafios. O skate me ensinou a não ter medo de falhar e a mergulhar de cabeça nas oportunidades. Quando recebi o convite para experimentar o automobilismo, aceitei na hora. Sempre amei velocidade, adrenalina e tudo que me faz testar meus limites”, explica, em entrevista exclusiva à Glamour.
E entre uma curva e outra, Letícia ainda comanda a presidência da comissão técnica de skate da World Skate. Aliás, a primeira mulher a ocupar o cargo. “Quero implementar programas que aumentem a representatividade em todos os níveis do skate, desde competições locais até eventos internacionais. Também quero trabalhar para oferecer mais suporte técnico e psicológico aos atletas, criando um ambiente onde possam realmente evoluir”, afirma.
Letícia conhece de perto os desafios da saúde mental. A atleta já enfrentou momentos difíceis marcados pela ansiedade. “Aprendi a reconhecer os sinais e a buscar ajuda. A terapia me ajuda muito, além de conversar com pessoas de confiança. É importante falar sobre isso porque saúde mental também é desempenho. Você não consegue entregar tudo de si se não estiver bem por dentro, e existe muita pressão sobre atletas de alto rendimento”, fala.
Com 20 anos de carreira no skate, Letícia já avalia a possibilidade de se despedir das pistas. Mas não se engane: o esporte continuará a fazer parte da sua vida. “Estou me preparando para encerrar o ciclo nas grandes competições, mas isso não significa que vou deixar o skate. Ele sempre vai fazer parte da minha vida. Meu objetivo é chegar a 20 participações nos X Games — é uma meta que quero alcançar com orgulho. Depois disso, pretendo focar em outras áreas do esporte, como projetos com marcas, produções de vídeo, viagens e eventos.”
Confira a seguir o bate-papo com uma das maiores skatistas do mundo!
Você abriu caminho para as mulheres no skate e quebrou barreiras no esporte. O que te motivou a entrar no automobilismo há um ano?
Desde muito nova, sempre fui movida por desafios. O skate me ensinou a não ter medo de falhar e a mergulhar de cabeça nas oportunidades. Quando recebi o convite para experimentar o automobilismo, aceitei na hora. Sempre amei velocidade, adrenalina e tudo que me faz testar meus limites.
Como tem sido a transição das pistas de skate para as pistas de corrida? Quais têm sido os maiores desafios até agora?
A transição tem sido intensa. No skate, você está no controle total do seu corpo; já no carro, é preciso entender o equipamento, os sinais que ele te dá e aprender a se comunicar com a equipe. São mundos completamente diferentes, mas com uma essência parecida: foco, técnica e coragem. Acho que o maior desafio até agora tem sido controlar a ansiedade dentro do carro — é um esporte em que cada detalhe faz diferença. Estou amando o processo e cada avanço que conquisto.
Letícia Bufoni
Reprodução/Instagram
Você fez história recentemente ao se tornar presidente do comitê técnico da federação internacional de skate. O que essa conquista significa para você?
Foi um momento muito especial. Sempre lutei para conquistar meu espaço no esporte, e agora poder ajudar a moldar políticas e decisões que impactam diretamente a próxima geração é um privilégio — e o resultado de muito trabalho. Estar nessa posição é uma forma de retribuir tudo que o skate me deu e garantir que a nova geração de skatistas tenha ainda mais oportunidades. Como tudo que faço, vou me dedicar ao máximo para fazer a diferença.
Como presidente do comitê, quais são seus principais objetivos para promover e fortalecer a participação feminina no skate?
Assumir o cargo de presidente da Comissão Técnica de Skate da World Skate é uma honra e uma responsabilidade que levo muito a sério. Meu principal objetivo é garantir que todas as vozes dos skatistas sejam ouvidas e que suas necessidades sejam atendidas. Quero implementar programas que aumentem a representatividade em todos os níveis do skate, desde competições locais até eventos internacionais. Também quero trabalhar para oferecer mais suporte técnico e psicológico aos atletas, criando um ambiente onde possam realmente evoluir. Acredito que, com minha experiência no skate e agora na gestão, posso contribuir bastante para um futuro mais inclusivo e igualitário no esporte.
Você comentou que pretende se afastar das competições de skate. Já tem um cronograma para isso? Como imagina essa “despedida” ou “aposentadoria”?
