Quase dois terços dos brasileiros não buscaram atendimento na Atenção Primária à Saúde (APS), porta de entrada da população aos serviços de saúde, quando precisaram no último ano. É o que mostra estudo da Vital Strategies e da Umane divulgado nesta sexta-feira (25).
Segundo o levantamento, 62,3% dos entrevistados precisaram de atendimento na APS e não buscaram. Os principais motivos para a decisão foram superlotação, demora no atendimento, burocracia no encaminhamento e automedicação.
Ainda de acordo com a pesquisa, 40,5% dos entrevistados disseram que buscaram atendimento e não foram atendidos, sobretudo por causa do longo tempo de espera, da falta de equipamentos e de profissionais adequados.
“Isso demonstra que há desafios persistentes de acesso, informação e educação em saúde, e melhoria do processo de organização do sistema que podem limitar a jornada do usuário no cuidado com a saúde”, afirma Thais Junqueira, superintendente-geral da Umane.
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Com parceria técnica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e apoio do Instituto Devive e do Resolve to Save Lives, a pesquisa “Mais Dados Mais Saúde” entrevistou mais de 2,4 mil pessoas adultas de todas as regiões do país para analisar a visão do acesso e da qualidade da APS.
Tanto usuários da rede pública de saúde quanto da privada participaram do levantamento, feito com aplicação de questionário on-line entre agosto e setembro do ano passado. Os dados por rede não foram desagregados.
Os resultados, diz Junqueira, mostram que é preciso fortalecer estratégias de prevenção e de promoção da saúde que incentivem o cuidado contínuo.
“Quando a população entende quando e como buscar atendimento, e encontra esse atendimento disponível, sem tantas barreiras, conseguimos avanços significativos na efetividade da APS. E, consequentemente, em todo o sistema.”
Luciana Sardinha, diretora-adjunta de doenças crônicas não transmissíveis da Vital Strategies, diz que são necessários investimentos para tornar a APS mais acessível. “Quando a pessoa tem melhor qualidade de vida pela atenção primária ela não precisa chegar a ir um especialista, a precisar de uma cirurgia ou qualquer outra coisa, porque ela vai tratando no dia a dia os problemas de saúde, principalmente as doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.”
Já aqueles que não procuram atendimento quando precisam e acabam prolongando mais o problema de saúde ou optando pelo automedicamento, diz Sardinha, correm o risco de quando chegar no serviço de saúde estar em situações mais graves.
Embora usuários dos sistema público e privado de saúde tenham relatado que deixaram de buscar atendimento quando precisaram, ou que não foram atendidos, a maioria disse ter tido boa experiência na última vez em que foi consultada por um profissional de saúde, seja na atenção primária, seja em outra unidade de saúde que costuma frequentar.
Segundo a pesquisa, o respeito à privacidade e à confidencialidade e o entendimento das explicações fornecidas durante a consulta foram avaliados de forma positiva por 79,2% e 75,1% dos entrevistados, respectivamente. Mais da metade deles (entre 56,3% a 67,8%) também avaliou positivamente a confiança no profissional, a oportunidade de perguntar e a participação nas decisões sobre cuidado e tratamento.
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Para Junqueira, da Umane, os aspectos bem avaliados estão no cerne do modelo do Sistema Único de Saúde (SUS), apesar das desigualdades do acesso ao serviço no país. “São potenciais a serem explorados e a chave para o fortalecimento de nosso sistema de saúde.”
O tempo de espera para ser atendido e a facilidade para encaminhamentos foram os únicos itens avaliados de forma negativa, por 51,5% e 57,5% dos entrevistados, respectivamente.
Fonte: Valor