Por que o Dia Internacional da Mulher é em 8 de março? | Brasil

Por que as mulheres têm um dia dedicado a elas? A procedência da data está mais relacionada à política social do que à festa. Antes de ser registrado oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, o 8 de março, como data internacional, nasceu da proposta de Clara Zetkin – professora, jornalista e ativista alemã – de criar um dia que marcasse a reivindicação das mulheres do mundo inteiro por direitos básicos, como o de votar, o fim do assédio, a autonomia civil e o acesso a melhores condições de trabalho.

A ideia de Zetkin durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas realizado na Dinamarca, em 1910, partiu da observação de movimentos operários liderados por mulheres, a exemplo de uma marcha feminina na Nova York de 1908, quando 15 mil mulheres tomaram as ruas para exigir a redução da jornada de trabalho, o aumento de salário e o direito ao voto. O evento teve uma proporção tão grande que, no ano seguinte, o Partido Socialista da América instituiu o Dia Nacional das Mulheres.

Por que o dia 8 de março?

Mesmo com as manifestações do começo do século XX, a escolha do dia tem a ver com a Rússia: no dia 23 de fevereiro 1917 do calendário juliano, usado pelos russos na época (equivalente ao 8 de março do atual calendário gregoriano), operárias de uma fábrica de tecido declararam uma greve para cobrar do czarismo – monarquia autoritária que controlava a União Soviética – comida para o povo e condições dignas de trabalho.

O levante feminino garantiu às mulheres o direito ao voto, fortaleceu a Revolução Russa e ajudou a derrubar a autocracia soviética, com a deposição do czar Nicolau II.

Em 1975, a ONU declarou o Ano Internacional da Mulher e promulgou a data como o Dia Internacional das Mulheres, como já acontecia nos países soviéticos desde 1921.

As agitações sociais decorrentes dos movimentos de Maio de 68 – quando estudantes e trabalhadores franceses ocuparam as ruas de Paris para clamar por empregos e qualidade na educação ao governo numa greve geral –, que se desdobrou na contracultura, no movimento hippie, na segunda onda feminista e na revolução sexual também foram mecanismos de lógica para formalizar a data.

O mito da fábrica incendiada

A história oral difunde a falsa ocasião de que um incêndio na fábrica têxtil “Cotton Textile Factory” em 8 de março de 1857, em Nova York, matou 129 operárias. O episódio nunca aconteceu.

Reza a lenda que, depois do suposto incêndio, as outras trabalhadoras conflagraram uma greve em nome da tragédia e das condições desumanas na fábrica, e que o Dia Internacional das Mulheres nasceu por conta disso.

Educação como impulso para a igualdade de gênero

Carla Romão, socióloga especialista em gênero e doutora em educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), comenta que vê na juventude uma dedicação para conscientizar a sociedade sobre os direitos das mulheres, já que as gerações mais novas têm acesso a variadas formas de instrução e educação.

Para ela, o 8 de março pode ter sido “capturado” e mercantilizado, mas a essência da data não é essa:

“O dia acaba virando um produto e diversos grupos sociais aderem a ele através do simbolismo como a compra de flores, bombons e similares. Mas isso não esconde a grande potência desse dia, inclusive já há uma disseminação de que o 8M não é sobre presentes, mas sim um dia de luta, de recordação e de construção de futuro para que meninas, jovens mulheres, mulheres adultas e idosas possam viver sem prejuízos na sua condição de mulher”, enfatiza Romão.

Há retrocessos que ainda ferem a integridade humana da mulher. De acordo com o Anuário da ONU Mulheres 2024, a violência contra mulheres aumentou no último ano, em que cerca de 85 mil meninas e mulheres em todo o mundo foram mortas devido ao gênero, sendo 60% das mortes provocadas por familiares ou conhecidos; os números equivalem a 1 assassinato a cada 10 minutos. No Brasil, o relatório aponta que os números de feminicídio também subiram, foram 1.467 casos registrados.

A socióloga analisa que o avanço de setores conservadores e que as altas taxas de violência de gênero em um país que já tem leis de penalizam agressões contra mulheres devem ser pontos de atenção na execução de políticas públicas:

“Vemos, desde 2018, o orçamento para aplicação dessa legislação ser reduzido e essa é das principais ferramentas para reverter essa mazela social. Por exemplo, cadê as escolas sendo estimuladas a promover uma cultura de igualdade entre meninas e meninos, mulheres e homens? A gente ainda não é educado para ser igual”, questiona Romão.

Um ato na Espanha, em 2018, ressaltou a força do dia 8 de março ao popularizar a sigla #8M. Cerca de meio milhão de mulheres convocaram uma paralisação em cidades espanholas como Madri, Sevilha, Barcelona e Bilbao para protestar contra a desvalorização da mulher na sociedade.

Trabalhadoras, estudantes, imigrantes, mães, filhas fizeram uma greve diária para repudiar as diferenças salariais entre os gêneros, o racismo, o sexismo, o feminicídio, o abuso do corpo feminino, entre outras pautas.

Desde então, o #8M é um símbolo de reivindicação por direitos das mulheres no mundo todo.

Fonte: Valor

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