Estou me preparando para encerrar meu ciclo nas grandes competições, mas isso não significa que vou deixar o skate. Ele sempre vai fazer parte da minha vida. Meu objetivo é chegar a 20 participações nos X Games — é uma meta que quero alcançar com orgulho. Depois disso, pretendo focar em outras áreas do esporte, como projetos com marcas, produções de vídeo, viagens e eventos que gosto, como os da Red Bull e da Nike. Também quero dedicar mais tempo ao automobilismo e ao meu papel na World Skate, onde posso usar minha experiência para fortalecer a base do esporte e apoiar os atletas.
Letícia Bufoni
Divulgação
Você se tornou um exemplo para muitas mulheres no esporte. Como é saber que inspira tantas meninas a seguirem esses caminhos?
É a parte mais gratificante de tudo isso. Saber que uma menina pegou um skate pela primeira vez porque me viu andando, ou que decidiu correr atrás de um sonho porque se sentiu representada por mim — isso é surreal. Ter um impacto positivo, ajudar a abrir portas. Isso me dá força nos momentos difíceis e me faz seguir em frente. Sou a prova viva de que, com determinação e coragem, você pode ir longe — e quero ser essa inspiração todos os dias. A caminhada não é fácil, mas vale muito a pena!
O esporte exige disciplina e preparação intensa. Como você cuida do seu corpo e da sua saúde para ter um alto desempenho tanto no skate quanto no automobilismo?
Sigo uma rotina bem estruturada. Treino fisicamente todos os dias, com foco em mobilidade, resistência e força. Faço fisioterapia preventiva, trabalho com uma nutricionista e também tenho um coach mental — que considero superimportante e priorizo. Nos dias de treino, seja na pista de skate ou no carro, a preparação é ainda mais intensa. O corpo precisa estar 100%, mas a mente também.
Muitos atletas relatam passar por momentos de pressão intensa durante a carreira. Você já enfrentou períodos de ansiedade?
Sim, especialmente durante transições ou quando a pressão externa está muito alta. Aprendi a reconhecer os sinais e a buscar ajuda. A terapia me ajuda muito, além de conversar com pessoas de confiança. É importante falar sobre isso porque saúde mental também é desempenho. Você não consegue entregar tudo de si se não estiver bem por dentro, e existe muita pressão sobre atletas de alto rendimento. Por isso é tão importante cuidar do corpo, mas principalmente da mente.
Letícia Bufoni
Reprodução/Instagram
Fora do esporte, o que você faz para relaxar e cuidar do seu bem-estar mental e emocional?
Adoro passar tempo com os amigos, ir à praia, ouvir música, cozinhar… coisas simples que me ajudam a me reconectar. E, claro, minha família é meu porto seguro. Outra coisa que me traz muita alegria é estar com meus cachorros — sou completamente obcecada por eles! Estar em casa com eles, brincar, passear. E, por mais curioso que pareça, dirigir também me relaxa.
Autoestima e confiança são essenciais para competir em alto nível. O que você faz para fortalecer sua confiança dentro e fora das pistas?
Trabalho muito o foco e o mindset. Me lembro todos os dias de onde vim e do quanto batalhei para chegar aqui. Sempre digo que ninguém acredita mais em mim do que eu mesma. Às vezes é difícil — sou humana —, mas tento ser a primeira pessoa a acreditar em mim, sem me sabotar. Tenho mantras, visualizo meus objetivos e me cerco de pessoas boas. A confiança é algo que se treina diariamente, como qualquer outra habilidade.
Você mora em Los Angeles desde os 14 anos… Já pensou em voltar a morar no Brasil de forma definitiva?
O Brasil é meu coração, é onde estão minhas raízes, minha família, meus amigos de infância… nada se compara a isso. Mas Los Angeles também virou lar — foi onde construí minha carreira, conquistei muita coisa e onde hoje tenho toda uma estrutura de apoio. Voltar de vez? Nunca diga nunca. Amo estar no Brasil sempre que posso, e me mantenho super conectada com tudo que acontece aí. Mas, no momento, por causa da rotina, dos treinos e de todos os projetos, faz mais sentido manter essa base dividida.
Revistas Newsletter
Fonte: Glamour