Quem é Fernanda Torres, que concorre ao Oscar 2025? | Brasil

“A vida presta” e “totalmente premiada”: quem não se deparou com as duas frases nos últimos três meses nas redes sociais, em estampas de camisetas, em fantasias de carnaval ou conversas nas ruas? A atriz Fernanda Torres é aclamada com memes no Brasil e com fama mundo afora ao atuar no filme “Ainda Estou Aqui”, do diretor Walter Salles, drama baseado na vida da família de Eunice e Rubens Paiva, engenheiro civil e deputado federal sequestrado e morto pela ditadura brasileira em 1971.

Além de atriz, Torres ‒ conhecida do grande público nacional por encarnar personagens de humor cínico e ligeiro na televisão ‒ que também se dedica ao teatro e ao cinema, é autora de livros e roteirista.

Origens de Fernanda Torres

Filha de Fernanda Montenegro (ou “Fernandona” no dito popular) ‒ atriz, imortal da Academia Brasileira de Letras e primeira brasileira indicada ao Oscar ‒ com Fernando Torres ‒ ator, produtor e diretor de teatro e TV ‒, e irmã caçula do cineasta Claudio Torres, Fernanda Pinheiro Torres nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 15 de setembro de 1965.

Cria da Tijuca ‒ bairro de classe média e um dos mais populosos da zona norte do Rio ‒ a indicada ao Oscar de melhor atriz em 2025 dá ênfase às origens com espírito cômico. Em um vídeo viral que veio à tona no início deste ano, “@atijucana” (nome do perfil de Torres no X) comenta sobre as possibilidades reduzidas de ganhar o maior prêmio do cinema durante entrevista em um programa de televisão, em 1989:

“Quando eu ganhei Cannes, primeiro, lá na Tijuca, o meu tio Paulo virou pra mim: ‘Quero te ver um dia no Oscar’. E eu olhei pra ele, e falei ‘nossa, o tio Paulo (irmão do pai dela) não tem ideia da ralação que é e da sorte que é chegar até aqui. O Oscar não vai rolar nunca”, expôs a primeira ganhadora brasileira do prêmio francês “Palma de Cannes” como melhor atriz, em 1986, por protagonizar o filme “Eu sei Que Vou Te Amar”, de Arnaldo Jabor.

Fernanda Torres leva a vida pessoal com discrição. A aura artística herdada da família se prolonga no casamento e na maternidade, já que a atriz é casada com o diretor e roteirista Andrucha Waddington e é mãe de Joaquim, de 25 anos, também ator, e de Antonio, de 16 anos.

Torres é torcedora do time de futebol Fluminense, e expressa, por incrível que possa soar, torcida por outro clube carioca, o Flamengo.

Torres começou os estudos no teatro em 1978, aos 13 anos, e se formou na tradicional escola de artes cênicas “O Tablado”, fundada pela atriz e escritora Maria Clara Machado há 74 anos.

O debute da atriz foi nos palcos, na peça “Um Tango Argentino”.

A primeira aparição de Fernanda Torres na TV foi em 1979, numa breve passagem na série “Aplauso”, da Rede Globo.

O primeiro papel fixo foi na novela “Baila Comigo”, em 1981, como Fauna Rosa França, uma adolescente aventureira e muito próxima da família. Inclusive, Fernanda Montenegro e Fernando Torres também participaram da novela, mas em núcleos diferentes da filha. Outras produções televisivas de Fernanda Torres foram:

  • Brilhante – temporada 1 (novela de 1981);
  • Eu Prometo – temporada 1 (1983);
  • Selva de Pedra (1986);
  • A Comédia Da Vida Privada (1995 a 1997);
  • Luna Caliente (1999);
  • Os Normais (2001 a 2003) – deu vida a Vani, uma das personagens cômicas mais famosas da artista e que segue na memória dos telespectadores;
  • As Filhas Da Mãe (2001);
  • As Cariocas (2010);
  • Tapas E Beijos (série de 2011 a 2015) – atuou como a divertida Fátima, uma vendedora de loja envolvida num triângulo amoroso e que vivia os perrengues dos trabalhadores que se dividem entre o subúrbio e a zona nobre da cidade junto com a amiga fiel, Sueli (Andréa Beltrão);
  • Filhos Da Pátria (2017 a 2019);
  • Sob Pressão – temporada 2 (2018);
  • Diário De Um Confinado – temporadas 1 e 2 (2020);
  • Amor E Sorte (2020);
  • Fernanda Young – Foge-me Ao Controle (2024).

