Quando o penteado da moda vira “vilão”: a alopecia por tração é uma condição cada vez mais comum entre quem costuma apostar em tranças, rabos de cavalo bem esticados, coques superfirmes (o famoso penteado clean girl, sabe?) ou megahair. O problema, que surge pela tensão contínua nos fios e no couro cabeludo, pode passar despercebido nas fases iniciais, mas tem um potencial alto de deixar falhas visíveis e, em casos mais graves, até provocar a perda definitiva dos cabelos. Nos Estados Unidos, por exemplo, um estudo com mulheres militares apontou que 2,7% delas já receberam diagnóstico da condição – e, no Brasil, a Sociedade Brasileira de Dermatologia estima que cerca de 5% das mulheres enfrentam algum tipo de alopecia, incluindo a por tração.
O alerta sobre o problema também tem ganhado força nas redes sociais. Recentemente, a influenciadora Natalia Cangueiro contou no TikTok que percebeu pontos de calvície na cabeça, resultado de meses usando penteados de alta tração. Para entender melhor como a tração constante afeta os fios, quais são os primeiros sinais de alerta e como é possível reverter (ou não) o quadro, conversamos com o Dr. Raul Cartagena Rossi, médico dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e consultor da TheraSkin®.

Foto: Carla Pérez (Reprodução/Instagram)
alopecia por tração: o que é e como identificar
1. O que exatamente é a alopecia por tração e como ela se diferencia de outros tipos de queda capilar?
A alopecia por tração é uma condição em que a queda de cabelo acontece quando se faz penteados muito apertados, devido à tensão repetitiva no couro cabeludo. Os outros tipos de queda de cabelo podem ter origem genética, como a calvície, ou serem causados por uma doença autoimune, como a alopecia areata. A queda de cabelo também pode ter fatores como alterações hormonais, condições médicas, uso de medicamentos, deficiência de vitaminas ou minerais ou estresse.
2. Quais são os sinais iniciais de que a queda de cabelo pode estar sendo causada por tração?
Os primeiros sinais são uma discreta vermelhidão na margem do couro cabeludo, na frente e nas laterais, uma nítida diminuição da quantidade de cabelos e falta de crescimento nas bordas do couro cabeludo, pode haver um sinal dermatológico conhecido como “sinal da franja”, onde a placa de alopecia fica entre duas áreas com cabelo, na orla de implantação dos fios.
3. Quais tipos de penteados oferecem maior risco para desenvolver alopecia por tração?
São especialmente as tranças, rabos de cavalo muito apertados, coque, todos os penteados que envolvam o ato de puxar o cabelo com força e tracionar. Se acompanhados de procedimentos químicos podem contribuir para uma fragilização do cabelo e quebra.
4. Existem formas seguras de usar esses penteados sem causar danos ao couro cabeludo?
O que causa alopecia por tração é a tensão dos cabelos por repetidas vezes e por períodos longos, como um dia inteiro ou durante o sono à noite, portanto, acredito que uma forma segura de continuar usando os penteados, como o rabo de cavalo, é diminuindo a frequência do uso desse tipo de penteado, em poucos dias da semana e por pouco tempo ao longo do dia, ou então, usar penteados que deixem o cabelo um pouco mais solto.

Foto: Hailey Bieber (Reprodução/Instagram)
5. O uso constante de bonés, lenços ou turbantes pode contribuir para o problema?
Se usados junto com um penteado que tracione muito o cabelo, estes acessórios podem sim contribuir para a alopecia, especialmente se usados por muitas vezes e muito apertados na cabeça, pois, o uso de bonés, chapéus ou lenços geram um atrito constante que enfraquece os fios e danifica o couro cabeludo.
6. Se a tração for constante ao longo dos anos, o dano é reversível?
Em fases mais avançadas, com a tração por muitos anos, os danos podem ser irreversíveis, porque a constante tração dos fios afeta os folículos capilares, causando uma inflamação, podendo levar a uma fibrose, em que o folículo é cicatrizado, impedindo totalmente o crescimento de novos fios na região.
7. Existe uma fase em que a alopecia por tração se torna irreversível? Como identificar?
Existe, que é quando o folículo capilar é completamente danificado e não gera mais novos fios de cabelo. Os primeiros sinais são o surgimento de áreas lisas no couro cabeludo, indicando que os folículos foram cicatrizados; áreas com ausência de fios mesmo após 6 a 12 meses sem praticar a tração e afinamento de fios mesmo após parar a tração.

