O Paraná é o terceiro estado com mais casos de racismo e injúria racial no Brasil. É o que revelam dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os quais apontam que uma média de cinco crimes envolvendo esse tipo de discriminação são registrados por dia no estado, sendo que este tipo de ocorrência que está em alta, em inclusive. E o dia de ontem foi emblemático para a causa antirracista, já que ocorreu, na 4ª Vara Criminal de Curitiba, a audiência de instrução e julgamento do caso que teve como vítima o jornalista Franklin de Freitas, editor de fotografia do Bem Paraná e presidente da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Paraná (Arfoc-PR).
De acordo com os dados do Anuário, em 2023, último ano com dados disponíveis, o Paraná registrou um total de 1.954 casos de racismo e injúria racial. Os dois crimes, embora tenham tipificações diferentes, foram equiparados em 2023 e apresentam desde então a mesma pena: reclusão de dois a cinco anos, além de multa, sendo que não é cabível fiança e esse tipo de crime também é imprescritível.
Em todo o Brasil, naquele mesmo ano, haviam sido registrados 25.507 crimes de teor racista. E entre todas as unidades da federação, apenas Santa Catarina (com 3.170 registros) e Rio de Janeiro (2.911) registraram mais ocorrências que o Paraná.
Ou seja, o estado é o terceiro com mais casos de racismo e injúria racial em todo o Brasil. E essas situações, se não estão se tornando mais comuns, pelo menos estão ganhando evidência. Em 2022, por exemplo, haviam sido anotados 1.678 crimes desse tipo, o que significa que no último ano com dados disponíveis houve um aumento de 16,5% nos registros de racismo e injúria racial.

Caso Franklin de Freitas
O jornalista Franklin de Freitas foi vítima de ofensas racistas proferidas por um torcedor do Coritiba no dia 28 de abril de 2024. Na ocasião, o fotógrafo trabalhava na cobertura do jogo entre Coxa e Brusque, pela Série B do Campeonato Brasileiro, e foi chamado de “preto filho da puta” por um torcedor durante o intervalo da partida, enquanto atravessava o gramado do Couto Pereira. Depois da violência, o torcedor fugiu do estádio e Franklin foi até a Delegacia Móvel de Atendimento a Futebol e Eventos (Demafe), para registrar um boletim de ocorrência. Dias depois, esse torcedor foi identificado. Ele se chama Alcione Tessari e era sócio do clube, mas acabou expulso após o caso vir à tona.
Ontem, então, ocorreu a primeira audiência de instrução e julgamento do caso, na 4ª Vara Criminal de Curitiba. Foi, também, a primeira vez que a vítima e o réu estiveram frente a frente
“Fiquei quase o tempo inteiro da audiência frente a frente com ele. Ele não me pediu desculpas e negou os fatos. Falou que simplesmente me pediu para tirar uma foto dele, eu neguei, ele se sentiu envergonhado com os amigos e saiu do local. Essa foi a versão dele, uma versão completamente ao contrário do que aconteceu”, relata o fotógrafo do Bem Paraná.
Durante a audiência, seis testemunhas foram ouvidas, três delas apresentadas pelo Ministério Público do Paraná (MPPR) e outras três pela defesa. Enquanto as testemunhas de defesa tentaram desqualificar a acusação de racismo, negando que Alcione teria proferido qualquer ofensa racista ou mesmo fugido do estádio, as de acusação (dois torcedores do Coxa que frequentavam o mesmo setor onde o réu costumava assistir os jogos e o segurança que atendeu Franklin após a denúncia de racismo) trataram de demonstrar que o torcedor já havia tido comportamentos inadequados em outras ocasiões, xingando, por exemplo, gandulas e até mesmo o Vovô Coxa, mascote alviverde.
Agora, a expectativa é que o caso tenha um desfecho em primeira instância nos próximos meses.
Apoio em massa antes da audiência
Antes da audiência em Curitiba, uma manifestação foi feita na frente da 4ª Vara Criminal de Curitiba. Nomes como o deputado estadual Goura Nataraj (PDT) e a vereadora Giorgia Prates (PT) estiveram no local apoiando Franklin, num caso que contou com a cobertura dos principais veículos de imprensa do Paraná.
“Essas pessoas que cometem esse tipo de agressão, esse racismo ou qualquer outro tipo de injúria ou discriminação, não podem cometer esse tipo de coisa e andar tranquilamente na rua, como se nada tivesse acontecido. Racismo é crime e essas pessoas precisam, sim, pagar por isso”, desabafa o fotógrafo do Bem Paraná.
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Fonte:Bem Paraná