Magreza volta a ser rainha das ‘passerelles’

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AFP

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16 de outubro de 2025

Depois de algumas temporadas de emancipação, a moda parece ter regressado aos velhos hábitos: a magreza voltou a dominar as passerelles, varrendo as esperanças de inclusividade que, durante algum tempo, pareciam ter aberto o setor a todos os tipos de corpo.

Desfile milanês da estação de primavera-verão 2026
Desfile milanês da estação de primavera-verão 2026 – Launchmetrics

“Devemos nos manifestar quando a moda erra e consagra uma norma que deveria abandonar”, afirmou a jornalista de moda francesa Sophie Fontanel no Instagram no início de outubro, saudando a presença de uma modelo curvilínea desfilando para a Givenchy na última Paris Fashion Week.

Uma silhueta que faz figura de exceção. Dos 9.038 coordenados das coleções de primavera-verão 2026 apresentados em Nova Iorque, Londres, Milão e Paris no mês passado, 97,1% correspondiam a tamanhos entre o 32 e o 36, ou seja, tamanhos muito pequenos, segundo dados da Vogue Business.

De modo geral, “há um pouco esta ideia errada de que ser magro é ser chique, ser rico”, assinala à AFP a diretora de casting francesa Esther Boiteux.

No entanto, estes tamanhos ditos ‘standard’ na moda não refletem de forma alguma a morfologia média. Conforme os últimos dados do Institut Français du Textile et de l’Habillement, publicados em outubro de 2025, metade das mulheres francesas veste entre os tamanhos 40 e 44, um terço veste o 46 ou superior e menos de 20% o 38 ou abaixo.

Uma maioria amplamente ausente das passerelles: as manequins de ‘tamanho médio’ (38-42) representavam apenas 2% das silhuetas, face a 0,9% no caso das manequins ‘plus size’ (44 e acima), sublinha a Vogue Business.

Apesar de um ligeiro aumento face à temporada anterior, a diversidade corporal continua a ser marginal nas passerelles. O movimento ‘body positive’, nascido na década de 2010 e assente na aceitação de todos os corpos, está agora estagnado.

“Nos desfiles, há cada vez menos manequins ‘plus size'”, confirma Aude Perceval, booker na agência Plus, pioneira no segmento de manequins de grande tamanho na França. Uma tendência particularmente marcada em Paris, precisa.

Uma constatação partilhada pela manequim ‘plus size’ Laura Leonide. “Nunca tentei a Semana da Moda de Paris, porque sei que o ideal de beleza francês é o 36”, analisa a modelo, na casa dos 30, que veste o 46.

A franco-suíça, cuja carreira atingiu um pico entre 2021 e 2022, trabalhou sobretudo no Dubai, onde o seu perfil é muito procurado. “Uma manequim que trabalha bem na Europa tem dois ou três ‘jobs’ por semana (desfiles ou sessões fotográficas, ndr). Eu cheguei a ter até cinco”, assegura.

Para a sua colega Doralyse Brumain, 31 anos, que veste o 40-42, as passerelles continuam fora de alcance. Se a sua carreira, centrada nas campanhas publicitárias, conheceu um impulso entre 2019 e 2021, a dinâmica perdeu claramente fôlego.

“Desde 2022, se sente uma verdadeira regressão, tanto na frequência dos contratos como nos cachês”, constata.

“Integrar manequins de diferentes tamanhos é algo que os consumidores estão exigindo. Mas, para que isso se torne verdadeiramente sustentável, seria necessária uma mudança profunda na produção”, estima Ekaterina Ozhiganova, manequim de origem russa e fundadora da associação Model Law, que defende os direitos dos modelos.

As roupas dos desfiles são geralmente concebidas num único tamanho (o das manequins ‘standard’) e, do criador às agências e aos diretores de casting, a responsabilidade vai sendo passada de uns para os outros.

As tendências recentes, como o uso indevido de medicamentos antidiabéticos ou antiobesidade, como o Ozempic ou o Wegovy, utilizados como inibidores de apetite, tornam ainda menos provável uma reintegração de silhuetas mais próximas da média, acrescenta Ekaterina Ozhiganova.

“O mundo da moda não foi concebido para ser o mais acessível possível: tem de vender um ideal inatingível”, lamenta.

Por outro lado, a criadora francesa Jeanne Friot considera que a passerelle deve permitir a cada um se projetar.

“O interesse do desfile é mostrar algo diferente da moda com que cresci, muito magra e muito uniformizada. Quero ver tamanhos 42, 44, 46, pessoas mais velhas, todas as etnias, todos os gêneros”, sublinha à AFP a criadora, na casa dos 30, conhecida pela sua moda empenhada.

A inclusividade “é uma norma que deveria existir”, corrobora, por sua vez, o estilista alsaciano Victor Weinsanto. “Mas vamos lá chegar” (espera).

Por Marine Do-Vale (AFP)

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Fonte: Fashion Network

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