Com poesia e verdade nas palavras, cantora fala sobre o processo criativo de seu terceiro disco, “Coisas Naturais”, além de refletir sobre a pessoa e artista que é hoje Um dos maiores nomes da música brasileira atual, Marina Sena olhou para o passado e resgatou a sua essência para entregar seu novo álbum, o terceiro depois de De Primeira (2021) e Vício Inerente (2023). Dentre tantas referências que compõem sua arte, ela conta que a maior para o projeto atual foi a busca pela naturalidade. “É a música que sai naturalmente quando pego o violão para compor. Sinto que é um álbum mais sincero”.
O título já reflete a intenção: Coisas Naturais, resultado de um camping na roça como realização de um sonho antigo. Com banda e poesia nas palavras, o todo das composições que surgiram ali chegou nas plataformas no dia 31 de março, com 13 faixas que mostram a verdade da Marina de Oliveira Sena – como ela conta em detalhes no papo a seguir:
Marina Sena
Gabriela Schmdt
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1- Coisas Naturais é mais MPB ou pop?
Eu acho que, em todos os álbuns, brinco de um jeito pop com a música brasileira. São texturas diferentes, mas é tudo pop. Eu sinto que, agora, pude ser mais natural em relação à minha criação. Cheguei em um ponto de sinceridade muito maior que nos dois últimos, tanto que meus amigos que escutam falam “isso aí é você inteira”. Poeticamente, Coisas Naturais se assemelha mais ao De Primeira. Acho que o Vício Inerente é mais direto, e voltei a trazer mais figuras de linguagem, que é o meu jeito natural de compor.
Me sinto mais ousada nesse álbum. Também foi o que eu mais senti prazer em fazer em toda a minha vida e o que mais me doei, de um jeito que eu nunca tinha me doado para nada na vida.
2 – E o nome do álbum reflete tudo isso, né?
Sim, porque tudo foi natural. Na música, a gente tem que respeitar a naturalidade das coisas se quiser fazer algo sincero e que represente sua alma. Hoje, tendo mais recursos na carreira, consegui realizar o sonho que tenho desde a minha primeira banda, A Outra Banda da Lua, de fazer um camping em uma roça.
Às vezes, o que você tem que fazer é realizar o sonho da menina de 18 anos, e senti que estava precisando voltar para a origem. São Paulo dá uma endurecida e eu precisava tirar isso de dentro de mim. Fiz do jeito que sonhei a vida inteira, tanto que, se quisesse lançar o álbum do jeito que gravamos lá, seria possível porque já estava com qualidade. Compus com a banda tocando, que é algo que nunca tinha feito. O nome surgiu com uma música que fizemos exatamente nesse contexto. É muito Marina de Oliveira, sabe? Era ela que estava fazendo essas músicas.
Marina Sena
Reprodução/Instagram
3 – A faixa foco do disco é “Ouro de Tolo”. Por que a escolha?
Porque é uma música muito forte. Quando você está lançando um álbum, tem que se preocupar em trabalhá-lo de uma forma que as pessoas vão compreender a magnitude daquela coisa. Tem várias outras músicas no álbum que são chiclete, mas “Ouro de Tolo” é complexa. É rebuscada, tem um arranjo ousado e que mostra o tipo de artista que eu sou.
Qualquer um se identifica com a letra, principalmente as mulheres, já que fala sobre algo que acho que é impossível uma mulher não ter vivido. O tanto de homem que não é nada, não tem um pingo de atitude, e ainda se coloca como maior que a mulher… Mas quando ela tem essa virada de chave, é muito poderoso. Não sei o que pode ser mais enérgico que isso. Fiz essa música aos prantos no sofá da minha casa, de madrugada, no meu violão. Foi em um dia que olhei para mim e pensei: “eu dou muito poder para quem não é nada”.
4- Quais foram as inspirações para o disco?
É uma grande mistura. Eu nunca tenho uma em específico, mas uma bagagem gigantesca. Gosto de pesquisar, de ouvir de verdade e ver as referências de quem tenho como referência. Por exemplo, eu amo Gal Costa, e por que ela foi quem era? Porque tinha uma bagagem musical muito fortalecida, realmente entendia de música.
Eu sou uma pessoa do Norte de Minas e tenho um milhão de coisas que me atravessam. Lá é um centro de muita informação cultural: tem o congado, que é muito forte, e por ser colado na Bahia, também chega muito axé e pagodão. E tem o fato de eu ter nascido no sertão de Minas Gerais, o que faz a música sertaneja – a viola, a rabeca, a sanfona – me atravessarem muito. Meu primeiro beijo foi depois de um forró de serra [risos]. Sinto que nesse álbum consegui trazer mais essas referências.
5 – E quem é a Marina ao natural, fora dos palcos?
Eu tenho uma dificuldade muito grande de viver de aparências e procuro me desenvolver o tempo inteiro. Se eu preciso ler livros para saber de assuntos, então vou fazer porque não posso falar sobre algo sem saber. Eu não fazia ideia de que era assim, porque era toda doidinha e indisciplinada na adolescência. Ainda sou rebelde, mas minha rebeldia foi canalizada em um lugar artístico. Consegui entender que, no meu dia a dia, preciso de disciplina com meus próprios sonhos.
Antes, eu achava que meu objetivo era ser famosa e subir o padrão de vida. Quando isso aconteceu, pensei: “nossa, acho que não era só isso”, e comecei a entender que, na realidade, meu sonho era ser foda. E como faz para ser foda? Você tem que ler, escutar música, cuidar do seu corpo, do seu espírito, tem que meditar, e ter informações para ser uma cidadã importante dentro da sua comunidade. Se você se abastece do que precisa, fica muito maior. Falo disso na terapia o tempo inteiro.
Marina Sena
Reprodução/Instagram
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Fonte: Glamour