Outros destaques em Paris: Lagerfeld, Torishéju, Olivia von Halle

Um ambiente mediterrâneo na casa de Lagerfeld, onde o leitmotiv foi La Vigie, a bela villa /palácio onde Karl residiu na fronteira entre o Mônaco e França.

O espírito elegantemente descontraído de La Vigie percorreu toda a coleção. O estampado Mônaco surgiu numa série de esboços elegíacos à beira-mar, aplicados em pijamas de algodão, camisas de seda e casacos jeans.

“O Karl viveu aí muito feliz durante muitos anos. La Vigie era não só uma grande villa, mas também um jardim tropical, com muitos pássaros”, explicou o designer da Lagerfeld, Kun Kim, numa apresentação na sede da marca, uma villa urbana em St. Germain.

As linhas clássicas de La Vigie também inspiraram a construção das peças, muitas delas com ombros marcados. Kun revisitou os anos 1980 com múltiplas silhuetas de poder e até camisas brancas com pences e ombros acolchoados.

Fiel ao DNA neoexpressionista da maison, Kun apresentou vestidos de cocktail em jersey mate, elegantes calças de pijama em seda rematadas com um friso de assinatura KL, e um twin set de algodão às riscas com calções e minúsculos botões-espelho com o perfil de Karl. Também impressionantes: trench coats em organza de poliéster semitransparente e um excelente casaco safari com elementos amovíveis.

Tudo podia ser usado com uma nova mala, cuja asa metálica prateada tem a forma de Choupette, a gata adorada do falecido Karl.

“Esta estação parece uma homenagem a Karl”, disse Kun, que celebrou ainda o fundador com uma festa Rock’n’Roll no Palais de Tokyo, com Paris Hilton como DJ, estrela da mais recente campanha da marca. Em suma, a KL continua acontecendo em Paris.

Torishéju ganhou este mês o LVMH Prize de Savoir-Faire e, após vermos a sua coleção corajosa e frequentemente bela na passada quarta-feira, se percebe por que o mereceu plenamente.

Uma designer para mulheres que pensam, Torishéju Dumi mistura todo o tipo de referências — militares, industriais e utilitárias — em roupas inteligentes e coerentes. Como o excelente look de abertura em Naomi Campbell: um casaco de lã preto, elegante, com um peplum feminino e ombros alargados, sugerindo a armadura de um cavaleiro.

Mostrou camisas caneladas de lã, de super-tenente em manobras, combinadas com saias de folhos assimétricos e bem cool; vestidos de lã perfeitamente drapeados, riscados, com bainhas desfiadas; ou um fabuloso conjunto segunda pele em tom framboesa: camisa de corte masculino e calças demasiado compridas. Cada look parecia um pouco arty, mas sempre plausível — o selo de uma designer verdadeiramente talentosa. Um raro modelo masculino envergou uma impressionante batina sacerdotal em tecido de camisa masculina, que misturava o sagrado com o profano.

Um dos temas da coleção foi inspirado na arte de Albrecht Dürer.

“Tal como Albrecht Dürer explorou, em tempos, as tensões entre o divino e o terreno, esta coleção dirige o seu olhar para as interseções entre o caos e o controlo, o corpo e o sistema, o pensamento e a forma”, escreveu Dumi no seu programa de intenções.

Formada no London College of Fashion e no Central Saint Martins, de origem nigeriana-brasileira e criada em Londres, Torishéju é um talento especial. Uma designer de olhar muito atento. Numa palavra, Torishéju tem poder de permanência e panache.

Uma coleção cápsula colaborativa que parece destinada ao sucesso é a parceria de Olivia von Halle com o Hôtel Costes, celebrada esta semana no bar repleto do hotel eternamente mais cool de Paris.

O Lila Liaisons — uma versão renovada da silhueta de pijama mais vendida de Von Halle — é a peça-chave desta coleção de loungewear de luxo. Surge acompanhado pelo lenço de cabeça Deneuve Liaisons e pela Audrey Costes, uma variação da máscara de olhos emblemática da marca.

No vermelho ardente característico do Costes, era impossível não notar a atenção extra que os barmen, que usavam os tops, receberam na soirée.

A parceria é a segunda de Olivia von Halle — a criadora de pijamas absolutamente chiques — com um hotel de primeira linha. Segue-se à colaboração de Olivia von Halle com o The Carlyle para criar uma linha de pijamas para o lendário hotel da Madison Avenue.

A coleção Costes é feita principalmente de uma bela seda dévoré, com um notável efeito burnout no padrão. O estampado, nascido de um esboço desenhado à mão no atelier londrino de Olivia von Halle, brinca com os códigos do Costes — um encontro com o espírito “les années folles”, volutas de fumo que soletram ‘Costes’ e uma pitada de atrevimento. Ideal, por outras palavras, para a nova vaga da moda, refinada e sexy.

“Sempre gostei da ideia de transformar um estado de espírito, um lugar, um sentimento num pijama. E no Costes, as nossas peças se sentem perfeitamente em casa”, afirmou Olivia. E também na sua própria casa.