Miuccia Prada: o percurso de ativista a designer de topo

Por

AFP

Traduzido por

Helena OSORIO

Publicado em



14 de abril de 2025

Enquanto estudante, em maio de 1968, Miuccia Prada saiu às ruas de Milão para se manifestar pelos direitos das mulheres, vestindo um terno Yves Saint Laurent.

Miu Miu – Primavera-Verão2025 – Womenswear – França – Paris – ©Launchmetrics/spotlight

Hoje, aos 76 anos, Miuccia Prada reina sobre um império de artigos de luxo que vale mais de cinco bilhões de euros por ano, com este preste a se expandir ainda mais com a aquisição da Versace.

Designer de vanguarda, cujo estilo minimalista esconde a sua natureza rebelde, esta que foi a 75.ª mulher mais poderosa do mundo em 2014, imprimiu a sua sensibilidade elegante e intelectual no mundo da moda italiana durante décadas.

Quando jovem, Miuccia Prada queria envolver-se na política e realizou cursos de Mímica e Teatro. Mas deixou esses sonhos de lado no início dos anos 70 para se dedicar, juntamente com a sua mãe Luisa, à boutique de marroquinaria fundada em 1913 pelo seu avô, Mario Prada.

“Nos anos 70, como mulher de esquerda, tinha vergonha de fazer bolsas de mão, e também tinha vergonha porque era uma profissão de que gostava muito”, disse em 2022.

Nascida em Milão em 10 de maio de 1948, no seio de uma família burguesa católica, Miuccia Prada tornou-se uma das mulheres mais ricas e influentes do mundo, com uma fortuna estimada pela revista Forbes em 5,8 bilhões de dólares.

Formada em Ciências Políticas e ativista feminista que frequentava os círculos comunistas, acabou por se dedicar de corpo e alma à recuperação da empresa familiar, que tinha perdido o seu brilho após a morte do avô em 1958.

Em 1977, Miuccia Prada encontrou um parceiro perfeito em Patrizio Bertelli, um fabricante de peles toscano que conheceu na feira de marroquinaria de Milão. Bertelli ajudou-a a impulsionar as finanças da boutique, que esta assumiu o controle em 1978.

Nove anos depois, os parceiros de negócios casaram-se.”Era ele que queria fazer algo em grande. Eu disse-lhe que não era ambiciosa. E respondeu: ‘És um monstro de ambição’. Tinha razão”, conta Miuccia.

Foi o ponto de partida para a irresistível ascensão da marca Prada. No início da década de 1980, a estilista inovou ao criar uma coleção de bolsas de nylon preto com um efeito sedoso, que se tornou moda. Após 40 anos, Miuccia Prada viria a defender o fio de nylon feito de plástico reciclado recuperado dos oceanos.

A marca começou a crescer, com boutiques a surgindo primeiro em Nova York e Madri, depois em Londres, Paris e Tóquio. Ironicamente, o seu primeiro desfile de moda feminina em Milão, em 1988, todo em preto e branco, não foi bem recebido, com os críticos o considerando austero demais. Mas o seu luxo minimalista, com as suas linhas simples e cores sombrias, acabou deixando a sua marca, conquistando um público internacional.

Federica Trotta Mureau, editora-chefe da revista italiana Mia Le Journal, disse à AFP que, ao explorar o seu fascínio pela arte, arquitetura e filosofia, Miuccia Prada “criou um universo livre, uma espécie de experiência sem regras… com o objetivo de quebrar os códigos da moda”.

Prada diz que há muito tempo que usa peças de vestuário vintage, ao mesmo tempo que se insurge contra a moda rápida, em que os ciclos de produção acelerados produzem artigos de baixo preço que são muitas vezes subitamente descartados.

A sua peça de vestuário de assinatura sempre foi a saia, com as suas infinitas variações. Miuccia Prada recusa-se a ver as mulheres como “apenas figuras bonitas”: “Não tenho tendência para fazer roupas super sexy. Tento ser criativa de uma forma a que possam ser usáveis, que possam ser úteis”.

Em 1993, foi lançada uma coleção masculina, no mesmo ano em que foi lançada a marca Miu Miu, apelando aos clientes mais jovens e usando a alcunha da designer. As vendas da Miu Miu duplicaram em 2024, o que permitiu à Prada resistir incólume à crise mundial do luxo.
 

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Fonte: Fashion Network

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