Quando o corpo do papa Francisco chegar à Basílica de Santa Maria Maior depois da missa de exéquias na Praça de São Pedro, neste sábado (26), cerca de 40 pessoas em situação de vulnerabilidade social estarão lhe esperando nas escadarias do templo para um “último adeus”.
Serão pobres, sem-teto, presos, pessoas trans e imigrantes que despedirão do Santo Padre, mas sobretudo manifestaram sua “sincera gratidão” a quem, para muitos, deles foi como um “pai”, segundo o bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA) e Secretário da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da Conferência nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Vicente Ferreira.
“Tomara que a cena impulsione a eleição do próximo papa, pois essas pessoas são o futuro e o presente da Igreja. Somos a Igreja dos últimos. Até mesmo no velório do papa tem muita vaidade, com muitas autoridades e tudo mais. Corríamos o risco de não termos pobres no velório do papa dos pobres. Esse gesto, interpreto, como um aceno do Espírito Santo para o futuro da Igreja.”
Essa iniciativa, proposta pelos responsáveis pela liturgia do funeral, reflete o compromisso que Jorge Bergoglio sempre teve com os que vivem as margens, diz. Essa postura de proximidade com os mais pobres tornou-se uma marca de seu pontificado, afirma Dom Vicente. “Os últimos da sociedade desta vez terão o privilégio de serem os últimos a verem o papa.”
“Os pobres têm um lugar especial no coração de Deus”, escreveu o Vaticano no comunicado sobre a iniciativa, que foi divulgado nesta quinta-feira (24).
Segundo o portal oficial da Santa Sé, Vatican News, a ideia nasceu após uma conversa entre o secretário da Comissão para as Migrações da Conferência Episcopal Italiana, Dom Benoni Ambarus, e o delegado para a área da caridade e o mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, Dom Diego Ravelli, para “tentar valorizar de alguma forma a presença dos pobres no funeral”.
Em seguida, “foi escolhida uma representação das diversas categorias de pessoas frágeis, carentes, incluindo moradores de rua, migrantes, detentos ou ex-presidiários ou famílias pobres. Idealmente, é como se todas as suas pessoas prediletas o acompanhassem em seus últimos passos”, explica Dom Ben.
Podem me chamar de Francisco
Durante seu pontificado, Francisco enfatizou a importância de uma Igreja voltada para os pobres e excluídos, promovendo ações de caridade e inclusão social. Inclusive, a história da escolha de seu nome reflete essa preferência pelos excluídos sociais. Em março de 2013, logo após ser eleito, o papa fez coletiva de imprensa. Foi nesse dia que ele revelou o que o levou a escolher o nome “Francisco” e a importância do apoio de Dom Cláudio Hummes, que faleceu em 2022.
“Na eleição, eu tinha ao meu lado o arcebispo emérito de São Paulo, um grande amigo. Quando a coisa começou a ficar um pouco perigosa, ele começou a me tranquilizar. E quando os votos chegaram a dois terços, aconteceu o aplauso esperado, pois, afinal, havia sido eleito o papa”, contou. “Ele, então, me abraçou, me beijou e disse: ‘Não se esqueça dos pobres’. Aquilo entrou na minha cabeça. Imediatamente lembrei de São Francisco de Assis.”
No mesmo ano de sua eleição, o papa também falou sobre o legado de São Francisco de Assis na história eclesial. Segundo ele, a escolha do nome também refletia a visão que tinha para a Igreja: “Eu queria uma Igreja pobre, e para os pobres”, disse, à época.
O sepultamento de Francisco terá lugar entre a Capela Paulina e a Capela Sforza da Basílica Liberiana, conforme o desejo do santo padre.
A cerimônia de despedia do primeiro pontífice latino-americano contará com a presença de autoridades eclesiásticas e representantes de diversas comunidades, em um momento de reflexão e oração pela alma do pontífice.
Fonte: Valor