Foto: Aylah Williams (Reprodução/Instagram)
e o que fazer para resolver?
8. O que deve ser feito imediatamente ao notar falhas por tração no couro cabeludo?
Parar com o hábito da tração com os penteados imediatamente, e consultar um dermatologista, que pode avaliar o couro cabeludo, identificar as causas da queda de cabelo e indicar um tratamento personalizado para cada caso.
9. Quais são os tratamentos dermatológicos indicados nesses casos? Medicamentos, tópicos, procedimentos?
Os tratamentos podem envolver o uso de produtos que hidratem e fortaleçam os fios, incluindo o uso de medicamentos que estimulam o crescimento dos fios no local, como o Minoxidil. Além disso, bons suplementos com ingredientes naturais, que atuam diretamente na papila dérmica, podem ajudar na reposição de proteoglicanos importantes para promoverem um crescimento saudável dos fios. Em casos com muita inflamação, também podem ser indicados medicamentos corticoesteroides em forma de pomada ou antibióticos.
10. O cabelo costuma voltar a crescer após o tratamento? Em quanto tempo, geralmente?
Em casos reversíveis, em que o folículo está apenas enfraquecido, com o tratamento feito com loções como o Minoxidil, em 3 a 6 meses podem surgir os primeiros fios e em 6 a 12 meses pode haver uma recuperação significativa do quadro. Porém, isso varia de pessoa para pessoa, e mesmo quando há melhora, os fios podem voltar mais finos ou diferentes dos originais. Por isso, é importante interromper a tração o quanto antes for possível para que os danos sejam menores.
11. Existem produtos (como shampoos, tônicos ou finalizadores) que ajudam a fortalecer o cabelo e prevenir a tração?
Sim, existem produtos que podem ajudar no fortalecimento dos fios e do couro cabeludo, mas a melhor prevenção é evitar de usar os penteados muito apertados com frequência e por muito tempo, pois nenhum produto sozinho impede os danos da tração.
12. O uso de certos tipos de escovas, elásticos ou pentes pode fazer diferença?
Sim, os acessórios certos podem reduzir os danos e preservar a integridade dos fios e do couro cabeludo. Os elásticos revestidos de tecido, as scrunchies, geram menos atrito do que os elásticos finos de borracha ou com metal. Usar pentes com dentes largos e escovas com cerdas flexíveis agridem menos os cabelos do que as escovas com cerdas duras ou pentes muito finos que enroscam nos fios. Uma dica é sempre usar um protetor térmico ou leave-in antes de pentear, especialmente se os fios estiverem danificados ou afinados.

Foto: Claire Most (Reprodução/Instagram)
13. Pessoas com cabelo crespo ou cacheado têm mais predisposição a desenvolver esse tipo de alopecia?
Sim, e isso acontece por conta da estrutura dos fios e de certos hábitos ligados a esse tipo de cabelo. Os fios crespos são mais frágeis e propensos à queda porque a sua oleosidade natural tem mais dificuldade de percorrer todo o fio, tornando-o mais seco. Além disso, as pessoas com cabelo cacheados costumam fazer procedimentos que usam muita tração, como tranças, coques, texturizações, apliques, alisamentos e as chamadas box braids, que se não forem feitos com cuidado, podem causar uma tração crônica. Por fim, por serem cabelos mais volumosos, a percepção dos sinais iniciais pode passar despercebida, podendo causar casos mais graves de alopecia por tração.
Apesar do número crescente de casos e relatos, ainda são poucas as pesquisas científicas dedicadas exclusivamente à alopecia por tração – o que reforça a importância de dar atenção aos sinais do próprio corpo. Se você notou áreas de afinamento, falhas ou pontos de calvície, a orientação é sempre procurar um dermatologista de confiança. Quanto mais precoce o diagnóstico, maiores as chances de recuperação.
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Fonte: Steal the Look