Com um orçamento modesto e equipe reduzida, a produção independente do Dream Well Studio surpreendeu ao se destacar nas principais premiações cinematográficas A animação Flow, vencedora do Oscar de Melhor Animação, estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (20) carregando um feito histórico: é o primeiro filme da Letônia a ser indicado ao Oscar. O longa concorre em duas categorias, Melhor Animação e Melhor Filme Internacional, e também conquistou o Globo de Ouro. Com um orçamento modesto e equipe reduzida, a produção independente do Dream Well Studio surpreendeu ao se destacar nas principais premiações cinematográficas.
Dirigido por Gints Zilbalodis, que também assina o roteiro ao lado de Matiss Kaža, Flow acompanha a jornada de um gato preto solitário que, após uma enchente, encontra refúgio em um barco ao lado de outros animais. Sem diálogos, o filme utiliza apenas os sons da natureza e dos bichos para contar uma história sobre sobrevivência, empatia e cooperação.
O sucesso de Flow transformou seu protagonista em um símbolo do cinema letão e impulsionou o reconhecimento da indústria cinematográfica do país. Desde o lançamento, o filme bateu recordes de público na Letônia, ultrapassando 300 mil ingressos vendidos, e arrecadou mais de US$ 20 milhões mundialmente — um resultado expressivo para uma produção de apenas US$ 3,7 milhões. O impacto foi tão grande que o governo letão anunciou novos investimentos no setor audiovisual para incentivar outras produções a alcançarem o circuito internacional.
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Entre as homenagens recebidas, o diretor Gints Zilbalodis foi nomeado Cidadão do Ano em Riga, capital da Letônia, e o Globo de Ouro conquistado pelo filme foi exposto no Museu Nacional de Arte.
No entanto, a mais emblemática foi a criação de uma escultura 3D do gato protagonista, feita pelo artista Kristaps Andersons. Inicialmente instalada em frente ao Monumento da Liberdade, um dos principais pontos turísticos de Riga, a obra será transferida para a Praça da Prefeitura, onde ficará exposta ao longo do ano.
Como o gatinho de ‘Flow’ se tornou um símbolo da Letônia
Divulgação
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A aclamação de Flow representa um momento de orgulho para a Letônia, um pequeno país banhado pelo Mar Báltico que conquistou sua independência em 1990. A torcida pelo filme no Oscar rivaliza com a paixão de outros países por seus candidatos, reforçando o peso simbólico da animação para o cinema nacional e para a identidade cultural letã.
Baixo orçamento, grande impacto
Criado com um orçamento modesto de apenas US$ 3,6 milhões – um valor muito inferior aos US$ 200 milhões de Divertida Mente 2 –, o longa se destaca por ter sido produzido inteiramente no Blender, um software gratuito de computação gráfica. Em vez de ver a limitação financeira como um obstáculo, o diretor Gints Zilbalodis fez dela um diferencial, trabalhando com uma equipe enxuta de cerca de 20 pessoas e apostando na criatividade para superar desafios técnicos. Assim, ele marcou a história da animação na Letônia.
Embora nenhum dos personagens tenha falas, a animação compensa essa ausência com expressões marcantes e uma personalidade cativante para cada um. Essa escolha narrativa, que difere do padrão das animações tradicionais – inclusive das concorrentes ao Oscar –, poderia tornar Flow um filme silencioso. No entanto, a sonoridade desempenha um papel fundamental na experiência, graças ao trabalho meticuloso do engenheiro de som Gurwal Coïc-Gallas.
Um toque pessoal na criação sonora
O diretor queria que o público enxergasse o mundo pelos olhos do protagonista felino, o que exigiu uma abordagem naturalista na construção dos sons. Para alcançar esse efeito, Coïc-Gallas decidiu começar a gravação dentro de sua própria casa, captando os sons de sua gata, Muit. O processo, no entanto, levou dois meses, pois o animal demorou a se acostumar com o microfone.
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O método se estendeu a outros personagens: lêmures, garças e cães foram “dublados” por animais reais da mesma espécie. A única exceção foi a capivara, cuja sonoridade não ficou como esperado. Após um dia inteiro de tentativas frustradas, a solução foi inusitada: o som dos filhotes de camelo acabou sendo a alternativa perfeita.
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Uma trajetória improvável e histórica
O projeto cresceu significativamente quando, em 2022, as produtoras Take Five (Bélgica) e Sacrebleu Productions (França) se juntaram à equipe, aprimorando aspectos técnicos como som e animação de personagens. O reforço foi essencial para estruturar o processo de produção, permitindo que Flow atingisse uma complexidade visual maior.
A grande virada aconteceu no Festival de Cannes 2024, onde o filme foi exibido na mostra Um Certo Olhar e recebeu aclamação da crítica. Desde então, a produção acumula prêmios em festivais como Annecy, European Film Awards e Annie Awards, além de ter sido reconhecida por associações de críticos em Nova York, Los Angeles e Boston. O sucesso foi tamanho que Flow se tornou o filme mais assistido da história da Letônia e até ganhou destaque no site oficial de turismo do país.
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O impacto do longa ultrapassou as telas e provocou uma reflexão no cenário audiovisual letão. A ministra da Cultura, Agnese Lace, reconheceu a necessidade de um maior investimento no setor, destacando que conquistas internacionais como essa merecem não apenas reconhecimento, mas também suporte financeiro.
Para Zilbalodis, a trajetória improvável de Flow prova que há um público interessado em novas abordagens dentro da animação. “É algo inédito e insano”, disse ele ao podcast The Big Picture. “Isso mostra que há espaço para produções diferentes, com estúdios menores assumindo riscos. Tenho certeza de que veremos mais filmes assim no futuro.”
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Fonte: Glamour