O primeiro filme de Fernanda Torres foi “Inocência”, em que protagoniza a personagem com o mesmo nome do título. No romance, Inocência é uma jovem do século XIX que sofre de malária e se apaixona pelo médico durante o tratamento. Depois desse longa, a atriz seguiu nas seguintes obras:

  • Amenic – Entre o Discurso e a Prática (1984);
  • A Marvada Carne (1985);
  • Com Licença, Eu Vou À Luta (1986);
  • Sonho Sem Fim (1986);
  • Eu Sei Que Vou Te Amar (1986);
  • Kuarup (1989);
  • Caso Especial – O Santo Que Não Acreditava em Deus (1993);
  • Capitalismo Selvagem (1993);
  • Beijo 2348/72 (1994);
  • O Judeu (1995);
  • Terra Estrangeira (1995);
  • Miramar (1996);
  • O Que É Isso, Companheiro? (1997);
  • O Primeiro Dia (1998);
  • Gêmeas (1999);
  • Os Normais – O Filme (2003);
  • Redentor (2004);
  • Casa de Areia (2005);
  • Saneamento Básico – O Filme (2007);
  • Jogo de Cena (2007);
  • A Mulher Invisível (2009);
  • Os Normais – A Noite Mais Maluca De Todas (2009);
  • Consideração do Poema (2011);
  • Os Normais 3 (2017);
  • Os 8 Magníficos (2017);
  • Conversa Com Ele (curta-metragem de 2018);
  • O Mês Que Não Terminou (2019);
  • Gilda, Lúcia E O Bode (2020);
  • Parabéns Pra Você (2020);
  • Ainda Estou Aqui (2024).

Dedicação à literatura

Em 2013, Fernanda Torres lançou o primeiro livro, “Fim”, que inspirou uma série para o streaming com o mesmo nome – o que rendeu a Torres a estreia como roteirista – estrelada por Fábio Assunção e Marjorie Estiano.

No livro, a autora desdobra fases da vida de 5 casais – que voltam no tempo e refletem sobre a própria história – na Copacabana dos anos 1960 (época “glamurosa” do bairro carioca de, então, classe média alta) ao ano de 2012. Em seguida, a escritora lançou:

  • Sete Anos (2014): coletânea de crônicas;
  • A Glória e Seu Cortejo de Horrores (2017): romance que foca na vida de um ator por volta dos 50 anos, o fictício Mário Cardoso, que vai da fama à decadência.

Eunice Paiva e a indicação ao Oscar

De novembro de 2024 – mês da estreia de “Ainda Estou Aqui”, adaptação cinematográfica do livro homônimo escrito por Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens Paiva – a fevereiro de 2025, a protagonista Fernanda Torres apresenta ao mundo um recorte do período de repressão no Brasil e as consequências trágicas do regime através da história real da família Paiva, perseguida sob acusação de envolvimento com militantes comunistas de oposição.

Da vida de dona de casa nos anos de 1970, passando pela viuvez e maternidade solo de 5 filhos e alcançando o ativismo social e a luta pelos direitos humanos como advogada, Eunice Paiva ganhou reverências internacionais de pessoas que assistiram a Fernanda Torres e Selton Mello reproduzirem as dores da família.

Fernanda Torres faz questão de sempre colocar a personagem à frente da própria imagem. Na vestimenta, preza pelo preto e tons sóbrios para lembrar o luto e a gravidade da história. Em entrevista à atriz americana Jessica Chastain para a publicação americana “Interview Magazine”, Torres conta:

“Eu continuo explicando às pessoas que eu não fiz nada, foi o filme que me colocou nisso (nos holofotes internacionais). É essa personagem; muitas coisas que dizem que eu fiz, foi essa mulher. Eu acho que a entendi, e fiz um esforço enorme para não trai-la”, reflete a intérprete de Eunice Paiva.

Prêmios de Fernanda Torres

Além de concorrer ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Atriz e, em grupo, ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional, a artista coleciona mais títulos de honra:

  • Globo de Ouro como Melhor Atriz em Filme de Drama (2025);
  • Critics Choice Awards para filmes latinos como Melhor Atriz Internacional (2025);
  • Satellite Awards como Melhor Atriz em Filme de Drama (2025);
  • Leja Awards como Melhor Atriz (2025);
  • Prêmio Jabuti como Melhor Livro Brasileiro Publicado no Exterior (2018);
  • Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro como Melhor Atriz Coadjuvante (2010);
  • Festival Internacional de Cinema de Guadalajara como Melhor Atriz (2006);
  • Palma de Cannes como Melhor Atriz (1986);
  • Nantes Three Continents como Melhor Atriz (1986);
  • Festival de Cinema de Gramado (1985), entre outros.

Fonte: Valor

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