De US$ 4,5 bilhões a pouco mais de US$ 300 milhões de valor de mercado em cinco horas, em uma derrocada de 93%, destruindo mais de US$ 4 bilhões do bolso de investidores no mundo inteiro. Este foi o tamanho do estrago provocado pela criptomoeda $LIBRA, lançada na plataforma descentralizada de negociação Jupiter, e promovida pelo presidente da Argentina, Javier Milei.
Em uma postagem na rede social X (Twitter) na última sexta (14), Milei escreveu que a LIBRA faria parte de um projeto chamado “Viva la libertad”, dedicado a “incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos”. O endosso do líder da 25ª maior economia do mundo ao projeto fez com que investidores no mundo todo comprassem a moeda digital, catapultando o preço de uma unidade do token de US$ 0,12 para US$ 4,56.
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No entanto, foi aí que os problemas começaram a aparecer. O jornal “La Nacion” reportou que apenas quatro carteiras digitais detinham 80% de todas as unidades do ativo. Além disso, o site da criptomoeda havia sido criado no mesmo dia do anúncio. Ou seja, havia indícios fortes de que o projeto seria um golpe conhecido como “rug pull”, que ocorre quando os criadores de uma criptomoeda pouco descentralizada (muito ativo concentrado nas mãos de poucas pessoas) promovem o token e depois que ele se valoriza o despejam no mercado, causando uma gigantesca desvalorização e embolsando os lucros às custas de quem acreditou que o ativo iria subir de preço.
Quando os indícios de fraude foram apontados, Milei apagou o post, que ficou no ar por aproximadamente quatro horas. Logo depois, o presidente argentino escreveu um outro tuíte, no qual disse que a postagem anterior apoiava um projeto com o qual “não possuía qualquer vínculo” e não conhecia os detalhes. “Logo que conheci, decidi não continuar a divulgá-lo”, afirmou Milei.
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A segunda postagem do líder argentino ajudou a precipitar a queda, levando o token a perder 90% do seu valor anterior. O jornal “Ámbito Financeiro” estima que os criadores da criptomoeda conseguiram embolsar entre US$ 80 e US$ 100 milhões de dólares antes da queda do preço.
Não está claro se Milei conhecia as características fraudulentas do projeto ou se ele mesmo também teria sido enganado. Informações da imprensa internacional apontam que a empresa KIP Protocol estava envolvida no projeto e que seu CEO, Julian Peh, encontrou-se com Milei em outubro do ano passado durante o evento TechForum.
Após o escândalo, parlamentares da oposição da Argentina disseram que haviam provas o bastante para protocolar um pedido de impeachment de Milei por ter usado sua influência política para promover uma fraude financeira. Às 13h07 (horário de Brasília) o índice da bolsa de Buenos Aires, Merval, caía 3,65% diante de uma crise de credibilidade que envolve o governo argentino como um todo por conta do caso LIBRA.
Fonte: Valor