Mais da metade dos trabalhadores de plataformas digitais da América Latina e Caribe (53%) atua para empresas do exterior, segundo pesquisa divulgada nesta segunda-feira (21) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), ligada à ONU. O levantamento mostra também que 93% dos trabalhadores dessas plataformas vivem em áreas urbanas.
O relatório considera como trabalho em plataformas digitais atividades que variam de programação e design gráfico a microtarefas repetitivas, como classificação de dados ou treinamento de sistemas de inteligência artificial.
“Este relatório é uma ferramenta fundamental para fortalecer o diálogo social e enriquecer os debates sobre como promover o trabalho decente em um ambiente digital em rápida evolução”, disse Ana Virginia Moreira Gomes, diretora regional da OIT para América Latina e Caribe.
“O crescimento da economia de plataforma abriu novos mercados e criou empregos com alta flexibilidade e baixas barreiras de entrada”, diz o estudo.
“No entanto, ela também impõe desafios para garantir que os trabalhadores tenham acesso a empregos decentes, dado que esta nova forma de trabalho traz consigo o risco de operar fora das regulamentações trabalhistas e da proteção social”, afirmam os pesquisadores.
O estudo relata que, em março de 2023, foi apresentada uma análise ao Conselho de Administração da OIT sobre as lacunas regulatórias dos trabalhos que envolvem plataformas digitais. “Neste contexto, a pesquisa da OIT foi elaborada para enriquecer os debates sobre a questão normativa”, diz o estudo, destinado a oferecer dados numéricos que buscam classificar o trabalho digital na América Latina por categorias.
Neste contexto, o estudo divide o trabalho online em dois grandes grupos. O primeiro é formado pela atividade que organiza e conecta a oferta e a demanda de trabalhadores para tarefas baseadas na web, como as que abrangem tarefas de programação e design gráfico, microtarefas administrativas e treinamento de sistemas de inteligência artificial, permitindo a conexão global entre diferentes atores do mercado distantes uns dos outros.
O segundo grupo inclui plataformas de transporte, entregas e alojamento, onde as tarefas são atribuídas de acordo com a demanda local. “Essa é uma classificação que simplifica um mundo de trabalho online cada vez mais complexo, mas ajuda a delimitar o objeto de análise, que é a natureza do trabalho em plataformas digitais para tarefas baseadas na rede”, diz o estudo.
O estudo ouviu 1.153 trabalhadores em 21 países da região. A quase totalidade deles (93%) vive em áreas urbanas. Eles têm idade média de 33 anos e 38% têm formação em grau de licenciatura ou equivalente.
Em relação ao regime de trabalho, 41,7% têm emprego formal com salário mensal ou anual e 31,2% são contratados como freelancer.
A OIT destaca que diferentemente de redes de transporte ou entrega — 90% dos trabalhadores de plataformas digitais do primeiro grupo, a de atividades mais ligadas ao home office, indicam que seus contratantes estão localizados fora da América Latina e do Caribe, principalmente nos EUA e no Canadá.
O relatório estima que na América Latina e Caribe o setor emprega cerca de 12 milhões de trabalhadores principais, 21 milhões de trabalhadores secundários e 14 milhões de trabalhadores marginais.
A OIT estima que o trabalho em plataformas digitais representa 1,7% do emprego privado no Brasil e 0,5% no Chile.
Fonte: Valor