Sensível aos pobres, progressista e bem-humorado: quem foi papa Francisco | Mundo

Papa Francisco foi disruptivo em muitos aspectos da Igreja Católica.

Primeiro pontífice jesuíta; primeiro a escolher o nome de Francisco; primeiro nascido na América Latina; primeiro a visitar terras nunca antes tocadas por um pontífice, do Iraque à Corsega; primeiro a assinar uma declaração de fraternidade junto com autoridades islâmicas; primeiro a buscar sinodalidade; primeiro a atribuir funções de liderança e responsabilidade a mulheres e leigos na Cúria; primeiro a abolir o segredo pontifício acerca dos casos de abuso sexual; e o primeiro a escrever o um amplo documento em defesa da preservação do meio ambiente.

“E agora iniciamos este caminho, bispo e povo”, foram as primeiras palavras pronunciadas por Jorge Bergoglio da Sacada Central da Basílica de São Pedro, na noite de 13 de março de 2013.

Para os presentes, o recém-eleito, escolhido pelo colégio dos cardeiais, originário “do fim do mundo”, pediu uma bênção. Com o povo, ele quis também recitar uma Ave Maria.

A proximidade com o povo, um legado do ministério realizado na Argentina, foi manifestada pelo papa em todos os anos seguintes de várias maneiras: com visitas aos funcionários do Vaticano, com incentivo às obras de misericórdia no Jubileu de 2016, com as celebrações da Quinta-feira Santa em prisões, com celebrações nas igrejas da periferia de Roma. E manifestou essa proximidade em todas as viagens apostólicas, começando pela primeira ao Brasil, em 2013, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

O pontífice argentino completou 47 peregrinações internacionais, feitas com base em eventos, convites de autoridades, missões a serem realizadas ou algum “movimento” interno, como ele mesmo revelou no voo de volta do Iraque.

A obstinação o levou ao Iraque, a mesma que em 2015 o levou a Bangui, a capital da República Centro-Africana. No país africano, onde disse que queria nem se fosse para saltar “de paraquedas”. Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia, em 2016, que não foi no Vaticano, mas em uma das regiões mais pobres do mundo.

Percorrendo as viagens apostólicas e as visitas pastorais do pontífice, não se pode esquecer a primeira viagem fora de Roma, à pequena ilha de Lampedusa, com o oferecimento de coroa de flores lançada ao Mar Mediterrâneo em homenagem à aqueles que morreram tentando a travessia de maneira ilegal e precária.

Nos doze anos de pontificado, ficaram marcadas também a viagem à Terra Santa (2014); à Suécia, em Lund (2016), para as celebrações do 500º aniversário da Reforma Luterana; ao Canadá (2022) com o pedido de perdão às populações indígenas pelos abusos sofridos por representantes da Igreja Católica. Também, a Cuba e aos Estados Unidos (2015), uma viagem para selar o estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países. Um evento histórico para o qual Francisco passou meses, enviando cartas a Barack Obama e Raúl Castro, instando-os a “iniciar uma nova fase”.

Em todos esses anos não faltaram críticas contra o papa argentino, que comentou os ventos contrários com o seu bom humor característico.

Nesses anos de muitas atividades, com raríssimos momentos de descanso, não faltaram momentos difíceis, como os problemas de saúde, entre as operações no Hospital Gemelli em 2021 e 2023. A internação no mesmo hospital, novamente em 2023, as complicações respiratórias, e depois os resfriados, as gripes e as dores no joelho que o forçaram a usar a cadeira de rodas nos últimos três anos.

Jorge Mario Bergoglio foi um papa que será recordado com uma imagem: ele, sozinho, mancando, na chuva, no silêncio geral do lockdown e com o único som de fundo de uma ambulância, enquanto atravessa a Praça São Pedro na pandemia de Covid-19. Com todos aflitos, Francisco falou de esperança e de fraternidade: “Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo todos chamados a remar juntos”.

Nascido na capital argentina, Buenos Aires, em 1936, Jorge Mario Bergoglio é filho de imigrantes italianos. Bergoglio diplomou-se como técnico químico, e depois escolheu o caminho eclesial. Em 11 de março de 1958, ele entrou no noviciado da Companhia de Jesus, os Jesuítas.

De 1964 a 1965, foi professor de literatura e psicologia no colégio da Imaculada de Santa Fé. Em 1966, ensinou essas mesmas matérias no colégio do Salvador, em Buenos Aires.

Em 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote por Dom Ramón José Castellano. Em 22 de abril de 1973, emitiu a profissão perpétua solene nos jesuítas e, logo depois, foi mestre de noviços na Villa Barilari em San Miguel

Em 31 de julho de 1973, dia Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, papa Francisco foi eleito provincial dos jesuítas da Argentina, cargo que desempenhou durante seis anos, durante a sanguinária ditadura militar da Argentina

No mês de março de 1986, partiu para a Alemanha, onde concluiu a tese de doutoramento. Depois, o Cardeal Antonio Quarracino, Arcebispo de Buenos Aires à época, convidou-o a ser o seu estreito colaborador em Buenos Aires. Assim, a 20 de maio de 1992, São João Paulo II nomeou-o bispo titular de Auca e Auxiliar de Buenos Aires. No dia 27 de junho, recebeu na catedral a ordenação episcopal. Como lema, escolheu Miserando atque eligendo e no seu brasão inseriu o cristograma IHS, símbolo da Companhia de Jesus.

Em 3 de Junho de 1997, foi promovido a arcebispo coadjutor de Buenos Aires. Nove meses depois, com o falecimento do Cardeal Quarracino, sucedeu-lhe em 28 de fevereiro de 1998. Três anos mais tarde, no Consistório de 21 de Fevereiro de 2001, São João Paulo II criou-o cardeal. Em abril de 2005, participou no conclave durante o qual foi eleito Bento XVI.

O então Cardeal Jorge Mario Bergoglio participou da V Conferência do CELAM, em Aparecida, em 2007, e foi relator do Documento de Aparecida. É autor dos livros Meditaciones para religiosos (1982), Reflexiones sobre la vida apostólica (1986) e Reflexiones de esperanza (1992).

Fonte: Valor

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