Uma piora na conjuntura macroeconômica tem levado a uma tendência de pessimismo entre os consumidores em novas compras para próximos meses. A análise partiu de Anna Carolina Gouveia, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
A fundação divulgou, nesta segunda-feira (24), queda de 2,6 pontos no Índice de Confiança do Consumidor (ICC), para 83,6 pontos. Com a retração, o indicador se posicionou no menor patamar desde agosto de 2022 (82,1 pontos).
“[Com a terceira queda consecutiva] já podemos dizer que é uma virada de tendência, um aumento do pessimismo do consumidor”, admitiu.
A técnica pontuou que, em fevereiro, o pessimismo foi generalizado em todos os componentes do indicador. Na evolução dos dois sub-indicadores componentes do ICC, o Índice de Situação Atual (ISA) manteve-se estável em fevereiro, em 79,4 pontos. Mas o Índice de Expectativas (IE) caiu 4,3 pontos, para 87,3 pontos.
“E quando olhamos as faixas de renda, a tendência de pessimismo é disseminada”, completou Gouveia.
Em fevereiro, o ICC caiu 3,3 pontos entre consumidores com renda mensal até R$ 2.100; e recuou 2,4 pontos para quem tem renda entre 2.100,01 e R$ 4.800,00. Já nas faixas de renda mais elevadas, o ICC caiu 1,7 pontos entre R$ 4.800,01 e R$ 9.600,00; e recuou 0,1 ponto em famílias com renda mensal acima de R$ 9.600,01.
Ao falar da conjuntura macroeconômica menos favorável, a técnica lembrou o recente avanço de inflação, no começo de ano, principalmente em alimentos da cesta básica do brasileiro.
“A inflação de alimentos está muito na mente do consumidor e é muito forte para famílias com renda mais baixa”, disse. “As de renda mais baixa não têm como lidar, por exemplo, com aumento de preço de ovo, essencial para todos, e que costuma ser mais barato”, exemplificou.
No caso dos consumidores de maior poder aquisitivo, além de inflação mais elevada, há também o impacto do quadro de juros mais elevados. Além de inibir compras de bens duráveis – de maior valor agregado e, portanto, mais suscetíveis à venda a crédito, com juros –, também torna dívidas mais caras.
A especialista alertou ainda que a situação atual, de pessimismo do consumidor, poderia ser pior não fosse o bom momento de mercado de trabalho. Com emprego em alta e desemprego em patamares baixos, a renda originada do trabalho continua a fluir e a manter o poder aquisitivo do consumidor, notou.
Ao ser questionada sobre trajetória futura do ICC, a técnica não descartou possibilidade de o índice continuar a cair, tendo em vista o contexto macroeconômico. “A tendência é piorar mais um pouco, e continuar na faixa dos 80 pontos”, disse ela, ao destacar que esse patamar é relativamente baixo para o indicador. A zona de otimismo do índice de confiança da fundação é acima de 100 pontos.
Fonte: Valor