Você já começou a assistir a um filme ou série de época e não pareceu se convencer com a veracidade do conteúdo apresentado? Se sim, é muito provável que isso se deva à aparência do elenco selecionado. Timothée Chalamet em “O Rei”, Florence Pugh em “Little Women”, Millie Bobby Brown em “Enola Holmes”, ou todo o elenco de “Daisy Jones And The Six”. Hoje a frequência com que rostos extremamente modernos aparecem em filmes históricos aumentou tanto que, há alguns anos, o termo iphone face ou smartphone face entrou no dicionário da internet para se referir a todos aqueles atores que parecem deslocados quando se trata do passado.
O primeiro caso que ganhou repercussão foi em 2019, quando um usuário do Twitter disse que Timothée Chalamet e Lily Rose-Depp foram escalados incorretamente para o filme histórico “O Rei”, ambientado na Idade Média, porque ambos tinham rostos que pareciam saber o que era um Iphone.
Desde então, a discussão só aumentou, e já é de praxe que em toda produção cinematográfica de época, o casting sofra uma grande pressão antes mesmo de ser anunciado. Mas o que significa ter um iphone face? E quais características contribuem para esse visual modernizado do rosto humano?

Foto: Daisy Jones And The Six (Reprodução/Prime Video)
Michael Sheehan, ecologista comportamental e professor da Universidade Cornell, contou à revista Dazed que “as diferenças percebidas na aparência das pessoas entre meados do século XX e agora são certamente resultado de mudanças de estilo, higiene, procedimentos estéticos ou dieta, e não de evolução facial”. Apesar dos humanos no passado terem evoluído suas características faciais, é improvável que nossos rostos tenham mudado significativamente em cerca de 50 anos. Desconsiderando todos os fatores externos que nos permitem ser percebidos como modernizados, nossos rostos naturais não são tão diferentes em comparação com os de décadas anteriores.
Foto: Timothée Chalamet (Reprodução/Netflix)
Minha teoria pessoal sobre a impossibilidade de Hollywood produzir um filme de época plausível para a TV e o cinema é a odontologia estética. Esses dentes simplesmente não existiam na década de 70.
Então, se há uma diferença na aparência dos rostos atuais em comparação com os rostos de décadas ou até séculos passados, é muito provável que seja resultado de escolhas sociais, padrões de beleza e mudanças de hábitos. O exemplo mais gritante, e que constantemente traz discussões, é o fator odontológico. Várias pessoas atribuíram o fenômeno do iphone face aos dentes perfeitos, brancos e perolados que vemos em celebridades hoje em dia.
A popularização das facetas deixou a arcada dentária das celebridades quase que igualitária — hoje é raro vermos dentes imperfeitos e cheios de personalidade em filmes e séries. E, quando vemos, é um verdadeiro alívio. Quem não se apaixonou e se identificou com Aimee Lou Wood em “The White Lotus”? “Minha teoria pessoal sobre a impossibilidade de Hollywood produzir um filme de época plausível para a TV e o cinema é a odontologia estética”, tuitou a jornalista Michelle Cyca. “Esses dentes simplesmente não existiam na década de 70.”
Então, é claro que nosso cérebro não vai aceitar como verdade vermos facetas e dentes clareados em personagens históricos. Assim como fica difícil ver veracidade em rostos com procedimentos estéticos e cirurgias plásticas em séries sobre décadas passadas. Grande parte de ter um iphone face, é sobre seguir tendências de beleza, sejam facetas, preenchimentos labiais, sobrancelhas pigmentadas, ou até cirurgias plásticas, que tiveram um grande aumento desde os anos 70.

Foto: Camila Morrone (Reprodução/Prime Video)
A verdadeira questão que fica é: até que ponto estamos distorcendo a realidade ao tentar retratar o passado com a estética de hoje? A busca pela perfeição estética, ditada por padrões contemporâneos, está eliminando as marcas de autenticidade e história que tornavam os rostos do passado tão ricos e únicos. Quando criamos imagens de épocas passadas com os “rostos modernos” de hoje, estamos simplesmente apagando a identidade dessas eras, substituindo-a por uma versão polida e idealizada que não reflete a verdadeira essência de cada período.
Como podemos, então, realmente entender e nos conectar com a história, se estamos sempre a recriando através da lente da modernidade? O “iphone face” reflete o zeitgeist atual, e é impossível prever como o cinema e os padrões de beleza vão evoluir nas próximas décadas. Será que a estética do passado vai sobreviver, ou será engolida pelo culto à beleza instantânea?
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Fonte: Steal the Look