Moda europeia fecha fileiras face à ‘ultra fast fashion’ em Paris

Publicado em



16 de setembro de 2025

É uma rara fotografia de família. Cerca de 20* representantes dos setores europeus têxtil e do vestuário se reuniram em Paris, na terça-feira, 16 de setembro, para assinar uma declaração que compromete as diferentes entidades em uma luta comum contra a moda ultrarrápida, apelando às autoridades francesas em particular e europeias em geral a agir perante a concorrência da Shein e da Temu.

Representantes das federações europeias signatárias
Representantes das federações europeias signatárias – UFIMH

A assinatura teve lugar em Villepinte, onde ocorre, de 16 a 18 de setembro, a feira Première Vision Paris. E, por trás da convivência esperada entre colegas do setor têxtil, se percebia uma tensão palpável. Os profissionais reunidos partilhavam um sentimento de urgência perante uma concorrência chinesa, a preços muito baixos, que escapa a qualquer controle, incluindo o aduaneiro.

Este sentimento foi reforçado por aquilo que já se assemelhava a um contrafogo: a Shein France anunciou nessa mesma manhã um acordo com uma primeira marca francesa. Um anúncio inicialmente previsto para segunda-feira, 15 de setembro.

No texto assinado pelas federações, as instituições europeias são instadas a suprimir rapidamente a isenção aplicável às pequenas encomendas extracomunitárias de valor inferior a 150 euros. Encomendas sobre as quais as federações defendem igualmente a aplicação de uma taxa destinada a financiar os controlos, bem como a cobrança do IVA. Os signatários querem ainda a aceleração dos processos de investigação e das sanções associados ao Digital Services Act e ao Digital Markets Act, além do estabelecimento de um diálogo com as autoridades chinesas, cujos objetivos de sustentabilidade divergem das práticas adotadas pelas plataformas locais.

O documento apela igualmente aos Estados-Membros para adotarem medidas nacionais que limitem, à semelhança de França, as práticas de marketing dos operadores de moda ultrarrápida, ao mesmo tempo que apoiem ativamente as empresas do setor têxtil e do vestuário que investem na sustentabilidade, na qualidade e na inovação. Os consumidores também não foram esquecidos nesta abordagem. A declaração conjunta os convida a privilegiar produtos sustentáveis e a apoiar as empresas e marcas que participam na transição sustentável da indústria têxtil e do vestuário.

“A indústria da moda não pode esperar e não vai esperar”, adverte Pierre-François Le Louët, presidente da Ufimh (Union des Industries Françaises de la Mode et de l’Habillement), impulsionador deste encontro. “Precisamos que esta batalha seja travada país a país, que as nossas federações levem este tema aos legisladores e à imprensa e, a nível comunitário, que pressionemos a Comissão Europeia a avançar mais depressa”, prossegue o responsável, lembrando que França já aprovou uma ‘Lei da Fast Fashion’ que agora define legalmente um modelo econômico considerado prejudicial.

Presidente da confederação europeia da fileira têxtil, Euratex, o engenheiro português Mário Jorge Machado salienta que este evento vai ajudar a fileira a fazer-se ouvir junto da Comissão Europeia. “É preciso deixarmos de ser ingênuos e de fingir que não vemos o que está acontecendo ao nosso mercado: estes players abusam do fato de trabalharmos de forma equitativa”, insiste o representante do setor. “Aproveitam-se das nossas marcas e dos nossos consumidores. Não se pode destruir a criatividade e a propriedade intelectual desta maneira: é inaceitável. A nossa fileira é conhecida pela inovação, pela qualidade e pelo design. Temos, por isso, muito a defender.”

Mário Jorge Machado (Euratex), Olivier Ducatillion (UIT) e Pierre-François Le Louët (UFIMH)
Mário Jorge Machado (Euratex), Olivier Ducatillion (UIT) e Pierre-François Le Louët (UFIMH) – MG/FNW

“Enough is enough”, lançou, por sua vez, Olivier Ducatillion, presidente da UIT (Union Française des Industries Textiles). “Estamos todos sofrendo com esta situação. Sempre que propomos soluções a nível local, nos respondem que não vão resultar, porque estes players encontrarão formas de contornar a nível europeu. É preciso, por isso, encontrar novos meios e alargar o âmbito. A assinatura de hoje não é um desfecho, é um ponto de partida”.

Representantes dos setores italiano, português e holandês foram ao microfone, reafirmando, cada qual, a necessidade de uma ação tão rápida quanto coordenada do setor. “Não há entre nós esta manhã qualquer representante da Comissão Europeia, e isso não se deve aos organizadores”, observou a propósito Ralph Kamphöner, que representa em Bruxelas a federação alemã Textil+Mode.

As federações estimam em 4,5 bilhões o número de encomendas importadas no ano passado para a Europa por plataformas chinesas de muito baixo custo. Um volume que representaria agora 5% das vendas de vestuário na Europa e 20% das vendas online de vestuário.

*Ufimh (União Francesa das Indústrias da Moda e do Vestuário), UIT (União Francesa das Indústrias Têxteis), Euratex, ATP (Portugal), Câmara de Comércio de Serviços, Confindustria Moda (Itália), Finnish Textile&Fashion (Finlândia), TOK (Bulgária), Modint (Países Baixos), WKO (Áustria), Sepee (Grécia), Latia (Lituânia), DM&T (Dinamarca), Swiss Textiles (Suíça), Consejo Intertextil Español (Espanha), Fedustria (Bélgica), Textil+Mode (Alemanha), Anivec-Apiv (Portugal), Teko (Suécia), Creamoda (Bélgica), Aliança Europeia do Linho e do Cânhamo e PIOT (Polónia)

Copyright © 2025 FashionNetwork.com. Todos os direitos reservados.

Fonte: Fashion Network

Compartilhar esta notícia