O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, apoiou totalmente os objetivos de guerra de Israel na Faixa de Gaza neste domingo (16), afirmando que o Hamas “deve ser erradicado”, o que coloca ainda mais em dúvida o frágil cessar-fogo.
Rubio se reuniu com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém no início de uma viagem regional, onde provavelmente enfrentará resistência de líderes árabes sobre a proposta do presidente Donald Trump de transferir a população palestina para fora de Gaza e reconstruir o território sob controle dos EUA.
Netanyahu apoiou o plano e disse que ele e Trump têm uma “estratégia comum” para o futuro de Gaza. Repetindo as palavras de Trump, afirmou que “as portas do inferno se abrirão” se o Hamas não libertar as dezenas de reféns restantes sequestrados em seu ataque de 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra de 16 meses.
Seus comentários vieram duas semanas antes do término da primeira fase do cessar-fogo. A segunda fase, na qual o Hamas deve libertar mais reféns em troca de prisioneiros palestinos, uma trégua duradoura e a retirada das forças israelenses, ainda não foi negociada.
Rubio disse que o Hamas não pode continuar existindo como uma força militar ou governamental. “Enquanto continuar sendo uma força que pode governar, administrar ou ameaçar com violência, a paz se torna impossível”, afirmou. “Deve ser erradicado.”
Essa posição pode dificultar as negociações com o Hamas, que ainda controla Gaza apesar das grandes perdas na guerra.
Rubio também planeja visitar pesos pesados da região, como Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
Enquanto isso, o exército israelense informou que realizou um ataque aéreo neste domingo contra pessoas que se aproximaram de suas forças no sul de Gaza. O Ministério do Interior, controlado pelo Hamas, disse que o bombardeio matou três de seus policiais que protegiam a entrada de caminhões de ajuda perto de Rafah, na fronteira com o Egito.
O Hamas classificou o ataque como uma “grave violação” do cessar-fogo e acusou Netanyahu de tentar sabotar o acordo.
Retomar a guerra pode condenar os reféns
Retomar a guerra poderia ser uma sentença de morte para os reféns restantes e talvez não conseguisse eliminar o Hamas, que reafirmou seu controle sobre Gaza quando o cessar-fogo foi estabelecido no mês passado.
Netanyahu já indicou que está disposto a retomar a guerra após a fase atual e ofereceu ao Hamas a oportunidade de se render e enviar seus principais líderes ao exílio.
O Hamas rejeitou esse cenário. Seu porta-voz, Abdul Latif al-Qanou, disse à Associated Press que o grupo aceitaria um governo de unidade palestina ou um comitê tecnocrático para administrar Gaza. O grupo insiste na presença de um governo palestino.
Na semana passada, o Hamas ameaçou atrasar a última libertação de reféns porque Netanyahu ainda não aprovou a entrada de casas móveis e máquinas pesadas em Gaza, conforme exigido no acordo em andamento. A libertação de sábado ocorreu após garantias de mediadores do Catar e Egito.
Um funcionário israelense, que falou sob condição de anonimato, disse que o assunto será discutido nos próximos dias e que Israel está coordenando a questão com os Estados Unidos.
Em outro sinal de alinhamento entre os aliados, o Ministério da Defesa de Israel informou que recebeu um carregamento de bombas MK-84 de 900 kg dos Estados Unidos. A administração do ex-presidente Joe Biden havia pausado esse envio no ano passado devido a preocupações com as mortes de civis em Gaza.
“Se alguém tem um plano melhor, ótimo”
Em uma entrevista de rádio na semana passada, Rubio disse que a proposta de Trump tem, em parte, o objetivo de pressionar os Estados árabes a apresentarem um plano pós-guerra aceitável para Israel.
Ele também sugeriu que os países árabes poderiam enviar tropas para combater o Hamas.
“Se alguém tem um plano melhor, esperamos que sim. Se os países árabes têm um plano melhor, então seria ótimo”, disse Rubio na quinta-feira no programa “Clay and Buck Show”.
Mas “o Hamas tem armas”, acrescentou. “Alguém precisa enfrentar esses caras. Não serão soldados americanos. E se os países da região não puderem resolver essa parte, então Israel terá que fazer isso.”
Rubio não tem encontros programados com palestinos em sua viagem pelo Oriente Médio.
Líderes árabes têm opções limitadas
Para os líderes árabes, facilitar a expulsão em massa de palestinos de Gaza ou combater os militantes palestinos em nome de Israel são cenários impensáveis, que trariam fortes críticas internas e poderiam desestabilizar ainda mais a região.
O Egito sediará uma cúpula árabe em 27 de fevereiro e está trabalhando com outros países em uma contraproposta que permita reconstruir Gaza sem remover sua população. Grupos de direitos humanos dizem que a expulsão de palestinos provavelmente violaria o direito internacional.
Cairo alertou que qualquer influxo massivo de palestinos de Gaza poderia prejudicar seu tratado de paz de quase 50 anos com Israel, um pilar da influência dos EUA na região.
“A continuação do conflito e sua ampliação prejudicarão todas as partes sem exceção”, disse o presidente egípcio Abdel Fattah el-Sissi neste domingo, segundo um comunicado de seu gabinete.
Os países árabes e muçulmanos condicionaram qualquer apoio à reconstrução de Gaza após a guerra ao retorno de um governo palestino e a um caminho para a criação de um Estado nos territórios ocupados por Israel em 1967: Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Israel descartou tanto a criação de um Estado palestino quanto qualquer papel da Autoridade Palestina, apoiada pelo Ocidente, no futuro de Gaza. A Autoridade Palestina perdeu o controle da região em 2007, quando o Hamas tomou o poder.
Visitas a aliados regionais
Os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita também rejeitaram qualquer deslocamento em massa de palestinos e seriam fundamentais para qualquer resposta regional.
Os Emirados foram a principal força por trás dos Acordos de Abraão de 2020, que normalizaram as relações entre Israel e quatro Estados árabes durante o primeiro mandato de Trump. Trump espera expandir esses acordos para incluir a Arábia Saudita, oferecendo laços de defesa mais estreitos com os EUA. No entanto, Riad disse que não normalizará relações com Israel sem um caminho para a criação de um Estado palestino.
Rubio não visitará o Egito nem a Jordânia, aliados dos EUA que mantêm tratados de paz com Israel, mas rejeitaram a ideia de aceitar refugiados palestinos. Trump sugeriu que poderia cortar a ajuda americana a esses países caso não cooperem, o que poderia ser devastador para suas economias.
Rubio também não visitará o Catar.
Fonte: Valor