Você acorda cedo, medita, toma seu shot de cúrcuma, faz pilates, calcula seus macros diariamente, responde um e-mail em jejum e sai de casa vestindo algo que remete, ou foi de fato feito, para a prática de exercícios. Uma roupa que, silenciosamente, comunica: “eu me alimento de proteína e disciplina”. Pronto, você está dentro do protein chic, a estética mais literal da nossa era de bem-estar performático que, claro, já chegou à moda também.
Mas é bem mais do que estética. O fenômeno é um discurso visual. Quem acompanhou a terceira temporada de The White Lotus sabe: Saxon Ratliff, personagem de Patrick Schwarzenegger (sim, o filho do Arnold), chegou ao resort pedindo um liquidificador. Para quê? Obviamente, para manter sua rotina de shakes proteicos. Khloé Kardashian lançou uma pipoca proteica com “poeira funcional” (a Khloud Dust, que parece o nome de um blush mas é suplemento, aparentemente). Jacquemus escalou um halterofilista para compor os “personagens de Los Angeles” no vídeo que anunciou sua flagship na cidade, com direito a vídeo levantando peso. E na Balenciaga, Demna colocou homens extremamente musculosos na passarela com regatas cortadas e expressão neutra. Ironia ou reflexo? Não está claro e talvez esse seja o ponto.

Foto: Duran Lantink (Reprodução/Instagram)
Durante a pandemia, o athleisure teve seu ápice emocional. Os conjuntos de moletom viraram armadura para o caos. Mas a fase do conforto já passou. A moda agora não quer acolher, ela quer moldar. Macacões de compressão, leggings cirúrgicas, tops estruturados. O visual esportivo saiu da academia e foi direto para o streetwear, o evento, o jantar. E mesmo quando não há referência literal ao fitness, o objetivo é o mesmo: deixar o corpo visível.
Desde 2019, quando Daniel Roseberry apresentou os corsets em forma de tanquinho na Schiaparelli, inspirados em super-heróis, a passarela vem flertando com a literalidade do shape ideal, oferecendo o efeito para quem ainda não conquistou na prática. No ano passado, Collina Strada trouxe hoodies musculosos acolchoados, e Duran Lantink apresentou torsos hiperdefinidos em silicone.

Foto: Off-White (Reprodução/Instagram)
Já outras vêm se dedicando a produzir versões elevadas dos itens para a prática de exercícios. A Off-White apostou em peças diretamente inspiradas na performance atlética, como leggings, tops e tecidos stretch. Willy Chavarria, por sua vez, trouxe boxeadores para a passarela. Balenciaga foi além. Na coleção de outono 2025, três dos modelos bombadíssimos pareciam saídos de um treino de musculação.

Foto: Kendall Jenner (Reprodução/Instagram)
No dia a dia, a lógica é clara: se você suou (ou tomou semaglutida), você quer mostrar. Sai o moletom largado, entra o conjunto monocromático que abraça cada curva. As calças são de segunda pele, os tops não deixam espaço para o mistério, os recortes acompanham a definição do abdômen. Sensualidade quase clínica. Sexy com função têxtil. Marcas de performance voltadas para esse universo, como Alo Yoga e Lululemon, ganharam status cult e são tão desejadas quanto maisons de luxo, construindo impérios a partir de leggings e tops.
Hoje, estar em forma é mais do que nunca uma questão de investimento. É símbolo de status. A indústria entendeu rapidinho, e as marcas vêm expandindo suas ofertas para atender à demanda. Cuidar do corpo e contar como cuida é o objetivo. A Celine lançou cordas de pular de couro e pesos de tornozelo com cara de objeto de design escandinavo. Stella McCartney apresentou a linha Alter-Care, com suplementos à base de algas e ceramidas, embalados como se fossem sérum para o rosto.

Foto: Harry Styles (Reprodução/Instagram)
Na rua, o visual segue a mesma lógica. Os shorts masculinos estão mais curtos do que nunca, popularizados pelas corridinhas de Paul Mescal em Londres. A peça, já há tempos presente na estética queer, agora atingiu o mainstream. Harry Styles também já aderiu. Ainda na moda masculina, as regatas são outra evidência de que o foco no corpo esculpido não para de crescer.
Para mulheres, depois de várias temporadas de oversized, o bodycon voltou com força. Transparências, recortes, fendas, hot pants, macacões tipo catsuit, cinturas baixas e tecidos de compressão se espalharam até em coleções sem nenhuma intenção esportiva. O objetivo não é movimento. É mostrar o que o movimento esculpiu.
O fenômeno tem muito a ver com a facilidade de mudar o shape atualmente. Os injetáveis como o Ozempic tornaram o corpo esbelto mais acessível. O que antes era esforço, hoje pode ser prescrição. Nas passarelas, a consequência é visível: homens cada vez mais musculosos, mulheres visivelmente mais magras e uma presença cada vez menor de corpos fora do padrão. A moda não apenas reflete isso, ela amplifica. Se a estética do momento é colada, mínima e exigente, é porque ela já assume que o corpo pode e deve se moldar a ela. Parecer saudável é o grande objetivo. A forma como ele foi atingido, menos importante.
Em parte, o protein chic é sobre isso: parecer saudável. Mas não no sentido de realmente viver bem. É saudável com filtro, com curadoria. É sobre parecer disciplinada, cuidada, com tempo e dinheiro para investir no corpo. Um corpo que agora precisa estar definido, magro, “natural” e em exposição. A nova versão do luxo não é mais a bolsa que você carrega. É o tríceps que ela revela.
O protein chic não é só sobre o que você veste. É sobre o que o corpo afirma sem dizer nada. Em 2025, parecer em forma virou linguagem visual, e a moda, mais uma vez, responde com precisão. É o wellness como performance. Uma coreografia de disciplina que se expressa na roupa, no abdômen visível, no combo proteína + pilates + selfie no espelho. E, de repente, um matcha para viagem na mão.
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Fonte: Steal the Look